quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Plantação virtual de maconha ultrapassa 1,8 mi de usuários no Facebook

Folha Online Cansou da caretice virtual de plantar milho, ordenhar vacas ou alimentar patos no FarmVille? Um aplicativo bem menos ortodoxo promete agitar o seu Facebook.

O Pot Farm (fazenda de maconha, em tradução livre), cujo número de usuários ativos ultrapassa 1,8 milhão, permite que o usuário crie um avatar e plante a erva livre e virtualmente. O aplicativo, no entanto, não é recomendado a menores de 21 anos.
Não faltam bom humor e irreverência para o jogo.

O usuário começa o "negócio" em uma área aberta e, gradativamente, vai adquirindo e barganhando objetos --e, é claro, maconha.
À medida que vai progredindo no jogo, o espaço virtual da "fazenda" vira algo similar a uma comunidade hippie, com adereços e plantas geralmente vinculados a esse estilo de vida.
Há um vilão alucinado, contudo: ele se chama Ranger Dick, e pode atacar --e fumar-- toda a plantação do usuário.
Lançado em meados de maio, o aplicativo é desenvolvido por um internauta que se identifica pelo codinome Uncle Floyd.
E qual o diferencial principal entre o Pot Farm e o FarmVille?
"Em Pot Farm suas colheitas nunca morrem, mas se você cultivar certas plantas sem o ter certeza de que elas estão protegidas, você pode ser acertado por Ranger Dick!", declarou Uncle Floyd, em entrevista ao site SocialTimes.





quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Uma foto para ficar

Revista Piauí
A foto que acompanha este artigo é um dos melhores retratos tirados num campo de futebol. A partida acabou, há um vencedor e um perdedor. Aliás, a imagem é um símbolo da Copa do Mundo, o prêmio máximo do futebol, passando de um homem a outro.

Mas você vê alegria e tristeza? Ou vê nesse abraço, no sorriso e nos olhos desses homens algo que vai além de um vencedor e um perdedor? A foto é de quarenta anos atrás, e há grandes chances de ela continuar viva pelos próximos quarenta.
Foi tirada durante a Copa de 70, no México, quando a Inglaterra, a campeã de 1966, perdeu o troféu. O Brasil venceu por 1 a 0 em Guadalajara e foi em frente até vencer o torneio, jogando com o que talvez fosse o melhor time de futebol da história.
Acima de tudo, a foto captou o respeito mútuo entre os atletas. Enquanto eles trocavam camisas, abraços e olhares, o espírito esportivo inundava a imagem.
Nada de malícia ou de comemoração velada da parte de Pelé.
Nada de tristeza ou derrotismo da parte de Bobby Moore.
Bobby Moore, para muitos o melhor zagueiro da história da Inglaterra, morreu de câncer em 1993. Essa foto era a favorita de sua carreira, ao longo da qual foi capitão da seleção por noventa vezes, incluindo o dia em que a Inglaterra ganhou a Copa.
Pelé, tricampeão do mundo e o jogador mais completo da história, ainda considera essa foto como um momento determinante de sua vida.
“Bobby Moore era meu amigo e o melhor zagueiro que enfrentei”, declarou ele quando o inglês morreu. “O mundo perdeu um de seus melhores jogadores e um cavalheiro muito honrado.”
E agora o mundo perdeu o terceiro homem para quem essa imagem tinha grande significado.
John Varley, o fotógrafo, morreu em sua cidade natal, Yorkshire, no norte da Inglaterra. Varley, que tinha 76 anos, era um fotojornalista com um olhar sensível para o que estava além do noticiário.
Seu jornal, o Daily Mirror de Londres, enviou-o a guerras e a desastres naturais. E ele exerceu bem sua função. Numa época em que não havia câmeras digitais ou foco automático, ele tinha o que outros fotógrafos descreveram como um instinto para estar onde as coisas podiam acontecer, e paciência para esperar o momento crucial.
O abraço entre Moore e Pelé foi um desses momentos. Olhe de novo para a foto. Volte em pensamento para 1970, quando os jogadores estrangeiros na liga inglesa – ou em qualquer outra – eram raros.
Na época, havia desconfiança em relação aos jogadores negros, algo ridículo quando se considera que Pelé era uma estrela mundial desde 1958. Isso se baseava na crença de que os não brancos careciam de vigor e de força física.
Essa foto ajudou a quebrar o preconceito. O encontro entre o inglês loiro de olhos azuis e o maior jogador da época, Pelé, ambos sem camisa, transcendia aquele absurdo.
Para tirar o retrato, Varley aproveitara uma folga de seu trabalho normal.
O contrato permitia férias a cada quatro anos, e Varley usou-as para assistir às Copas de 1966 até 1982.
Conheci-o nos últimos anos dessas empreitadas. Ele era um companheiro de viagem calado, tinha um senso de humor esquisito e, como muitos fotógrafos da época, era discreto.
Há quarenta anos, não era possível fazer fortuna como fotógrafo esportivo. O trabalho de Varley ganhou reconhecimento através da foto de um policial, com água até a cintura, salvando um bebê de uma enchente num vale inglês.
Ele tirou fotos memoráveis de crianças sofrendo durante a Guerra de Biafra –
a guerra civil da Nigéria – e também o retrato simbólico de uma igreja cercada de arame farpado no violento bairro de Ardoyne, em Belfast, durante o conflito na Irlanda do Norte.
E, voltando aos esportes, foi retratar os bastidores de uma luta de boxe e tirou um instantâneo angustiante do derrotado Richard Dunn, a cabeça no chão do chuveiro.
Ao saber da morte de Varley, telefonei para um fotógrafo americano, na Califórnia. “Eu tenho essa foto de Moore e Pelé”, ele disse. “Sempre gostei dela, mas nunca soube quem era o fotógrafo.”
Típico. O homem por trás da câmera é geralmente anônimo, mesmo entre seus próprios colegas. Mas o que seria dos cadernos de esportes dos jornais sem homens como John Varley?

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Nosso sistema é burro – precisamos de um outro

Por Denis Russo Burgierman

Imagine que tem dois cestos de frutas em cima de uma mesa. Um deles contém uma centena de maçãs vermelhas (é o da foto abaixo). O outro tem a mesma quantidade de frutas, mas elas são variadas: bananas, ameixas, peras, goiabas, melões, graviolas, mamões, cerejas. E maçãs. A pergunta é: qual dos dois cestos é o mais rico?

Do ponto de vista da biologia não há muitas dúvidas de que o mais rico é o segundo. A evolução, que é o motor da vida no planeta, favorece a diversidade. É assim que ela opera: criando mais e mais variações. Num ambiente rico – onde há muita energia e nutrientes – a diversidade será certamente imensa. É por isso que florestas tropicais têm tantas espécies. Pouca diversidade é sinal de crise, de carência de nutrientes, de pobreza.

Mas, desde a revolução industrial, a humanidade apostou no caminho oposto: o da supressão de diversidade. Isso porque, com menos opções, fica mais fácil padronizar processos e produzir em grande escala, reduzindo custos e aumentando margens de lucros.

Há sobre a Terra algo como 80.000 plantas comestíveis. Mas a humanidade usa apenas 30 delas para suprir 90% das calorias da dieta. Há pelo menos 1 milhão de espécies de animais, mas apenas 14 delas compõem 90% do nosso cardápio. Metade de todos os medicamentos que existem no mundo vêm de substâncias naturais e, ainda assim, só testamos 1% das plantas do mundo para determinar se elas têm potencial farmacêutico.

Pegue um hectare da Amazônia – o equivalente a um campo de futebol. Em média, nesse espacinho, há 200 espécies diferentes de árvores, 1.300 espécies de aves, 1.400 espécies de peixes, 300 espécies de mamíferos. Estou falando apenas de um hectare: no hectare ao lado as árvores, os peixes, as aves e os mamíferos são outros, muitas vezes completamente diferentes. Numa só planta amazônica, é possível encontrar até 80 espécies diferentes de formiga.

Até hoje, para explorar esse hectare, seguimos a lógica industrial: cortamos tudo, separamos as pouquíssimas espécies de madeira com valor comercial e queimamos o resto. No lugar, tentamos fazer com que haja uma espécie vegetal só – geralmente capim para alimentar uma única espécie animal, a vaca.

Interessante é que a estratégia de suprimir diversidade está presente em várias esferas do nosso sistema econômico, não só no uso da terra. Veja por exemplo as políticas de recursos humanos das grandes empresas. Lembro que fiz um curso de “gestão de pessoas”. O consultor de RH, supostamente um psicólogo, nos ensinou que só há quatro tipos de pessoas e que nosso trabalho como gestor é identificar de que tipo cada um na equipe é e tratá-lo propriamente.

Outro exemplo: a lógica de nossas cidades é pensar em deslocamentos de grandes grupos de pessoas. Para isso se criam linhas de ônibus e vias para carros. Mas não se leva em conta que pessoas diferentes gostam de se deslocar de formas diferentes, e não se abre espaço para alternativas. Cidades que têm grande diversidade de opções de transporte, como San Francisco e Copenhague, tendem a ter menos trânsito e um espaço urbano mais feliz.

O que estamos fazendo em todas essas esferas é a mesma coisa. Pegamos cestos cheios de frutas variadas, separamos as maçãs e jogamos o resto fora. É desperdício. É abrir mão da riqueza para viver com escassez. É pouco inteligente. Com o avanço tecnológico que alcançamos, em especial no que se refere às tecnologias da informação, poderíamos fazer melhor que isso. Poderíamos inventar um sistema que preserve a diversidade enquanto produz.

Excesso de José Dirceu - Diogo Mainardi

“No fim, Dirceu voltou a tratar da imprensa. Ele antecipou que pretende dizer o seguinte, quando Dilma estiver eleita: ‘Ó, não adiantou nada. Estamos aqui mais quatro anos’. Dirceu está certo. Ó, não adiantou nada”

O problema do Brasil é o excesso de liberdade da imprensa. Quem disse isso, em outras palavras, durante um encontro com sindicalistas baianos, foi José Dirceu. Eu digo o contrário. Eu digo que o problema do Brasil é o excesso de liberdade de José Dirceu.

Duas semanas atrás, em sua página no Twitter, Indio da Costa publicou uma fotografia que resume perfeitamente o excesso de liberdade de José Dirceu. Ele está no Rio de Janeiro, na pista do Aeroporto Santos Dumont, embarcando num jato particular, um Citation 10 com o prefixo PT-XIB. O excesso de liberdade da imprensa permite indagar quem sustenta o excesso de liberdade de José Dirceu.

O plano de José Dirceu para eliminar o problema do excesso de liberdade da imprensa tem duas partes. A primeira parte é a montagem de um sistema estatal que controle a atividade das empresas jornalísticas e que puna qualquer tentativa de fazer aquilo que ele chamou de “abuso do poder de informar”. Isso mesmo: Conselho Federal de Jornalismo. Isso mesmo: Ancinav. Isso mesmo: Confecom.

A segunda parte do plano de José Dirceu é aliar-se a empresários do setor da imprensa exatamente como o PT se aliou a José Sarney e a Renan Calheiros no Congresso Nacional. “O momento histórico que estamos vivendo”, segundo José Dirceu, é ruim para o “movimento socialista internacional”. Por isso, em vez de tentar fazer seu próprio jornal, o PT deve continuar negociando com alguns grandes grupos. Na prática, isso significa garantir o excesso de liberdade do bispo Edir Macedo e da Rede Record.

