sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Opinião: Cega, Dorina Nowill viu as grandes possibilidades da vida

Pedagoga, que morreu nesta semana aos 91 anos, foi exemplo de superação. Pessoas têm que se fazer merecer e lutar pelo que lhes é devido.
Os ditados populares são cheios de sabedoria. Um muito conhecido diz que o pior cego é aquele que não quer ver. Eu completaria: e que não pode ver.
Trocadilhos à parte, é claro que não estamos falando da pessoa que tem falta real de visão. Essa não pode mesmo ver o mundo concreto. O que não a impede de percebê-lo de outras maneiras: pelo tato, audição, olfato, paladar, imaginação e... emoção.
Penso que não enxergar é algo bastante trágico e que impõe grande restrição ao ser humano. Apesar disso, mesmo essas pessoas quebram recordes e nem sempre se limitam à sua condição. Fazem de seu estado algo que dê significado às suas vidas. E, invés de se tornarem reféns dela, são ativos na construção de sua história.
Em contrapartida, há aqueles que diante do menor problema se curvam e permitem (sim, permitem!) que comande sua vida. Às vezes, possuem alguma característica bastante limitante, como uma paralisia, por exemplo. Diante dela, engessam toda a vida, culpando sua situação por tudo aquilo que é. Passam a vida se lamentando e se limitando. Esquecem-se de que não se reduzem àquilo que não possuem. Isso não só no aspecto físico, mas no social e material também.

Exemplo
Se para alguns a vida não passa de um fardo, outros a veem de maneira diferente, mesmo não enxergando há mais de 70 anos: "É preciso encarar a vida como ela aparece. Não se pode disputar com a vida". Esse é o conselho dado por Dorina Nowill, cega desde os 17 anos, e que morreu nesta semana.
Sua história é bem interessante. Na década de 30, Dorina ficou cega de repente. Em quatro meses, não enxergava mais o mundo físico, o que não a impediu de ver longe, muito longe. Não desistiu de viver.
Estudou, especializou-se no exterior e se casou. Sentindo na pele as dificuldades do deficiente visual, lutou incessantemente por ele. Expandiu a literatura em braille em nosso país e colaborou com mudanças de leis em relação ao deficiente, como tornar obrigatória sua educação no Brasil.
Comandou de 1946 até os dias de hoje a Fundação Dorina Nowill para cegos. Nem a idade avançada tirou-lhe o entusiasmo e a força. Isso tudo, criando uma família de cinco filhos.
Sem dúvida, ela é um exemplo de superação. Ela fez o que a maioria, tendo condições muito mais favoráveis, não é capaz de fazer. Provavelmente, ela tinha uma grande força de vida. Devia ser alguém muito especial.
Pessoas com limitações físicas devem sofrer muito. Além de lidarem com o preconceito que ainda existe em relação ao que é diferente, o mundo é todo organizado para aqueles que têm todas as suas funções a pleno vapor. Sem ir longe, é só lembrarmos das dificuldades que as pessoas canhotas enfrentam.
Mas as coisas podem e devem ser diferentes se essas pessoas não tiverem preconceito em relação a si mesmas e não acharem que são menos e que merecem menos. Como todos, elas têm que se fazer merecer e lutar pelo que lhes é devido.
Vamos fazer do exemplo de Dorina um exemplo para todos nós. Ela pode ver o que muitos ainda não conseguem, tendo cem por cento de visão: as grandes possibilidades que a vida nos oferece.

Primeira propaganda política da história do Brasil

http://veja.abril.com.br/multimidia/video/primeira-propaganda-politica-da-historia-do-brasil

Conheça as três famílias de cerveja

http://veja.abril.com.br/multimidia/video/conheca-as-familias-de-cervejas

Nelson Motta - Crenças e crentes

O Estado de S.Paulo
Com 96% de aprovação popular, mais gente acredita em Lula do que em Deus. Só uns 7% dos brasileiros são ateus, segundo o IBGE. Com a margem de erro, humano, há um empate técnico entre o cara e O Cara de todos os caras. Como dizia o companheiro Bush, quem não está com ele, está contra ele.
Mas nem no IBGE se pode levar muita fé. Eu, por exemplo, não fui entrevistado por nenhum recenseador nos últimos 25 anos. Estatisticamente, não existo. Vão dizer que o IBGE é de padrão internacional, tem não sei quantos anos de serviços prestados, com absoluta credibilidade, e agora é tudo tecnodigital de última geração. Acredito. Aguardo sua visita.
Em Cuba, acredita-se piamente, sem dar um pio, que qualquer crítica ou dissidência seja considerada, e punida, como traição. Qualquer oposição estará sempre a soldo da CIA e do império: só por dinheiro alguém teria motivos para criticar a revolução. Fidel é nosso pastor e nada nos faltará, rezam eles há 50 anos. Mas falta tudo, por culpa do satânico bloqueio ianque e da campanha midiática internacional. Milhões creem nisso, são (anti)milagres da fé. Fidel acredita que Osama Bin Laden trabalhava para George Bush e que o 11 de Setembro foi uma armação dos dois.
Como Fidel, Hugo Chávez não tem adversários ou opositores - tem inimigos. O coronel não aceita qualquer forma de oposição, são todos "esquálidos", burgueses e oligarcas. É nós contra eles, é socialismo ou muerte, mas metade do país não acredita nele. Chávez, católico, acredita que Jesus Cristo era bolivariano.
O bispo Macedo tem milhões de seguidores, felizes por pagar seus dízimos. Como não são idiotas, certamente permanecem na igreja se de alguma forma a sua vida está melhorando, se a fé está funcionando. É uma religião de resultados, no livre mercado das crenças. Sem impostos.
Crescem os crentes da Igreja Lulista Brasileira, onde a fé se junta ao oportunismo, o crime pela causa não é pecado e oposição é sacrilégio. Em sua teologia, satanás é substituído pela elite e exorcizado pelos seus bispos, cada vez mais ricos e poderosos.
Para Platão, a crença é o oposto do conhecimento.