terça-feira, 11 de maio de 2010

Do Blog de Reinaldo Azevedo na Veja

“Eu costumo discutir as coisas como elas são, e todo mundo sabe que, no dia que tiver jogo do Brasil, nenhum deputado virá votar (…). Essa é a vida como ela é… Uns reclamam e outros reconhecem a realidade”.
Esse pensamento iluminado é do deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), aquele que, na prática, pretende fechar o Congresso no dia 10 de junho e só reabri-lo no ano que vem. Ele deu essa declaração logo depois de um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que evidencia a inspiração intelectual da proposta. Nem precisa o encontro para isso: ele é líder do governo na Câmara e, pois, encaminha na Casa os pleitos da Presidência.
Os petistas são assim, dotados desse espantoso realismo.
O presidente da Câmara, Michel Temer (SP), não gostou da proposta. É o PMDB dizendo para o PT: “Espere aí, companheiro, é preciso ter um pouco mais de ética na bandalheira”.

Estilo gafanhoto

Por Denis Russo Burgierman - Revista Veja

O capitalismo não é o inimigo.
O inimigo, como eu já falei outras vezes, é uma certa mentalidade, e essa mentalidade é dominante tanto entre os “neoliberais” quanto entre os “comunistas”. “Capitalismo e socialismo são irmãos”, me disse numa entrevista semana passada o Secretário do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo, Eduardo Jorge. Irmãos, filhos da mesma herança cultural, com a mesma visão de mundo, que Jorge define assim: “há o econômico e há o social, que precisam ser equilibrados. Os recursos naturais são inesgotáveis e existem unicamente para dispormos deles infinitamente, seja para o econômico, seja para o social”. Esquerda quer que a balança penda pro social, direita puxa pro econômico, mas as duas estão igualmente erradas no essencial: os recursos não são infinitos.
A coisa central que precisa mudar, para a conta fechar, é essa crença que nós temos entranhada de que é preciso crescer sempre. Se a economia brasileira era de 1 trilhão em 2005, precisa ser de 1 trilhão e tanto em 2006, e precisa crescer todo ano para sempre. Veja bem, não me entenda mal. Não estou dizendo que crescer seja ruim. É bom, óbvio, e crescimentos precisam ser celebrados. Mas o financismo da nossa cultura impõe mais que isso: ele quer que crescimento seja a regra geral do mundo. Tudo tem que crescer sempre, todo ano. As empresas estabelecem metas de crescimento, e essas metas tendem a ser mais agressivas a cada ano. Muita empresa se exige crescer 20% de um ano para o outro, até 30%. E aí elas se medem por esse crescimento. Se crescer só 15%, não vai haver celebração: vai haver demissões, tristeza e suicídios eventuais.
Essa agressividade das metas acaba significando que muitos funcionários de grandes empresas privadas acabam se comportando mais ou menos como batedores de carteiras. Eles saem às ruas com os olhos furiosos, inventam esquemas intransparentes de empurrar produtos, disfarçam gato de lebre, lucram vendendo o que deveria ser de todos. Há uma imensa agressividade no nosso jeito de atuar no mundo, e a humanidade fica meio parecida com gafanhotos: uma espécie que se espalha rápido e que, assim que chega aos lugares, seca tudo, come tudo, caga tudo e vai embora para outro lugar.
Mudar essa crença de que o crescimento é eterno é duro. Eu sei bem. Luto contra isso todo dia. Fui criado nessa cultura, vivo sob essa lógica, no fundo tenho dificuldade de escapar dela. Sou um sujeito competitivo. Saí da faculdade, fui trabalhar numa corporação, virei madrugadas, meu colesterol subiu, minhas pálpebras tremiam. Pouco depois dos 30, eu era um executivo bem pago, que fazia algumas dezenas de milhões de reais por ano para o meu chefe, ganhava bônus todo ano e dirigia um carrão, com a gasolina “por conta”. No processo, eu vi como as coisas funcionam. Vi a pressão por transformar em dinheiro qualquer asset que me caísse na mão, fosse ele renovável ou não: credibilidade, qualidade, saúde, recursos naturais. Vi como era difícil resistir a essa cultura, por mais que as pessoas sejam decentes e bem intencionadas (e, na empresa onde eu trabalhava, eu estava cercado de gente decente e bem intencionada).
Ano passado, pedi demissão, porque fui acometido da certeza de que é preciso mudar de lógica. Vou te dizer: meu colesterol não baixou nem minha pálpebra parou de tremer. Continuo vira-e-mexe perdendo o sono com preocupações. Sabe por quê? Porque, embora racionalmente eu saiba que estou fazendo a coisa certa, meu cérebro, moldado pela lógica do crescimento eterno, vive me perguntando “mas será que você não se precipitou, Denis?” Embora eu saiba que dirigir aquele carrão com gasolina “por conta” era insustentável e fazia minha barriga crescer, de tempos em tempos meu cérebro viciado pega no meu pé (geralmente é quando eu estou me espremendo num ônibus). Embora eu saiba que eu não preciso acumular tanto, morro de medo de faltar, e se acontecer isso, e se acontecer aquilo?
Enfim, não são só as empresas e os países que querem crescer todo ano. São as pessoas também. Todo mundo acha que merece ganhar mais este ano que no ano passado. Parece que ninguém percebe que as vidas mais incríveis e marcantes são aquelas que têm altos e baixos.