No mesmo encontro em que apresentou seu plano para eliminar o excesso de liberdade da imprensa, José Dirceu apresentou também seu plano para a reforma política. De acordo com ele, é necessário duplicar ou triplicar imediatamente a quantidade de dinheiro público destinada aos partidos. Ele advertiu que, sem esse dinheiro, o PT prosseguirá com suas práticas de “caixa dois, corrupção, nomeação dirigida, licitação dirigida, emenda dirigida, superfaturamento e tráfico de influência”.

José Dirceu disse que, no poder, o PT valorizou o servidor público. Claro que é verdade: o filho de Erenice Guerra valorizou-se, o outro filho de Erenice Guerra valorizou-se, o irmão de Erenice Guerra valorizou-se, a irmã de Erenice Guerra valorizou-se. José Dirceu falou até sobre a saúde de Dilma Rousseff, desmentindo o que ela própria diz sobre o assunto: “Ela passou por um câncer. E sente muito isso ainda”.

No fim de seu encontro com os sindicalistas baianos, José Dirceu voltou a tratar da imprensa. Ele antecipou que pretende dizer o seguinte, quando Dilma Rousseff estiver eleita: “Ó, não adiantou nada. Estamos aqui mais quatro anos”.

José Dirceu está certo. Ó, não adiantou nada.

MANIFESTO EM DEFESA DA DEMOCRACIA - Largo São Francisco

Em uma democracia, nenhum dos Poderes é soberano.

Soberana é a Constituição, pois é ela quem dá corpo e alma à soberania do povo.

Acima dos políticos estão as instituições, pilares do regime democrático. Hoje, no Brasil, os inconformados com a democracia representativa se organizam no governo para solapar o regime democrático.

É intolerável assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais.

É inaceitável que a militância partidária tenha convertido os órgãos da administração direta, empresas estatais e fundos de pensão em centros de produção de dossiês contra adversários políticos.

É lamentável que o Presidente esconda no governo que vemos o governo que não vemos, no qual as relações de compadrio e da fisiologia, quando não escandalosamente familiares, arbitram os altos interesses do país, negando-se a qualquer controle.

É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em fingir honestidade.

É constrangedor que o Presidente da República não entenda que o seu cargo deve ser exercido em sua plenitude nas vinte e quatro horas do dia. Não há “depois do expediente” para um Chefe de Estado. É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura. Ele não vê no “outro” um adversário que deve ser vencido segundo regras da Democracia , mas um inimigo que tem de ser eliminado.

É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses.

É repugnante que essa mesma máquina oficial de publicidade tenha sido mobilizada para reescrever a História, procurando desmerecer o trabalho de brasileiros e brasileiras que construíram as bases da estabilidade econômica e política, com o fim da inflação, a democratização do crédito, a expansão da telefonia e outras transformações que tantos benefícios trouxeram ao nosso povo.

É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de encabrestar o Senado. É um escárnio que o mesmo Presidente lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário.

Cumpre-nos, pois, combater essa visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe conferem licença para rasgar a Constituição e as leis. Propomos uma firme mobilização em favor de sua preservação, repudiando a ação daqueles que hoje usam de subterfúgios para solapá-las. É preciso brecar essa marcha para o autoritarismo.

Brasileiros erguem sua voz em defesa da Constituição, das instituições e da legalidade.

Não precisamos de soberanos com pretensões paternas, mas de democratas convictos.

Do Blog: Lula e o PT, mesmo que ganhem as eleições não conseguirão transformar o Brasil numa Venezuela. O povo sairá às ruas e mostrará que a democracia é sagrada e que a loiberdade de expressão é sagrado em um país que quer abolir os corruptos e se tornar mais justa e igualitária.

Manifesto já tem mais de 18.500 assinaturas

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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Vejam este projeto - muito legal

http://www.flickr.com/photos/12588351@N02/sets/72157623192662899/show/

Hoje de manhã vi este grafite incrível no beco do Batman, na Vila Madalena, em São Paulo.
Me fez pensar. Você já notou que não se vê mais crianças na rua em São Paulo? Pelo menos não no centro expandido.
Comento isso por aí, parece que muita gente acha normal. Com essa violência, com esse trânsito, criança não pode mesmo ficar na rua. E elas têm videogames ótimos e super educativos. Elas nem querem mesmo sair.
Pois tem uma coisa que eu preciso dizer: não é normal.
Crianças pequenas têm praticamente todas os neurônios que terão na vida adulta. A diferença entre elas e nós é que elas têm pouquíssimas conexões entre os neurônios. Desconectados, eles não são capazes de fazer nada muito complexo. Em compensação, as desconexões tornam o cérebro imensamente flexível, capaz de aprender qualquer coisa. Com o tempo, essas conexões – as sinapses – vão se formando e a mente vai se tornando capaz de coisas impressionantes.
Para que as sinapses se formem, é preciso estímulos. Se o cérebro tem que lidar com uma situação na tenra infância, torna-se cada vez melhor em tarefas do mesmo tipo. Se ele não treina, não aprende. E, depois que chega a idade adulta, é tarde demais – a maleabilidade do cérebro vai embora.
Pois então, crianças que não saem à rua estão simplesmente abrindo mão de uma imensa quantidade de estímulos. Tem uma pesquisa dos anos 1990, do urbanista americano Bruce Appleyard, que mostra que meninos e meninas que vão de carro para a escola são menos capazes de desenhar mapas e de entender abstrações espaciais. Ao negar-lhes a rua, estamos simplesmente impondo limitações cognitivas aos nossos filhos. Em nome da segurança deles (um valor obviamente positivo), estamos tornando-os menos capazes de pensar o espaço e de se situar no mundo.
Pior ainda: ao fazer isso, restringimos o círculo social das nossas crianças. Elas interagem com menos gente e todas são muito parecidas entre si (é na rua que as diferentes classes sociais se encontram). Isso também é uma falta de estímulo, e também determina indivíduos que, quando crescem, serão menos capazes de conviver com a diversidade. Num mundo globalizado, essa habilidade é fundamental para ter sucesso.
Outro efeito é que, por passar menos tempo nas ruas, nossas crianças tornam-se menos felizes. Uma pesquisa de 2008 (Stutzer & Frey) mostra que, estatisticamente, pessoas que passam muito tempo dentro de carros são mais infelizes e têm menor capacidade de encontrar sentido na vida.
Resolver esse problema, na minha opinião, deveria ser a maior preocupação do prefeito de São Paulo. Para mim, se uma cidade reduz a capacidade cognitiva e a felicidade de suas crianças, não se pode dizer que seja uma cidade boa. Nada pode ser mais importante que isso.
Daqui a 4 anos, haverá Copa do Mundo no Brasil. A abertura, aparentemente, será em São Paulo.
Gente do mundo inteiro virá para cá. Eles vão andar pelas ruas de São Paulo e vão notar uma coisa: não há crianças brincando na rua.
Outro dia conheci alguns jovens arquitetos que têm um projeto interessante que lida com essa questão. A ideia básica é criar a “linha verde”, uma rede de parques lineares, construídos no meio de ruas secundárias, cercados de árvores, com uma grande ciclovia e vários espaços de lazer (cinemas, mesas de jogos, bibliotecas, quiosques, futebol, vôlei, taco, bocha). Essa linha verde ligaria todas as atrações do centro expandido da cidade – museus, estádios, praças e parques, monumentos, ruas comerciais. Ligaria também estações do metrô e poderia ser um bom caminho para chegar de qualquer lugar a qualquer lugar no centro expandido. Seria um espaço público, no qual a cidade se encontraria.
O projeto não sairia muito caro e seria viável ter o sistema basicamente pronto a tempo para a Copa. Os arquitetos nem fazem questão de ser remunerados: ficariam satisfeitos em ver a ideia implantada. A cidade não perderia nenhuma pista de circulação para os carros – só teríamos que abrir mão de vagas de estacionamento no meio-fio.
Não sei você, mas eu acho que a felicidade das nossas crianças vale mais do que o espaço para estacionar o carro de alguém. Voto em implantarmos esse projeto.
Prefeito, você tem uma ideia melhor para lidar com esse problema?

Por Denis Russo Burgierman

Editorial do Estadão - A política do deboche

Quanto mais se acumulam as evidências de que o PT é o mentor do crime continuado da devassa na Receita Federal, de dados sigilosos de aliados e familiares do candidato presidencial do PSDB, José Serra, tanto mais o presidente Lula apela para o escárnio. É assim, desenvolto diante da exposição das novas baixezas de sua gente, que ele procura desqualificar as denúncias de que as violações tinham a única serventia de reunir material que pudesse ser utilizado contra os adversários da candidata governista, Dilma Rousseff.
Do mensalão para cá, essa atitude só se acentuou. No escândalo da compra de votos no Congresso Nacional, em 2005, ele ficou batendo na tecla de que não sabia de nada e que, de mais a mais, o que a companheirada tinha aprontado - diluído na versão de que tudo se resumia a um caso de montagem de caixa 2 - era o que se fazia comumente na política brasileira. Depois, propagou e mandou propagar a confortável teoria de que as acusações eram parte de uma “conspiração das elites” para apeá-lo do poder. Mas não chegou a zombar acintosamente das revelações que iriam ficar gravadas na história de seu partido.
Já no ano seguinte, quando a polícia detonou a tentativa de um grupo de petistas, entre eles o churrasqueiro preferido de Lula, de comprar um falso dossiê contra o mesmo José Serra, então candidato a governador de São Paulo, o presidente incorporou ao léxico político nacional o termo “aloprados” com que, para mascarar a gravidade do episódio, se referiu aos participantes da torpeza. Agora, enquanto escondia a sua escolhida - acusada pelo tucano como responsável, em última instância, pela fabricação de novo dossiê com os documentos subtraídos do Fisco -, o presidente se abandonou ao cinismo.
No fim da semana, em um comício em Guarulhos, na Grande São Paulo, a que Dilma não compareceu, ele acusou Serra de transformar a família em vítima. Ou seja, o que vitimou a filha do candidato não foi a comprovada captura de suas declarações de renda por um personagem do submundo - cuja filiação ao PT só não se consumou por um erro de grafia de seu nome -, mas o “baixo nível” da campanha do pai, que tratou do escândalo no horário de propaganda eleitoral. E ele o teria feito porque “o bicho está em uma raiva só” diante dos resultados desfavoráveis das pesquisas eleitorais. “É próprio de quem não sabe nadar e se debate até morrer afogado”, desdenhou.
O auge da avacalhação - para usar uma palavra decerto ao gosto do palanqueiro Lula - foi ele perguntar retoricamente: “Cadê esse tal de sigilo que não apareceu até agora? Cadê os vazamentos?” Se é da filha de Serra que ele falava, o sigilo vazou para os diversos blogs lulistas que publicaram informações a seu respeito que só poderiam ter sido obtidas a partir do acesso ilícito aos seus dados fiscais. E o presidente sabe disso desde janeiro, quando o ainda governador Serra o alertou para a “armação” contra seus familiares na internet. Confrontado com o fato, Lula disse, sem ruborizar-se, ter coisas mais sérias para cuidar do que das “dores de cotovelo do Serra”.
Se, no comício, a sua pergunta farsesca tratava das outras pessoas ligadas ao candidato, como, em especial, o vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, o sigilo vazou para membros do chamado “grupo de inteligência” da candidatura Dilma. No caso de Eduardo Jorge, aliás, a invasão não se limitou à delegacia da Receita em Mauá, no ABC paulista, a primeira cena identificada do crime. Na última quinta-feira, o Estado revelou que um analista tributário lotado na cidade mineira de Formiga, Gilberto Souza Amarante, acessou dez vezes em um mesmo dia os dados cadastrais do tucano. O funcionário é petista de carteirinha desde 2001.
Ninguém mais do que Lula, com o seu imitigado deboche, há de ter contribuído tanto para a “maria-mole moral” em que o País atolou, na apropriada expressão do jurista Carlos Ari Sundfeld, em entrevista no Estado de domingo. Nem a bonança econômica nem os avanços sociais podem obscurecer o perverso legado do lulismo. Por minar os fundamentos das instituições democráticas, essa é hoje a mais desafiadora questão política nacional.

Do Blog: não se trata aqui de defender candidatura A ou B, e sim de defender o futuro da democracia do Brasil, dos direitos de expressão e liberdades de ir e vir de cada cidadão. O que o governo PTista está fazendo é um afronta ao povo e um atentado à inteligência de milhares de brasileiros que gastam seu dinheiro e seu tempo lendo jornais e revistas, assistindo TV e ouvindo rádio, navegando na internet e discutindo com amigos, os acontecimentos políticos, econômicos e sociais do nosso país, para que assim instruídos, não sejam manipulados pelos corruptos de sempre. Infelizmente uma parcela grande da população não se preocupa em ler e se atualizar para não ser enganado e assim acreditam neste governo e principalmente neste presidente que usa de seus carisma para matar aos poucos a democracia brasileira com suas mentiras e jogos para se perpetuar no poder. É uma pena, este país não merece os governos que tem.

Celular vai ouvir e traduzir conversas em várias línguas, diz CEO do Google

Portal Terra
Eric Schmidt apresentou programa em feira de tecnologia na Alemanha.
CEO diz que software vai ajudar na busca da 'humanidade aumentada'.
O presidente do Google, Eric Schmidt, apresentou nesta terça-feira uma tecnologia capaz de traduzir, em tempo real, conversas feitas entre duas pessoas que falam línguas diferentes. O programa, compatível com o sistema operacional para celulares Android, baseado em Linux, foi demonstrado durante palestra de Schmidt na IFA, feira de eletrônicos em Berlim, na Alemanha.
Schmidt já havia indicado que o Google trabalhava no desenvolvimento de um "tradutor universal" de voz em fevereiro, quando participou do Mobile Word Congress 2010, evento que reuniu empresas ligadas ao setor de telefonia celular em Barcelona, na Espanha.
Segundo o executivo, a criação de um telefone que funcione como "peixe de Babel" (referência ao tradutor automático do universo fictício do "Guia do Mochileiro das Galáxias", do escritor britânico Douglas Adams) é o próximo passo na busca do que ele chamou de "humanidade aumentada".
"Em breve, os computadores vão trabalhar por nós e vão tornar possível que façamos coisas que realmente queremos fazer", disse o executivo. "Essas mudanças estão acontecendo rapidamente, e as sociedades ainda não estão realmente prontas para o que vai acontecer quando todo mundo estiver on-line, publicando informações sobre o que está acontecendo ao redor de cada um", afirmou Schmidt. "Em geral, essa evolução é muito importante, ela dá poder aos cidadãos."
Em um primeiro momento, o programa será capaz de ouvir e traduzir - lentamente, por enquanto - frases ditas por duas pessoas, em línguas diferentes, no mesmo aparelho. Ao conversar, por exemplo, com uma pessoa que só fala e entende alemão, um usuário brasileiro diria sua frase em português e ouviria o aparelho traduzir o trecho para alemão. Depois, o interlocutor diria uma frase em alemão, que seria traduzida para o português pelo telefone.
Depois, diz Schmidt, o plano é fazer com que essa tradução seja possível em ligações telefônicas

Por um planeta em equilíbrio

Para formar cidadãos conscientes, a escola deve atualizar conceitos e modificar práticas em relação às questões ambientais
Diariamente, os noticiários divulgam reportagens sobre a situação ambiental em diferentes regiões do planeta, revelando o impacto das ações humanas sobre o equilíbrio da Terra. A temática dessas notícias já está presente nas escolas e nas salas de aula brasileiras. Sabe-se, porém, que não basta falar sobre elas. É preciso que a equipe escolar tenha informações atualizadas, alie o discurso à prática e dê oportunidades cotidianas para que os alunos, os funcionários e a comunidade incorporem novas atitudes voltadas à preservação da natureza. Para ajudar professores e gestores a cumprir essas tarefas, a revista NOVA ESCOLA lançou a edição especial Meio ambiente com reportagens, artigos e infográficos que mostram o que há de mais recente sobre água, energia, clima, consumo e sustentabilidade.
Os especialistas consultados são unânimes em afirmar que a abordagem de tais conteúdos deve ser feita sempre de maneira contextualizada. "O professor não tem de trabalhar em sala algo discutido em termos mundiais, mas aquilo que possa fazer diferença na vida dos estudantes e da comunidade", afirma Sueli Furlan, docente da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e selecionadora da área de Geografia do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.
Isso não quer dizer que nunca serão feitas abordagens mais abrangentes sobre a questão ambiental. O desafio é pensar globalmente e agir localmente. Por exemplo, participar de um projeto de reflorestamento do entorno da escola pode tornar a discussão sobre o desmatamento da Amazônia mais significativa para crianças e adolescentes que moram no sul do país. O problema da diminuição das áreas verdes no planeta fica, assim, mais próximo ao cotidiano dos alunos, que aprendem a importância de combatê-lo e descobrem, na prática, como ajudar.
Além de apostar na contextualização dos temas ambientais, é preciso estudar e manter-se atualizado - o que, vale lembrar, não é responsabilidade apenas dos professores de Ciências e Geografia. Pesquisas sobre a água mostram que é preciso diminuir o consumo no curto prazo para barrar a ameaça de escassez e que mesmo o Brasil, dono de grandes reservas, precisa redobrar seus cuidados. "Há muito desperdício. A distribuição não combina com as necessidades da população e a poluição é um problema", diz José Galizia Tundisi, presidente do Instituto Internacional de Ecologia de São Carlos, no interior de São Paulo.
Já em relação ao aquecimento global, os pesquisadores alertam que o impacto das ações humanas sobre o clima ultrapassou os limites aceitáveis e, por isso, é mais do que hora de mudar nosso estilo de vida. "Atualmente, somos 6,6 bilhões de habitantes consumindo o que existe sobre a superfície terrestre a um ritmo superior ao da capacidade de reposição do planeta. Estima-se que consumimos 25% além do que o meio ambiente consegue repor", alerta Emerson Galvani, geógrafo e professor da faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
A abordagem desses e outros assuntos em projetos implantados na escola requer alguns cuidados:
- Tratar os recursos naturais principalmente pela ótica do consumo consciente.
- Explicar que os fenômenos da natureza só provocam tragédias em áreas ocupadas pelo homem, em vez de mostrá-los como vilões.
- Abordar as questões ambientais de maneira interligada e não falar sobre elas isoladamente.
- Promover a redução do consumo e a reutilização de produtos, e não somente o processo de reciclagem (nem sempre é vantajoso).
- Fazer discussões com base no conhecimento científico e integrar os alunos nas decisões da escola, sem impor ações sem contexto nem significado para eles.
Ficar atento a tais pontos e implantar um projeto político pedagógico que privilegie o cuidado com o meio ambiente pode parecer uma atitude pequena diante das consequências que a humanidade já causou à vida na Terra. Porém provoca um grande impacto na aprendizagem dos alunos e muda a maneira como eles se relacionam com a natureza - uma esperança para recuperar o equilíbrio do planeta.

7 livros que ferraram a humanidade (ou quase)

Abril revistas
Teóricos equivocados podem causar grandes prejuízos. Já tivemos livros que incentivavam a matança de mulheres consideradas bruxas, defendiam a inferioridade de certas nacionalidades, diziam que as mulheres eram menos inteligentes que os homens. Com a ajuda de historiadores, listamos 7 livros que, por causa de teorias equivocadas, inspiraram pessoas a cometer atos e sustentar ideias desastrosas.
Os livros não estão em nenhuma ordem particular e, é claro, foi impossível listar todos eles. Comente e diga quais você acha que faltaram.

1- “L’uomo delinqüente” (O homem delinquente), Cesare Lombroso, 1876
O médico e cientista italiano Cesare Lombroso defende, nesse livro, a teoria de que certas pessoas nasceram para ser criminosas e que isso é determinado por características físicas, como nariz adunco e testa fina, traços típicos dos judeus. A obra fez muito sucesso e influenciou o direito penal no mundo todo. Mas o problema maior foi que a obra também reforçou várias teorias racistas – principalmente o anti-semitismo nazista. O detalhe é que o próprio autor era judeu e sua intenção era simplesmente ajudar a ciência penal e jurídica. Atualmente, a teoria caiu no descrédito. Mas, mesmo assim, ainda há quem a defenda (sempre tem, né?).

2- “Mein Kampf” (Minha Luta), Adolf Hitler, 1925
O livro de Hitler tem, na verdade, 2 volumes. O primeiro foi escrito quando ele tinha 35 anos e estava preso por causa de uma tentativa de golpe de estado mal-sucedida. O segundo, inédito no Brasil, foi escrito já fora da prisão. O livro se destacou pelo racismo e anti-semitismo do autor, que via o judaísmo e o comunismo como grandes males e ameaças do mundo – o autor pretendia erradicar ambos da face da terra. A obra revela o desejo de transformar a Alemanha num novo tipo de Estado que abrigasse a raça pura ariana e que o tivesse como um líder de grandes poderes. Era um aviso para o mundo, mas na época ninguém de fora da Alemanha deu muita bola. Mein Kampf ainda hoje influencia os neonazistas.

3- “A inferioridade intelectual da mulher”, Carl Moebius, século 19. Sem tradução para o português.
Psicólogo influente em meados do século 19, Moebius escreveu esse livro seguindo idéias já bastante disseminadas desde a época de Platão e Aristóteles e defendia a inferioridade feminina e a restrição dos seus direitos. Usando pesquisas e tabelas pseudo-científicas, ele comparou o desempenho feminino em determinadas áreas intelectuais quando em disputa com homens (em um teste parecido com o vestibular de hoje). Pensadores antifeministas citavam essa obra para apoiar teses de que as mulheres não deveriam ter uma série de direitos por serem “inferiores intelectualmente”.

4- “O martelo das bruxas” ou “Malleus Maleficarum”, Jacob Sprenger, 1485
Manual de caça às bruxas que levou muita gente à fogueira, o livro foi muito influente entre as igrejas católica e protestante. Jacob Sprenger indicou uma série de procedimentos para a identificação das bruxas: se a mulher tivesse uma convivência maior com gatos, por exemplo, já era suspeita. A obra foi responsável por quase 150 anos de matança indiscriminada de mulheres. A onda só passou depois que o método científico começou a prevalecer sobre a crença religiosa cega, a partir da publicação dos estudos de Isaac Newton. Com o pessoal discutindo assuntos científicos, pegava mal ficar caçando bruxa.