Desobedeça

Por Denis Russo Burgierman - Revista Veja

– É uma criança tão boa, tão obediente!
O equívoco começa bem cedo na vida. Desde a primeira infância, a criança aprende a acreditar que ser “bom” é sinônimo de ser “obediente”. Mas não é. Aliás, muito longe disso. Quem quer realmente ser bom necessariamente vai ter que desobedecer autoridades em algum momento da vida.
Prova disso é o clássico Experimento de Milgram, conduzido em 1964 nos EUA. A ideia foi do psicólogo Stanley Milgram, que queria estudar a propensão humana a obedecer a autoridade, mesmo quando isso implica em ser cruel com outros seres humanos (Milgram estava interessado em entender como Hitler foi capaz de mobilizar milhões de pessoas comuns no seu projeto genocida).
Foi um experimento engenhoso (e que hoje certamente seria considerado antiético). Começou com a publicação de um anúncio num jornal pedindo voluntários para um estudo sobre memória e aprendizado.
Os voluntários que se candidataram foram recebidos por um cientista de jaleco branco que explicou o experimento. Eles teriam que se sentar em frente a um vidro e operar uma máquina cheia de botões. Do outro lado do vidro, haveria outro voluntário, um senhor afável, que teria que decorar e repetir uma série de palavras. A cada palavra errada, o voluntário teria que apertar um botão, e o senhor do outro lado do vidro levava um choque. A cada erro, o choque ficava 15 volts mais forte. No final, o senhor dava gritos desesperados e dizia que ia morrer porque tinha um problema cardíaco. Os choques eram fortíssimos e o botão continha avisos de que havia risco de vida.
Bom, nada disso era verdade. Não havia choque nenhum. O senhor era um ator que errava por querer. O objetivo do experimento não era medir aprendizado, mas descobrir se as pessoas seguiriam ordens mesmo com um sujeito estrebuchando de desespero. Resultado: a imensa maioria segue ordens.
65% das pessoas administrou o choque até o limite máximo, de 450 volts. Todos os voluntários se sentiram incomodados e quiseram parar o experimento quando os gritos começaram, lá pelos 300 volts. Quando eles faziam isso, o cientista de jaleco reagia com dureza, dizendo que eles precisavam continuar, que não havia perigo e que eles tinham concordado com as regras do experimento (muito embora todos eles tenham sido avisados no começo de que poderiam parar se quisessem).
Uns poucos reagiram à autoridade e disseram que parariam mesmo assim. Mas a grande maioria obedeceu. O interessante é que, nesse ponto, eles deixaram de se incomodar com o outro. Alguns até começaram a demonstrar uma certa raiva sádica ao apertar o botão. A presença da autoridade como que “desligou” a culpa deles, o senso de responsabilidade sumiu. A partir da bronca do cientista, quase todos estavam dispostos a tudo. E, se o senhor afável morresse… Ora, não foi culpa minha, eu estava só cumprindo ordens.
Outro psicólogo famoso, que aliás estudou com Milgram na mesma escola do Bronx, em Nova York, é Philip Zimbardo, ainda ativo na Universidade Stanford (Milgram morreu em 1984). Zimbardo é autor de outro estudo clássico (igualmente questionado pela ética científica de hoje), o Stanford Prision Experiment. Ele recrutou garotos para fazer o papel de guardas e prisioneiros numa prisão fictícia. Em poucos dias, os guardas tinham virado torturadores covardes e os prisioneiros estavam tendo colapsos nervosos.
Zimbardo, comentando o experimento de Milgram, costuma dizer que o que o mundo precisa é de mais heróis. Só que, para ele, “herói” não é necessariamente alguém inalcançavelmente generoso, que entrega a vida a uma causa, como Gandhi ou Martin Luther King. Herói, para ele, é gente comum, que leva sua vida, mas que, quando vê algo errado acontecendo, tem coragem de dizer não (veja a palestra de Zimbardo no TED aqui).
No experimento de Milgram, algumas pouquíssimas pessoas se recusaram a dar choques, levantaram-se indignadas e saíram gritando que não participariam mais daquilo. Quando isso acontecia, todos os outros voluntários na sala recusavam-se também a continuar. Um único herói, provou-se então, tem o poder de catalisar uma reação positiva enorme.
A questão é que, quando educamos nossas crianças apenas para serem obedientes, a chance de elas agirem com heroísmo quando a oportunidade aparecer é minúscula. Crianças boas são aquelas que, quando chega a hora de escolher entre o certo e o errado, são capazes de desobedecer.