5- “Essai sur l’inégalité des races humaines” (Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas), Joseph Gobineau, 1855
O livro do cientista social Gobineau virou referência obrigatória para aqueles que defendem a superioridade de algumas raças sobre as outras. O autor desempenhou por um bom tempo cargo diplomático na corte de D. Pedro II e achava o Brasil “uó” por ter tanta miscigenação. Segundo ele, a miscigenação degenera as sociedades porque piora as supostas limitações das raças inferiores (as não-brancas, para ele). A obra passou a ser usada para sustentar a legitimidade do tráfico negreiro. Sua tese foi tão aceita que até hoje existem alguns cientistas que mantém a crença na superioridade de algumas raças.

6- ” The Man Versus the State ” (O Indivíduo Contra o Estado), Herbert Spencer, 1884
Embora alguns digam que essa é uma leitura injusta do livro, ele foi utilizado para a defesa do capitalismo selvagem no século 19, principalmente nos EUA. Spencer defende que, assim como ocorre na natureza, nas sociedades humanas também prevalecem os mais aptos. Isso quer dizer que os ricos e poderosos são assim porque estão mais preparados que os pobres. O livro passou a ser usado, então, para justificar a falta de ética nas relações comerciais, com a destruição implacável da concorrência, a busca incessante por riquezas e o pouco caso com os pobres.

7- The Seduction of the Innocent (“A sedução dos inocentes”), Frederic Wertham, 1954
Ok que o livro não gerou nenhuma atrocidade, mas ajudou a disseminar ideias equivocadas a respeito de uma coisa que a gente gosta: quadrinhos. No livro, o psiquiatra alemão-americano Werthan forjou argumentos para atribuir às HQs o papel de culpadas por casos de delinquência, abandono dos estudos e homossexualidade entre crianças e adolescentes. O livro foi lançado numa época em que as HQs eram um dos gêneros de leitura mais consumidos nos EUA e até o governo pensou em proibi-los (naquele tempo, rolava uma preocupação imensa nos EUA de que os jovens estivessem sendo corrompidos por idéias comunistas). Para evitar isso, as editoras lançaram o Comics Code Authority – um código de autocensura que ainda existe e que seria um indicativo de que o material publicado não iria degenerar os jovens.

* Não incluímos livros mal interpretados, “tsá”?
Não incluímos nessa lista os livros que foram simplesmente mal interpretados. A Bíblia é um exemplo disso. O professor de filosofia da UNESP Jézio Gutierre acha que o caso com “O Capital”, de Karl Marx, também tem a ver com interpretações equivocadas. “Esse livro é um grito ético humanista e tem todas as características para ser um livro anti-atrocidade”, explica. Para ele, portanto, não se pode atribuir a essa obra os massacres que governantes socialistas promoveram.
** Fontes: Lincoln Ferreira Secco (USP), Jézio Hernani Bomfim Gutierre (UNESP), Márcio dos Santos Rodrigues ( UFMG), Adriana Romeiro (UFMG)

The Doors, por eles mesmos, em livro

Pedro Antunes – Jornal da Tarde
Em 1966, o lugar mais descolado de Los Angeles para uma banda tocar era o Whisky a Go Go, na Sunset Strip, o grande centro hippie da cidade. Para a banda recém-criada The Doors, tocar lá era um sonho. Mas, antes, eles precisavam de uma escola. E este foi o London Fog, um bar de segunda categoria, nas proximidades da famosa casa de shows.
Depois de uma estreia promissora – só com os amigos da banda, diga-se – o quarteto formado por Jim Morrison, Ray Manzarek, John Densmore e Robby Krieger conseguiu uma temporada no Fog. Nos melhores dias, 15 pessoas apareciam por lá.
Tímido, Morrison cantava de costas para a plateia, normalmente prostitutas e marinheiros. Naquele muquifo, no qual a cabeça do vocalista quase tocava o teto, aos poucos, a banda começou a se soltar. Ali, o poeta retraído Morrison começou a se tornar um ícone do rock’n’roll. Detalhe: sem saber tocar instrumento algum e inseguro quanto à qualidade da própria voz.
“Ao final daquela temporada, estávamos afiados”, conta o tecladista Ray Manzarek, no novo livro “The Doors por The Doors, do jornalista Ben Fong-Torres”. “No London Fog, ele realmente se transformou, criando coragem para enfrentar a plateia e aprimorando a sua performance”, completa John Densmore, baterista do Doors.
Quando chegaram ao Whisky a Go Go, ainda em 66, eles encontraram um problema: um repertório nada extenso. As 12 músicas próprias e outras poucas covers de blues até eram suficientes para os shows vazios no Fog, mas não lá.
A recém-criada “Light My Fire” ganhou solos e chegou aos 7 minutos de duração, o mesmo aconteceu com outras canções. Já os tenebrosos versos de “The End” surgiram em 21 de agosto daquele ano. Era uma das primeiras amostras da total falta de controle de Morrison. Ele estava atrasado para o show.
O resto da banda tocou a primeira parte da noite sem ele. Um dos proprietários deu um ultimado para a chegada do vocalista. Jim foi encontrado chapado e, então, levado ao palco. Enquanto cantava “The End” acrescentou versos que congelaram a todos: “Father… I want do kill you / Mother… I want to fuck you” (em tradução literal: “Pai, eu quero te matar / Mãe, eu quero te f…”). Assim chocaram. E assim ficaram.
A nova biografia da banda californiana, de Fong-Torres, é toda contada pelos integrantes do grupo, inclusive com entrevistas de Morrison, familiares, amigos e conhecidos. Daí seu título. O autor/narrador aparece em momentos pontuais para dar contextualizações ou colocar sua experiência pessoal como jornalista musical.
O autor também teve méritos ao inserir os comentários dos pais do vocalista, que, segundo o próprio Morrison, estavam mortos. “Ele me ligou e disse que cairia na estrada com uma banda de rock”, diz, no livro, o pai do cantor, Almirante Morrison. “Eu falei: ‘Você está no caminho errado. Vá arrumar um emprego’”. Pai e filho nunca mais se viram.
Fong-Torres foi o último jornalista a entrevistar Jim Morrison, antes da sua morte misteriosa, aos 27 anos, em 1971, em Paris. “Estamos numa encruzilhada em nossa carreira. Nos próximos cinco ou seis meses, saberemos como será nosso futuro”, disse Morrison ao jornalista, no início de 1971. Cinco meses depois, Morrison estava morto. E eternizado pelo rock e pelas polêmicas.

A Independência do Brasil decretada por uma mulher

No dia 7 de setembro é comemorado o dia da Independência do Brasil, porém, poucos sabem que este fato teve a mãozinha de uma mulher: Leopoldina Beatriz de Habsburgo, a primeira imperatriz do Brasil que viveu menos de trinta anos e nove deles em nosso país.
D. Pedro fez o ato da proclamação da Independência; contudo, não podemos excluir o direito de D. Leopoldina receber o mérito de elaborar junto à Bonifácio as manobras políticas necessárias para a libertação do nosso país, quando assumiu o comando da regência interina do Brasil no dia 13 de agosto de 1822; no dia 2 de setembro decretou a libertação do país cinco dias antes da sua proclamação.
Só nos foi possível tomar conhecimento dessa história em 1960, quando um leiloeiro de Munique, na Alemanha, anunciou a venda de oito mil cartas de Maria Luísa, irmã de D. Leopoldina (duzentas e quarenta cartas da nossa Imperatriz). Desta forma, conhecemos com mais intimidade a arquiduquesa Leopoldina que falava onze idiomas, dentre eles, o esloveno, croata, tcheco, alemão, húngaro, turco, boêmio, espanhol, italiano, português e o latim. Além disso, era conhecedora da arte heráldica e determinou que as cores do Brasil depois da independência, fossem o verde-amarelo. Sempre atuante, também ajudou a redigir os textos para D. Pedro, sendo possível neles verificar sua inicial, abaixo da assinatura do Imperador.
Se perguntarmos a qualquer brasileiro o nome de uma mulher que tenha se destacado ao lado de D. Pedro I, certamente obteremos a resposta: "Marquesa de Santos" que entrou para a história como sinônimo de suas proezas amorosas. Porém, diante deste romance, o índice de rejeição da população tomou proporções desmedidas contra o Imperador, já que D. Leopoldina era muito querida pelos súditos, pois havia conquistado a solidariedade das camadas populares. Temendo manifestações mais radicais do povo contra ele, Pedro ordenou que a Imperatriz permanecesse em cárcere privado. Ela adoeceu em decorrência de um ponta-pé desferido em seu ventre por D. Pedro, morrendo aos 29 anos.
Creio que o resgate histórico é fundamental para que o mundo moderno caminhe para a verdadeira igualdade de gênero; relembrar este fato é prestar a devida homenagem à Leopoldina, que foi exemplo de perseverança, coragem, amor e devoção ao Brasil.

Felicidade custa R$ 11 mil por mês, aponta estudo

Portal UOL
Para saber até que ponto dinheiro compra felicidade, estatísticos analisaram um banco de dados gigantesco nos EUA. Descobriram um valor a partir do qual mais riqueza não significa mais bem-estar: R$ 11 mil por mês.

"Uma renda pequena exacerba as dores emocionais associadas a problemas como divórcio, doença ou solidão", diz Daniel Kahneman, da Universidade Princeton, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2002 e coautor da nova pesquisa publicada na revista científica "PNAS".
Para ser feliz, então, o importante não é ser rico, mas sim não ser pobre, revelam entrevistas feitas com mais de 450 mil americanos.
A pesquisa funciona assim: entrevistadores pedem que as pessoas relatem a frequência com que se sentiram felizes ou sorridentes recentemente. Perguntam o mesmo com relação ao estresse. Pedem também que, em uma escala de zero a dez, digam o quanto estão satisfeitas com as suas vidas --a "nota" média dada pelas pessoas foi de 6,76. Cruzam, então, as respostas obtidas com dados sobre a vida dos entrevistados.



Assim, eles descobriram, por exemplo, que gente solitária se sente muito infeliz até em comparação com quem sofre de um problema crônico de saúde.
Ter filhos, por outro lado, traz felicidade. Mas, curiosamente, em média o efeito é menor do que o de ter um plano de saúde --ao menos em países em que o sistema público de hospitais é ruim, como os EUA e talvez o Brasil.
Surpreende também a correlação entre envelhecer e se sentir mais feliz. Aparentemente, os anos fazem com que as pessoas aprendam a lidar com as dificuldades.
O fator campeão de bem-estar, porém, é ser uma pessoa religiosa. Angus Deaton, também de Princeton, esboçou uma explicação para a Folha sobre isso.
"Quem vai à igreja faz amigos por lá, e isso tem um impacto muito bom. A religião também ajuda os fiéis a entender algumas questões mais difíceis da vida, e isso pode servir de apoio em tempos difíceis. Além disso, muitas igrejas oferecem cuidado médico ou apoio social."
A fé é o único fator que consegue até ganhar do dinheiro na busca pela felicidade.
O valor de R$ 11 mil reais, claro, serve como indicador, mas é bom ter em mente que, como ele se refere aos Estados Unidos, uma margem de erro precisa ser levada em consideração ao adaptá-lo ao Brasil --onde, ao menos em algumas cidades, o custo de vida pode ser bem diferente.
"Nós sabemos, por exemplo, que os latino-americanos costumam se sair bem em medições de felicidade", recorda Angus Deaton.

Google TV divide a tela para usuário fazer buscas enquanto assiste à televisão

Portal Uol
“Hoje em dia você não compra um computador sem navegador. Com a televisão ocorrerá o mesmo.” Com essas palavras, Brittany Bohnet, gerente de produtos do Google, introduziu a apresentação da Google TV nesta terça-feira (7), na IFA 2010. Uma das funções mais interessantes é a que divide a tela para que o telespectador continue assistindo à TV enquanto faz buscas na web.
A Google TV foi apresentada em maio deste ano, mas antes da IFA 2010 ainda não havia sido exibida em público. Antes do evento do Google, os visitantes só puderam ver -- sem qualquer tipo de teste ou interação -- um modelo de TV da Sony desenvolvido para rodar a plataforma do Google.
Convidada ao palco por Eric Schmdit, diretor-executivo do Google, Brittany mostrou o funcionamento da novidade usando um televisor ligado a um set-top box (espécie de conversor digital). Além das TVs que já sairão de fábrica com a plataforma, essas caixinhas representam outra alternativa para acesso via TV ao conteúdo disponibilizado na web.
Com um teclado sem fio, a funcionária controlou o aparelho para exibir o trailer do filme “Salt”, com Angelina Jolie. Na sequência, acessou o serviço LeanBack do YouTube, uma versão do site de vídeos que só exibe conteúdo em tela cheia. Para alegria dos adeptos aos jogos sociais, ela afirmou que será possível jogar Farmville pela TV. Serviços como Flickr (de fotos) e LastFm (de música) também serão compatíveis com a plataforma da empresa.
Por fim, foi apresentada a funcionalidade que permite acessar dois serviços de uma só vez. No Exemplo, Brittany começou a assistir ao filme “Top Gun” e fez uma busca por “Buy a Ferrari” (comprar uma Ferrari). Enquanto ela usava o Google, o filime era exibido em uma tela menor, no canto inferior direito. Há também a possibilidade de assistir a algo na TV e acessar redes sociais simultaneamente.
Os primeiros aparelhos com a Google TV serão lançados ainda este ano no mercado americano e europeu.

Abstêmio, D. Pedro 1º era "grande namorador" e andava com "amigos de reputação duvidosa"

Portal UOL
Figura central da Independência do Brasil, Dom Pedro 1º desperta paixões e dúvidas entre os historiadores. Mesmo a historiografia oficial o retrata de maneira controversa – um príncipe caprichoso, exímio músico, amante da equitação e um mulherengo inveterado. No entanto, era abstêmio.
“Dom Pedro foi um meteoro que cruzou os céus da história numa noite turbulenta. Deixou para trás um rastro de luz que ainda hoje os estudiosos se esforçam por decifrar. Viveu pouco, apenas 35 anos, mas seu enigma permanece nos livros e nas obras populares que inspirou”, descreve o jornalista Laurentino Gomes, que lançou 1822 em que faz “uma grande reportagem” sobre o processo de independência do país.
“Nasceu e morreu no mesmo quarto no Palácio de Queluz. Um quarto simbolicamente chamado ‘D. Quixote’. E não haveria local mais adequado para um personagem tão quixotesco quanto D. Pedro”, teoriza.

Dom Pedro 1º namorou até uma freira
“Além das duas mulheres oficiais – as imperatrizes Leopoldina e Amélia – teve mais de vinte amantes conhecidas, que incluíam escravas do palácio, senhoras da corte, mulheres casadas, dançarinas e atrizes, uma vendedora de louças e até uma freira do Convento da Esperança da Ilha Terceira, no Arquipélago dos Açores”, conta Laurentino, que pesquisou entre mais de 80 livros, além das 150 fontes que utilizou para escrever 1808, seu primeiro título.
Em entrevista por e-mail ao UOL Educação, Laurentino também contou que o grande amor da vida do primeiro imperador brasileiro foi a Marquesa de Santos, a paulista Domitila de Castro de Canto e Melo. “Grande namorador”, como o jornalista se refere ao primeiro imperador, ele também levou um caso com a irmã de Domitila, Maria Benedita, que depois ganharia o título de Baronesa de Sorocaba.
Com suas mulheres oficiais e as amantes, sabe-se que Dom Pedro teve pelo menos uma dúzia e meia de filhos. “Mas, curiosamente, assumiu e reconheceu todos eles, incluindo os bastardos”, diz o autor de 1822. “Dom Pedro era um pai amoroso e atento às necessidades dos filhos, como mostram as cartas e bilhetes que trocava com eles. Alguns eu reproduzo no meu livro.”

Liberal, Dom Pedro 1º admirava Napoleão
Para Laurentino, o imperador foi “um personagem à frente do seu tempo”. Admirador de Napoleão – o mesmo que fizera com que a Família Real fugisse para o Brasil em 1808 –, “tinha um discurso liberal, mas uma índole autoritária”.
“Fechou a constituinte em 1823 porque os deputados não se curvaram à sua vontade e, no ano seguinte, outorgou ao Brasil uma das constituições mais liberais e avançadas da época”, exemplifica o autor que retrata Dom Pedro como “um homem de idéias próprias e bem diferentes daquelas defendidas pelo seu pai, D. João VI, e a mãe, Carlota Joaquina”.
Questionado sobre a importância de José Bonifácio, conhecido como o Patriarca da Independência, Laurentino diz: “Com a ajuda dele, o jovem príncipe de apenas 23 anos conseguiu manter o país unido naquele momento em que os riscos de uma guerra civil e de separação das diferentes províncias eram enormes”.

"O Brasil de hoje deve sua existência à capacidade de vencer obstáculos que pareciam insuperáveis em 1822", diz Laurentino Gomes

Portal UOL
O jornalista Laurentino Gomes costuma dizer que escrever sobre a Independência do Brasil era "quase uma obrigação". Jornalista experiente e talentoso, ele é autor do famoso 1808, livro que narra as aventuras da família real no Brasil. Por que ler 1822? "Este é um livro reportagem, escrito em linguagem simples e acessível a qualquer pessoa interessada em entender um pouco melhor o Brasil de hoje", conta Laurentino.

Segundo ele, a colônia que viria a ser o Brasil, "tinha tudo para dar errado".

UOL Educação - 1822 é um livro apenas para quem gosta de histõria?
Laurentino Gomes - No livro eu mostro que em 1822 o Brasil tinha tudo para dar errado. De cada três brasileiros, dois eram escravos, negros forros, mulatos, índios ou mestiços. O analfabetismo era geral. Os ricos eram poucos e, com raras exceções, ignorantes. O isolamento e as rivalidades entre as províncias prenunciavam uma guerra civil, que poderia resultar na divisão do território, a exemplo do que já ocorria nas vizinhas colônias espanholas. Sem dinheiro, o novo país nascia falido. Curiosamente, esse Brasil improvável conseguiu se manter unido e se firmar como nação independente por uma notável combinação de sorte, acaso, improvisação, e também de alguma sabedoria. O Brasil de hoje deve sua existência à capacidade de vencer obstáculos que pareciam insuperáveis em 1822. E isso, por si só, é uma enorme vitória, mas de modo algum significa que os problemas foram resolvidos. Ao contrário. A Independência foi apenas o primeiro passo de um caminho que se revelaria difícil, longo e turbulento nos dois séculos seguintes. As dúvidas a respeito da viabilidade do Brasil como nação coesa e soberana, capaz de somar os esforços e o talento de todos os seus habitantes, aproveitar suas riquezas naturais e pavimentar seu futuro persistiram ainda muito tempo depois da Independência.

UOL - Dom Pedro 1º é de fato, o protagonista da histõria da Independência do Brasil?
Laurentino - D. Pedro foi um meteoro que cruzou os céus da história numa noite turbulenta. Deixou para trás um rastro de luz que ainda hoje os estudiosos se esforçam por decifrar. Viveu pouco, apenas 35 anos, mas seu enigma permanece nos livros e nas obras populares que inspirou. Raros personagens passaram para a posteridade de forma tão controversa. Era uma força viva da natureza.

UOL - E o Dom Pedro chefe de Estado, como era? Tinha ideias próprias ou sempre estava sob as asas de José Bonifácio?
Laurentino - Nas idéias políticas, D. Pedro foi um personagem à frente do seu tempo. Era admirador de Napoleão Bonaparte, o homem que havia obrigado seu pai, D Pedro, a fugir de Portugal. Tinha um discurso liberal, mas uma índole autoritária. Fechou a constituinte em 1823 porque os deputados não se curvaram à sua vontade e, no ano seguinte, outorgou ao Brasil uma das constituições mais liberais e avançadas da época. Depois de abdicar ao trono brasileiro, em 1831, voltou a Portugal para defender as idéias liberais numa guerra épica contra o irmão, D. Miguel, que havia usurpado o trono português em um golpe absolutista. A vitória de D. Pedro nessa guerra foi celebrada pelos liberais no mundo todo. Era, portanto, um homem que idéias próprias e bem diferentes daquelas defendidas pelo seu pai, D. João VI, e a mãe, Carlota Joaquina, que os últimos soberanos absolutos de Portugal.

UOL- Qual é a importância de José Bonifácio em todo o processo?
Laurentino - O Brasil que emergiu das Margens do Ipiranga em 1822 tem a inconfundível assinatura de José Bonifácio. Foi o grande conselheiro e braço direito de D. Pedro na Proclamação da Independência. Com a ajuda dele, o jovem príncipe de apenas 23 anos conseguiu manter o país unido naquele momento em que os riscos de uma guerra civil e de separação das diferentes províncias eram enormes. Bonifácio esteve à frente do ministério de D. Pedro por escassos dezoito meses, de janeiro de 1822 a julho de 1823, mas nenhum outro homem público brasileiro realizou tanto em tão pouco tempo. Sem ele, o Brasil de hoje provavelmente não existiria. Na Independência, Bonifácio era “um homem com um projeto de Brasil”, na definição do historiador e jornalista Jorge Caldeira. Na sua visão, a única maneira de impedir a fragmentação território brasileiro após a separação de Portugal seria equipá-lo com um “centro de força e unidade” sob o regime de monarquia constitucional e a liderança do imperador Pedro I. Foi essa a fórmula de Brasil que trinfou em 1822.

UOL - Pouco depois da Independência, iniciado o Primeiro Reinado, não demorou a ocorrer um desentendimento entre o poder Executivo, exercido por dom Pedro, e os parlamentares, de modo que nossa primeira Assembleia Constituinte foi fechada e nossa primeira Constituição outorgada (em vez de promulgada). Pode-se dizer que o estigma dos governos autoritários no país nasceu simultaneamente ao próprio país?
Laurentino - Os riscos do processo de ruptura com Portugal eram tantos em 1822 que a elite brasileira, constituída por traficantes de escravos, fazendeiros, senhores de engenho, pecuaristas, charqueadores, comerciantes, padres e advogados, se congregou em torno do imperador Pedro I como forma de evitar o caos de uma guerra civil ou étnica que, em alguns momentos, parecia inevitável. Conseguiu, dessa forma, preservar os seus interesses e viabilizar um projeto único de país no continente americano. Cercado de repúblicas por todos os lados, o Brasil se manteve como monarquia por mais de meio século. Como resultado, o país foi edificado de cima para baixo. Coube à pequena elite imperial, bem preparada em Coimbra e outros centros europeus de formação, conduzir o processo de construção nacional, de modo a evitar que a ampliação da participação para o restante da sociedade resultasse em caos e rupturas traumáticas. Alternativas democráticas, republicanas e federalistas, defendidas em 1822 por homens como Joaquim Gonçalves Ledo, Cipriano Barata e Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, este líder e mártir da Confederação do Equador, foram reprimidas e adiadas de forma sistemática.