A lista da Copa 2010

GOLEIROS
Júlio César (Inter/ITA)
Doni (Roma/ITA)
Gomes (Tottenham/ING)

LATERAIS
Maicon (Inter/ITA)
Daniel Alves (Barcelona/ESP)
Michel Bastos (Lyon/FRA)
Gilberto (Cruzeiro)

ZAGUEIROS
Lúcio (Inter/ITA)
Juan (Roma/ITA)
Luisão (Benfica/POR)
Thiago Silva (Milan/ITA)

VOLANTES
Felipe Melo (Juventus/ITA)
Gilberto Silva (Panathinaikos/GRE)
Josué (Wolfsburg/ALE)
Kleberson (Flamengo)

MEIAS
Kaká (Real/ESP)
Ramires (Benfica/POR)
Elano (Galatasaray/TUR)
Júlio Baptista (Roma/ITA)

ATACANTES
Luís Fabiano (Sevilla/ESP)
Robinho (Santos)
Nilmar (Villarreal/ESP)
Grafite (Wolfsburg/ALE)

Do Blog: Os goleiros eram estes os esperados e todos são bons goleiros. A zaga está perfeita, até agora nada a reclamar, até mesmo a ausência de Miranda. Estão todos bem. A boa surpresa é Thiago Silva, merecida comvocação.
Este será o meio de campo mais fraco de todas as copas, nem tanto pelos volantes, que mostraram firmeza e jogaram bem nos jogos que foram testados, possuem a confiança de Dunga, que jogou nesta posição e podemos notar a coerência da convocação pelo seu histórico. O ponto fraco e polêmico está principalmente nos meias. Com excessão de Kaká, os outros não possuem o menor encanto ou talento, dignos de um meia brasileiro. São bons marcadores mas limitados quando se fala em habilidade. Elano, Ramires ou Julio Baptista poderiam ser tranquilamente substituídos por Daniel Alves em qualquer emergência, e ainda teria Kleberson que faz muito bem esta função de meia também. Sobraria uma vaga para ser preenchida por Ganso, para dar um pouco de brilho brasileiro a esse meio de campo, como opção de criatividade e inteligência. A ausência de Ronaldinho Gaúcho era esperada. Dunga não confia mais no meia e demonstrou isso nas últimas convocações, quando, mesmo jogando bem no Milan, não foi chamado por Dunga.
No ataque gostei dos quatro convocados. Grafite é a opção força para o lugar de Luis Fabiano se precisar e a opção velocidade está bem servida com Robimnho e Nilmar. Adriano teve sua chance, mas problemas pessoais atrapalharam seu rendimento. Como Ronaldo Fenômeno, que infelizmente não conseguiu melhorar sua forma física e técnica.
Mas olhando bem, sinto que falta algo, como se apertasse aqui e ali, coubesse Neymar. Passa até pela cabeça a opção por um momento em que o Brasil teria uma chance a mais se Dunga pudesse, nem que fosse aos 35 minutos do segundo tempo, contar com o trio Ganso, Robinho e Neymar para virar o jogo.
Sorte Dunga. Raça e alegria Brasil!