UOL - Portugal só reconheceu a Independência do Brasil em 1825, mediante uma indenização de dois milhões de libras. Teria sido esse o primeiro “arranjo entre as elites” da história do Brasil?
Laurentino - A assinatura do tratado com Portugal, em 1825, abriu o caminho para que todas as demais monarquias europeias reconhecessem o Brasil independente. A primeira foi a Inglaterra, em janeiro de 1826. Depois, Áustria, França, Suécia, Holanda e Prússia. Os termos da negociação com Portugal, no entanto, causaram revolta entre os brasileiros e contribuíram para desgastar a imagem de D. Pedro, em especial quando se tomou conhecimento de uma cláusula secreta pela qual o Brasil se comprometia a pagar aos portugueses a quantia de dois milhões de libras esterlinas a título de indenização. Parte desse dinheiro seria destinado a cobrir empréstimos que Portugal havia contraído na Inglaterra com o objetivo de mobilizar tropas, navios, armas e munições para combater a emancipação do Brasil entre 1822 e 1823. Propriedades e outros bens portugueses confiscados durante os conflitos também seriam devolvidos aos seus donos originais. Em resumo, depois de ganhar a guerra caberia aos brasileiros ressarcir os prejuízos dos adversários derrotados. Os adversários acusaram D. Pedro de “comprar a independência”

domingo, 5 de setembro de 2010

'O País precisa de uma régua moral'

O Estadão
O Brasil está mergulhado hoje em "uma espécie de maria-mole moral". O escândalo das seguidas quebras de sigilo fiscal na Receita Federal e o modo como esta conduziu o assunto "é um sinal a mais desse fenômeno", afirma o jurista Carlos Ari Sundfeld, da Escola de Direito de São Paulo, da FGV, e da Sundfeld Advogados, em São Paulo. A maria-mole cresce quando o próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, informa, com certa naturalidade, que "não foi só o sigilo de algumas pessoas com vinculações partidárias que foi quebrado. Foi um número muito maior".

O jurista vai direto ao ponto: a administração pública, no Brasil, não conseguiu criar instrumentos de blindagem contra times, ou bandos, que buscam espaço e poder político. Como dar um fim a esses abusos e devolver a segurança aos cidadãos? Poderia ser criada, diz ele, "uma espécie de CNJ da Receita" - a exemplo do Conselho Nacional de Justiça, "que tem tido sucesso em implantar processos adequados no Judiciário".
Essa fragilidade dos controles, que expõe a cidadania a todo tipo de riscos, vem de longe. "O fato é que, na passagem da ditadura militar para a democracia, não conseguimos introduzir a liberdade como uma agenda fundamental do País, como foi feito com a estabilização econômica e o combate à pobreza."
Mas instituir novos controles não basta, adverte. É preciso que os líderes políticos "introduzam, ou reintroduzam, uma régua moral para sinalizar os limites". Coisa que "até no regime militar aconteceu, quando Ernesto Geisel deixou claro, aos grupos radicais deixados soltos por Médici, que havia limites à sua atuação". A seguir, os principais trechos da entrevista.
A sequência de abusos contra os cidadãos, com a venda de informações privadas a grupos políticos, e a forma como a Receita Federal e o Ministério da Fazenda conduziram o episódio são preocupantes. Qual o seu balanço disso tudo?
A primeira impressão é que a administração publica não conseguiu criar, ou manter, instrumentos de blindagem contra bandos e grupos políticos que buscam espaço. A administração pública tem um sistema complexíssimo, em todas as áreas, para blindar a máquina do Estado e a ação do Estado contra assaltos. O que vem ocorrendo mostra que essa blindagem contra interferências não está funcionando.

E se ela não funciona, espalha-se um sentimento de insegurança. É um caso de leis mal formuladas, que deveriam mudar?

Primeiro, temos uma ordem jurídica cuja função é garantir às pessoas os direitos que o Estado não pode de modo algum violar. Segundo, é preciso criar um sistema que impeça a violação. No entanto, e este é o terceiro fator, mesmo que haja regras e instituições adequadas, elas podem ser comprometidas pelas atitudes dos líderes do Estado. Essas atitudes revelam, por si, quais os limites de atuação da lei. Sinalizam, para os grupos internos, se o sistema vai funcionar de modo rígido ou se há espaços para amolecer o controle.

Sim, o exemplo vem de cima.

E quando há, como hoje, uma maria-mole moral, os bandos e times sentem que podem avançar, que os mecanismos de bloqueio não vão funcionar. Quando o governo, através dos líderes, assume de forma rígida uma régua moral, alertando que as leis e instituições são importantes, dá um alerta aos envolvidos. E quem são esses envolvidos? São os milhares de agentes públicos, ou outros que estão por fora mas próximos, tentando aproveitar-se. Temos no País um bom sistema constitucional, boas normas jurídicas, mas temos um problema: as lideranças não se empenham em mostrar que a lei é para valer.

É exagero dizer que, no atual momento, até o Judiciário às vezes parece acuado?

Não só o Poder Judiciário. A Justiça Eleitoral também. O Ministério Público não tem coragem de bulir com o presidente. Estamos vivendo um período em que o Judiciário e o Ministério Público se encolheram, diante do presidente da República. E por que isso acontece? Porque um avanço da parte dessas instituições tem sempre um custo político. Quando alguém age, precisa sentir que existe apoio. Se ele não é percebido, a tendência é conter um pouco a ação. E com isso não se dizem as coisas que levariam o presidente a refletir sobre seu papel.

Se o cidadão se sente vulnerável diante de órgãos como Receita Federal, Polícia Federal ou agências reguladoras, como ele pode se defender?

Para lidar com esses setores sensíveis - a coação, a tributação, a guarda de informações pessoais - temos organizações sofisticadas, reguladas por lei, com servidores escolhidos por concurso e com regime de proteção, exatamente para garantir que atuem como servidores do Estado e não de um governo. Mas Polícia Federal e Receita são instituições dentro de um governo. E é importante que eles tenham claras as diretrizes, o equilíbrio. É um tripé: o controle do governo sobre a instituição, seus controles internos e o controle externo, feito pela sociedade, independente. E, dado que trabalha com situações sensíveis, teria de ser um controle forte. O que, como vimos, no caso da Receita não existe.

Como seria o controle externo?

No caso da polícia ele já existe. A polícia nunca foi absoluta para prender pessoas, fazer o que quer com elas. À sua volta tem o Ministério Público, o Poder Judiciário, que fiscalizam e controlam seus atos. E é um controle inteiramente externo. Ele impede que a polícia, por melhor que seja, se feche dentro de si mesma, ou esteja entregue a bandos e grupos políticos. Temos assistido a episódios em que o Supremo Tribunal Federal interveio, de maneira forte, para limitar e impedir atos que não atendiam à lei. Houve uma guerra no País, recentemente, para garantir direitos de pessoas. O Judiciário enfrentou o ônus de fazer tal controle e impedir que a coisa descambasse. Não vemos isso acontecer na relação da Receita com o cidadão.

Ou seja, o País precisaria de novo órgão para domar o Leão?

Eu faria uma comparação com algo recente, e de sucesso: o Conselho Nacional de Justiça, o CNJ, no Judiciário. Foi criado para fazer esse controle externo. Mostrou-se eficaz e fez a maior reforma institucional do Estado brasileiro nos últimos tempos.

Como seria esse "CNJ fiscal"?

O CNJ é um modelo de sucesso. Teria composição mista, gente de dentro da máquina, da cúpula do governo, da sociedade, com mandato definido. E, principalmente, com poder para fazer sua própria agenda. Não precisaria alterar o sistema ou as rotinas da Receita. Apenas fortalecer a segurança do cidadão, que está perigosamente frágil. Se a Receita tivesse algo assim, no presente episódio, seria uma referência para o governo conduzir melhor a coisa. A repetição de problemas, como as quebras de sigilo, mostra que isso é uma necessidade na Receita Federal.

Por que isso não aconteceu ainda na vida financeira do País?

No Brasil o Estado ainda é muito confundido com governo. As iniciativas para dissociar um do outro são poucas, na história. O Getúlio criou o Departamento Administrativo do Serviço Público, Dasp, para difundir a ideia de carreiras do Estado. No governo Fernando Henrique, vieram as agências reguladoras. Disseminou-se uma ideia de consultas, de controles - mas não vemos isso no universo tributário. Ali tudo é regulado internamente, por normas e portarias. Creio que isso ocorre pela precariedade do nosso empresariado, que sempre entendeu que um Fisco frágil é mais fácil de moldar.

Temos um Estado forte, ou apenas, dentro dele, algumas áreas que avançam sobre o interesse público?

O que vimos é que, na passagem da ditadura militar para a democracia não conseguimos introduzir a liberdade como uma agenda fundamental do País. Tivemos a agenda da estabilização econômica, a do combate à pobreza, mas a agenda da proteção à liberdade não conseguiu ser valorizada devidamente, como ocorre nos Estados Unidos. Lá, o Estado também é forte, mas o valor da liberdade individual é absolutamente central na vida das pessoas. Na América Latina, essa ideia de liberdade pessoal é frágil. O crescimento do Estado se faz muito sobre a liberdade da sociedade.

Essa agenda frágil seria uma distorção histórica, de um País que se sentiu aliviado por livrar-se da ditadura e achou que isso já era uma coisa ótima, e pronto?

O que se pode dizer é que a própria Constituição de 1988 é muito estatista. Pode-se chamá-la de uma Constituição chapa branca. A Receita tem suas normas ali, a Petrobrás também. No dia a dia, o Estado se sente no direito de manipular o espaço de liberdade das pessoas, com grande flexibilidade e autonomia. O que aconteceu nos últimos anos? Cada vez mais a Receita, o Banco Central, a Anatel, todos os grupos que lidam com uma grande quantidade de informação, buscam reforçar seus controles internos e externos. Como se dissessem: "Confie, que a máquina proverá. Nós precisamos de todas as informações para combater o crime, para distribuir recursos, para tributar. E não se preocupe, que nós vamos fazer bom uso disso." E todas as tentativas de colocar uma barreira, em nome da liberdade, são vistas como algo negativo.

Adianta criar controles se o preenchimento de seus cargos é submetido ao aparelhamento?

Criar controles não basta, se os líderes forem adeptos dessa maria-mole moral. Você combate o aparelhamento, se quiser, reduzindo o número de cargos de nomeação política. Mas repito: é essencial que líderes do Estado se manifestem, impondo limites e direções. Faço aqui uma comparação com o período militar. O (presidente) Médici não deu ao seu "público interno" nenhuma régua moral e aconteceu o que aconteceu. Depois, sem mudar uma única regra, Ernesto Geisel introduziu esse limite no uso do poder: além deste ponto não se passa. Ali a história começou a mudar.

Culminou com a demissão de Silvio Frota do Exército, barrando o avanço da direita militar.

Exatamente. Essa é uma questão vital do debate desse atual escândalo. Se o sistema não for capaz de introduzir, ou reintroduzir, uma régua moral, um valor, cravar limites, não haverá avanços. No momento, essa é uma agenda perdida no País: a ausência de uma régua moral.


QUEM É
Carlos Ari Sundfeld, jurista da Escola de Direito de São Paulo, da FGV
Mestre em Direito Administrativo pela PUC-SP, foi um dos criadores da Escola de Direito de São Paulo da FGV, onde dá aulas. Fundou e preside a Sociedade Brasileira de Direito Público e participou de inovações legislativas como a licitação por pregão, a Lei Geral de Telecomunicações e o modelo que resultou na agência reguladora Anatel. Atuou ainda na formação das PPPs e da Lei Paulista de Processo Administrativo

Arenas-2014 valem 8 vezes os recursos anuais de habitação e o quádruplo de saneamento

Folha Online
Quando a Copa-2010 se desenrolava, as chuvas destruíram 14.316 casas em Pernambuco. Quando o Mundial-2014 acontecer no Brasil, o governo do Estado terá assumido gastos para construir um estádio que seriam suficientes para recuperar todas as moradias, com sobras.
Financiada pela União, a renovação das casas atingidas na tragédia custa, em média, R$ 30 mil. A verba estadual para a Arena Capibaribe, que terá empréstimo federal, é de R$ 464 milhões, mais de 15 mil vezes o valor de uma moradia.
Essa prioridade ao Mundial é verificada em comparação feita pela Folha entre orçamentos de oito Estados e do Distrito Federal e seus projetos de arenas.
Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Mato Grosso, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Ceará e Rio Grande do Norte investirão R$ 4,831 bilhões em seus estádios.
Esse dinheiro representa oito vezes o que os nove governos gastaram com habitação em 2009 --R$ 589 milhões. Ou seja, se mantiverem esse nível de investimento, os governos estaduais usarão para construir casas à população até 2014 a metade do dinheiro das arenas.
Há a necessidade de 5,8 milhões de habitações no Brasil, diz o governo federal.
O total de dinheiro estadual investido nessas nove arenas é ainda igual a quase quatro vezes o investimento em saneamento básico em 2009 --R$ 1,269 bilhão.
Mantida a média de gastos, os nove governos terão utilizado no Mundial valor próximo a todo o dinheiro destinado às redes de esgotos e água até 2014.
Um quarto das famílias brasileiras ainda não tem acesso ao saneamento básico, segundo dados federais.
Os recursos das arenas públicas brasileiras também se equipara a quatro vezes o investimento em gestão ambiental desses Estados em 2009 --R$ 1,170 bilhão.
Ou seja, até o Mundial-14, os nove governos devem gastar o mesmo valor com estádios e para preservar e recuperar o meio ambiente.
Estudo da Academia Nacional de Ciência dos EUA apontou o Brasil como líder de desmatamento na primeira metade desta década.
As sedes dos jogos da Copa custarão o mesmo que 13 anos de investimento dos nove Estados em esporte e lazer --instalações esportivas para a população-- em 2009.
Nos Jogos de Pequim-2008, o Brasil foi o 23º no quadro de medalhas e conquistou três ouros. Posicionou-se atrás de países como Etiópia, Belarus e Ucrânia.
Os números dos orçamentos estaduais são do Tesouro Nacional. Alguns Estados alegam que certos dados não incluem todos os seus gastos em determinado setor, pois excluem, por exemplo, as folhas de pagamentos.
Mas é fato que as informações mostram um retrato do investimento em cada área.
Assim como é uma demonstração da prioridade dada à Copa o fato de todos os empréstimos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para obras de estádios terem o status de especial, sem enfrentar fila.
Ao mesmo tempo, só 66 casas foram entregues aos desabrigados em Pernambuco. Outros desalojados esperam e recebem R$ 150 por mês para pagar aluguel.

Do Blog: É VERGONHOSO. O que pode haver de mais importante do que moradia digna e saneamento básico, o principal quando se pensa em saúde pública? Só mesmo este país de governantes corruptos e incompetentes para investir tanto dinheiro onde será desviado para tantos bolsos famintos e ambiciosos. Não se trata de ser comtra a Copa no Brasil e sim uma questão de prioridade. O que é mais importante: casa e saúde ou futebol pela TV? Atendam as necessidades básicas da população e depois façam a Copa. Porque Lula não se empenhou tanto assim para dar casa e saúde ao povo como se empenha e chora (lembram que chorou pateticamente na cerimônia de escolha da sede)para trazer a copa ao Brasil. VERGONHA.

sábado, 4 de setembro de 2010

A razão da paixão

Estadão
Um jogo fácil de entender e que nos lança num encontro com nós mesmos quando crianças. E assim vamos amando o futebol
Foi na Copa de 1978. Os Kupers, britânicos, viviam na Holanda, e o pequeno Simon, de 8 anos, amava o time laranja de Cruyff acima de todas as coisas. Mas quando os holandeses fizeram 5 x 1 sobre os austríacos ele deixou a sala aborrecido e foi chutar bola no quintal. "Que graça poderia ter um jogo tão fácil?", ele diz hoje, cavucando em suas lembranças futebolísticas mais remotas. Simon Kuper ainda não sabia: tentar enxergar o mais apaixonante dos esportes com olhos desapaixonados se tornaria algo importante para ele.
Kuper é um racional por dever de ofício. Historiador saído dos bancos de Oxford e graduado em política e economia em Harvard, por muito tempo seu negócio foi escrever na imprensa sobre as delícias do câmbio. Entediou-se. Atualmente assina uma coluna de futebol, só que no Financial Times. Aos 41 anos, continua, pois, a ver o jogo como o menino pouco dado ao sacode das goleadas. Disso nasceu Soccernomics, seu livro com o economista Stefan Szymanski, professor da Cass Business School, de Londres. Trata-se de uma análise racional, posto que econômica, do futebol mundial. Pode impacientar os apaixonados das arquibancadas, contudo trabalha os números de maneira surpreendente. A impressão é a de que, para Kuper e Szymanski, tudo no futebol tem
Ninguém melhor que um deles, portanto, para jogar alguma luz sobre a paixão por esse esporte. O que significam 100 mil pessoas nas ruas para celebrar não a maior das conquistas, mas o aniversário de 100 anos de um time? Há racionalidade por trás disso ou só um bando de loucos, loucos por ti, Corinthians? É Kuper quem responde na entrevista a seguir.

Por que somos apaixonados por futebol? O que esse esporte tem que os outros não têm?
Eu amo críquete também! A diferença é que o futebol é um jogo tão fácil de entender que as pessoas o acompanham mais de perto. Além disso, tudo gira em torno de clubes muito antigos - Corinthians, Manchester United, Ajax. A ligação com o passado torna nosso sentimento pelo esporte algo muito profundo. Os times são parte de nossas vidas, ficam conosco do berço ao túmulo. Não há nada comparado no críquete ou no tênis, e não há clubes tão antigos no basquete. Um time de futebol proporciona a sensação de continuidade. Nós crescemos, ficamos velhos, perdemos amigos, trocamos de emprego, vamos mudando ao longo da vida. Mas quando somos adultos a única coisa que nos conecta à pessoa que éramos quando tínhamos 8 anos é nosso time de futebol. O Corinthians estará sempre lá, vestindo as mesmas cores. Essa ideia de continuidade nos conforta.

É uma posição bastante emocional, e de certo modo contrária ao que há em Soccernomics. Ele é razão pura e fria. Não existe razão demais no futebol hoje em dia?
É possível ser muito emocional em relação ao futebol, sentir-se feliz quando seu time vence ou quando você vê o Messi fazer uma jogada bonita, e ao mesmo tempo pensar o futebol racionalmente. Em Soccernomics eu e Stefan Szymanski (coautor), que é economista, tentamos analisar o jogo por esse viés, o que não diminui nosso amor pelo jogo. Somos capazes de mostrar com estatísticas que os técnicos são menos importantes do que se pensa e os salários dos jogadores por si só determinam quase inteiramente os resultados numa temporada. Os técnicos são ferramentas de marketing. Stefan estudou as contas de 40 clubes ingleses entre 1978 e 1997 e descobriu que os gastos com salários explicam 92% da variação deles na tabela de um campeonato. Em suma: a equipe que mais paga, ganha.

Mas o que as estatísticas acrescentam para o torcedor que só quer ter uma tarde agradável vendo seu time jogar? A graça do futebol não está no fato de ele ser um esporte com as portas abertas para o imprevisível?
É verdade que as estatísticas sobre o que os jogadores fazem em campo não ajudam em muita coisa. Quantos quilômetros um jogador corre ou quantas divididas um zagueiro vence não são bons medidores de sua qualidade. O italiano Paolo Maldini quase nunca dividia a bola com o adversário, mas ele foi um zagueiro brilhante. Então, a sabedoria não está nessas estatísticas de dentro do campo. Mas pode ser importante saber que o sucesso de um clube na temporada não está necessariamente ligado ao valor que ele gastou em transferências de jogadores. Ou que é irracional esperar que a Inglaterra vença uma Copa do Mundo, porque os números mostram que a Inglaterra é só um país de porte médio no futebol. Muito do futebol é previsível, por isso as estatísticas têm muito a nos dizer - exceto as de dentro do campo.

Os corintianos gostam de achar que o Corinthians é um time diferente, especial. O clube ficou 22 anos sem um título e a torcida cresceu. Em 1976, 70 mil torcedores rodaram 400 quilômetros e tomaram o Rio de Janeiro só para ver uma semifinal de campeonato. Na última terça-feira, mais de 100 mil foram às ruas celebrar o centenário do clube. Dá para explicar isso racionalmente?
Primeiro, os fãs de futebol não são atraídos simplesmente pelos times vencedores. O que as pessoas gostam é de um time com uma história colorida e, acima de tudo, se podem vê-lo jogar em um estádio prazeroso e seguro. Quando os clubes europeus constroem um estádio novo legal - como o Ajax fez anos atrás - os fãs aparecem. Se o time vai vencer ou perder é menos importante. Os torcedores são atraídos pela imagem do clube, o status dele como símbolo de uma cidade ou comunidade. Se só os times vencedores tivessem torcedores a maioria dos estádios do mundo estaria sempre vazia. Depois, é impressionante essa lealdade dos brasileiros a equipes esportivas em se tratando, como dizem os sociólogos, de uma sociedade "desconfiada por natureza". Os brasileiros não confiam em organizações comunais e isso talvez explique por que atualmente eles não se reúnem em grande número para fazer coisas nessa área. Não é uma sociedade em que as pessoas compartilham. No entanto, os fãs do Corinthians parecem se sentir ligados uns aos outros de alguma maneira. Vai ver, no Brasil, os clubes de futebol são vistos como as únicas organizações comunais confiáveis.

O lance mais polêmico da última Copa foi o gol mal anulado da Inglaterra contra a Alemanha. Voltou-se à discussão sobre o uso de equipamentos eletrônicos capazes de impedir injustiças como aquela. Tornar o futebol mais justo o tornaria menos apaixonante?
O futebol é fantasticamente popular. Como produto comercial, funciona. Não é à toa que tenha mudado tão pouco nos últimos cem anos. Ele não está quebrado, por isso, no entender da Fifa, não precisa de conserto. Eu, particularmente, não acho que, mais justo, o futebol fique menos interessante. Imagine o suspense para as 80 mil pessoas no estádio esperando para saber se aquele gol valeu ou não, até que a tecnologia dê o veredicto. Seria demais!

Recentemente você escreveu que sediar uma Copa do Mundo não traz dinheiro, traz felicidade. Por que o futebol nos faz felizes?
Sediar uma Copa significa dividir um grande projeto com seu país, significa fazer parte. Quando o Brasil receber a Copa em 2014, meses antes todo mundo na escola, no trabalho, no ponto de ônibus estará falando sobre ela. As pessoas conversarão de futebol com estranhos. Elas se sentirão unidas e mais próximas umas das outras. Mesmo se o Brasil perder todos os brasileiros permanecerão juntos, na tristeza. Portanto, há um sentimento comum muito forte quando um país recebe a Copa do Mundo. Um sentimento difícil de encontrar em outras ocasiões. É esse sentimento de união, que atrai inclusive os solitários, o grande benefício para quem sedia uma Copa.

Por que o futebol brasileiro acende tantas paixões mundo afora?
Isso está ligado às lembranças que nós estrangeiros temos das seleções brasileiras de 1958, 1970 e 1982. Há uma expectativa em toda Copa do Mundo de seremos sortudos o bastante para ver o Brasil jogar bonito. Eu não acho que isso vá acontecer mais. Jogar bonito tem a ver com os dribles. Só que o esporte mudou. Em 1970, um jogador corria em média 4 quilômetros numa partida. Hoje ele corre 10. Então, agora se você dribla um zagueiro ele simplesmente se vira e corre atrás de você. Os grandes espaços que Pelé e Garrincha encontravam para jogar não existem no futebol moderno. Jamais voltaremos a ver aquele futebol. Ele foi produto de uma era em particular.

Futebol é coisa de homem?
Está mudando. O futebol feminino é o esporte que mais cresce no mundo. Na América do Norte as mulheres gostam mais do que os homens. Não existe algo necessariamente masculino no futebol. É que na Europa e na América Latina ele sempre foi definido como "jogo masculino" e as mulheres foram excluídas de jogar ou torcer. Países como Austrália e Estados Unidos perceberam que se trata de um esporte leve e as garotas também podiam praticá-lo.

Estamos falando de um esporte que pode terminar sem vencedor e cujo espectador pode ir para casa sem ver o auge do jogo, o gol. Você acredita que um dia os americanos vão se apaixonar por algo assim?
Eles já estão. O número de americanos que viram a Copa pela TV foi 50% maior do que no Mundial de 2006. O jogo Estados Unidos x Gana teve a mesma audiência média das finais do beisebol ou do basquete profissional. É um mito que haja algo na cultura americana contra o futebol. Os americanos apenas desenvolveram antes seus próprios esportes, e isso foi um obstáculo ao crescimento do futebol nos Estados Unidos. Mas agora, graças à TV a cabo e aos imigrantes latinos, o futebol está crescendo muito rapidamente. Não estamos longe do dia em que os Estados Unidos se tornarão campeões mundiais. Olhe para o desempenho deles nos últimos anos: quartas de final da Copa do Mundo de 2002, final da Copa das Confederações de 2009 e quase quartas de final da Copa do Mundo em 2010. No ranking da Fifa eles estão logo abaixo dos dez melhores. Dado que os americanos só começaram a praticar futebol com mais ênfase nos anos 80 e a Major League Soccer tenha sido fundada há tão pouco tempo, em 1996, acho que eles estão cada vez melhores.

E qual a relação dos árabes com o futebol?
Em muitos países árabes não há outras maneiras de os homens jovens se divertirem. Na Líbia você não pode se encontrar com uma garota para tomar um drinque ou ir ao cinema. Então, grandes jogos de futebol por lá atraem 100 mil pessoas. Frequentemente, em países fechados o único lugar onde você pode se expressar, gritar o que bem entender, é um estádio de futebol. Era assim no Iraque de Saddam Hussein. Acho que nenhum país permanecerá imune ao futebol por muito tempo. Até a Índia, a última fronteira desse esporte, já gosta de futebol. Eles ainda pensam muito no críquete, é verdade. Mas outro dia o Maradona arrastou multidões ao desembarcar em Calcutá.

Futebol é o ópio do povo?
Nem sempre. Nas pesquisas para meu outro livro, Soccer Against the Enemy, eu encontrei ditadores que tentavam usar o futebol para distrair as pessoas dos assuntos políticos. Mas também encontrei pessoas usando o futebol para se rebelar contra ditadores. Na Líbia cantam slogans anti-Kadafi nos estádios. No Irã, depois de uma partida da seleção nacional, torcedores tomaram as ruas e enfrentaram a Guarda Revolucionária com palavras de ordem contra o regime. O futebol mobiliza multidões e elas são difíceis de controlar.

Tenho um amigo que gosta de dizer que o futebol é a coisa mais importante entre as menos importantes. O que você acha?
Eu concordo. No final das contas o futebol realmente não tem importância. Você pode chorar quando seu time perde, mas é crucial entender que há coisas mais importantes na vida - seus filhos, sua mulher, seus amigos. Futebol é divertido por ser um jeito de deixar os seus problemas pra trás. Eu não gosto quando algumas pessoas tomam o futebol por uma questão de vida ou morte.

Pensador alemão diz que pessoas se viciam em tecnologia como em heroína

Folha de São Paulo
A sociedade do espetáculo do pós-Guerra se transformou hoje na sociedade da sensação, mergulhada num excitamento contínuo de efeito similar ao das drogas.
Essa alarmante tese high tech é defendida pelo filósofo alemão Christoph Türcke, que estará em São Paulo na semana que vem para lançar os livros "Sociedade Excitada" e "Filosofia do Sonho".
Se o marxista francês Guy Debord atacou o consumismo em sua obra pioneira de 1967 ("A Sociedade do Espetáculo"), Türcke defende que o aprofundamento da revolução tecnológica, no final do século 20, provoca um frenesi viciante de "choques" imagéticos e visuais.
"Trata-se de injeções sensuais", afirma na entrevista abaixo à Folha.
Assim como as drogas evoluíram em potência --do ópio para a morfina e heroína, das bebidas fermentadas para as destiladas--, a "metralhadora audiovisual" contemporânea provocou um aumento de dependência por parte de seus "usuários".
"Isso é o que chamo de distração concentrada."
Herdeiro da Escola de Frankfurt, que fundia marxismo e psicanálise, Türcke conclui que a sociedade da sensação se materializa no fetiche. Pois, diz, "fetiches são sintomas de abstinência, substitutos de algo de que se foi dolorosamente privado"
Folha - O conceito de "sociedade da sensação" não é intelectualista demais?
Christoph Türcke - Pelo contrário. Parte de um ponto de vista sensualista, para não dizer fisiológico.
Avalia como a máquina audiovisual, que emite seus choques imagéticos 24 horas por dia, se impõe ao sensório humano. Tais choques, que se vive com cada nova focagem de câmara, têm o efeito de injeções sensuais.

Como assim, injeções sensuais?
Qualquer corte imagético, qualquer nova focagem, tem o caráter de um projétil, como diz Walter Benjamin [1892-1940]. Penetra no espectador abruptamente, desencadeando uma dose de adrenalina.

Como o vício define a sociedade da sensação?
Vício como fenômeno particular --como dependência física de certas substâncias (drogas)-- está modificando um fenômeno geral, pois a máquina audiovisual também vicia.
Quem presta atenção à tela se dedica a ela, vive uma dependência crescente dela, vincula suas expectativas, sua economia emocional e intelectual a ela.
Assim como o drogado aplica injeções de heroína, uma sociedade que depende da tela se expõe a bilhões de choques imagéticos.
O choque singular é mínimo, quase imperceptível e não faz mal. Bilhões, no entanto, destroem justamente a atenção que elas atraem magneticamente.

Então, em um mundo conectado como o atual, as pessoas estão virtualmente viciadas?
O vício é real. Surge em organismos físicos, não num agregado de pixel.
O mundo virtual tem sua própria realidade, uma realidade prepotente, mas por outro lado fraquíssima, muito fugaz, não consistindo senão numa constelação de impulsos eletrônicos. Ao desligar a eletricidade a virtualidade inteira desaparece.

Citando Trótski, o sr. propõe uma relação íntima entre igreja, cinema e álcool. Qual a razão disso?
Trótski não percebeu o alcance da sua própria observação. O vício tem um subtexto teológico. Cada nova injeção atua como promessa.
O viciado quer cada vez mais, é insaciável, pois quer viver "o inédito", que o vem salvar. Igreja, cinema, botequim: todos os três nutrem expectativas de salvação, cada um deles à sua maneira.
O ateu Trótski tentava tirar a classe operária da aguardente ao reuni-la no cinema. Era a sua igreja.

O sr. diz que, com a invenção do destilado, destruiu-se a cultura do beber e também que a vitória da morfina e da heroína sobre o ópio mudou o padrão do "frenesi", devido à multiplicação do efeito tóxico. Quais as implicações disso para a sociedade contemporânea?
Quanto mais forte, mais rápido o efeito. As drogas desenvolvem-se segundo as necessidades gerais de aceleração.

Então novas drogas, tanto químicas quanto "tecnológicas", deverão necessariamente se desenvolver?
Se forem lucrativas, sim.

Parafraseando o "Manifesto Comunista", de Marx e Engels, o sr. afirma que as pessoas não suportam "o peso da sobriedade". Essa é uma característica da sociedade da sensação?
É. Marx e Engels não eram ascéticos, mas apostaram no domínio da razão sóbria, isenta de qualquer ópio físico ou metafísico.
Eram, em outras palavras, racionalistas ilusionistas, subestimaram o homem enquanto ser pulsional que nunca vai se livrar de todas as expectativas de salvação.
Não adianta recalcar tais expectativas, trata-se de lidar com elas de modo racional e reflexivo. Mas o sensacionalismo de hoje não dá espaço a tal reflexão. A metralha audiovisual torna o desvio o caminho principal.

Então a "metralhadora audiovisual" liquida a perspectiva de alguma salvação?
Não necessariamente. Não vivemos num mundo predeterminado. O livre arbítrio não está liquidado. As forças dominadoras sempre provocam forças de resistência, tanto em termos educacionais quanto sociais. A história continua em aberto.

O sr. é um crítico da "dupla estratégia" do Greenpeace, de criticar e condescender? Qual a implicação disso para o movimento ambientalista?
Constato, não critico a "dupla estratégia".
Observo, porém, que ela sempre indica fraqueza social. São minorias que têm necessidade de usá-la.
Organizações não governamentais como o Greenpeace agem sob as mesmas coações comerciais que as grandes empresas.
Elas têm que colaborar com forças sociais que, ao mesmo tempo, estão combatendo. Não escapam da ambiguidade. Entretanto, isso de nada serve se não arriscar o ambíguo.

A vida é sonho?
Seria bonito. Mas não é assim. A vida é um conjunto de vários estados. Um deles é o sonho. Representa o subsolo da nossa vida, É a massa de fermentação de todos os nossos desejos, planos, projetos.
Ninguém aguenta a vida sem sonho. Sem sonho não há esperança, não há humanidade.