segunda-feira, 24 de maio de 2010

Físico pede 1 bilhão de euros para computador capaz de simular o planeta

Folha Online
Era outubro de 2008 e se prenunciava o cataclismo econômico global. Sentado em um fórum de ciência e política pública, o físico suíço Dirk Helbing teve uma epifania: por que não criar um supercomputador que, unindo áreas distintas do conhecimento, pudesse prever hecatombes desse tipo?
O marco zero da crise, a quebra do banco de investimento americano Lehman Brothers, acontecera um mês antes. "E era visível então que os economistas não sabiam o bastante a respeito e que sua abordagem não servia para detectar as interconexões no sistema", diz.
Para ele, um sujeito que foi da física à sociologia e usou ambos para desenhar sistemas de tráfego e detectar comportamentos de grupo, era óbvio que o que faltou em 2008 e outras tantas crises em outras áreas foi uma abordagem holística.
Helbing, do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, visualizou então um sistema que usasse regras da física para lidar com interações entre pessoas, variáveis ambientais e aquilo que as "colisões" entre elas gerarem.
Para tirar a ideia do papel, quer 1 bilhão em financiamento da União Europeia (o LHC, o superacelerador de partículas, consumiu já 9,4 bilhões, lembra ele).
O dinheiro servirá para construir um supercomputador com capacidade de buscar dados em redes sociais, publicações, na academia e, assimilando bilhões de variáveis, produzir modelos em que interajam agentes distintos (economia, política, clima, transportes e outros).
Mas também bancará a formação de uma megaequipe que una de engenheiros a especialistas em psicologia para trabalhar na "compreensão, integração e administração de sistemas complexos", no dizer de seu recém-publicado artigo.
ACELERAÇÃO
Ou: Helbing acha que a complexidade do sistema econômico e social hoje é tamanha que não pode ser tratada isoladamente por cada área de especialidade. "Unir comunidades diferentes vai acelerar a produção de conhecimento", diz. "E os valores são baixos se comparados com o que é gasto em física elementar. Isso deveria ser gasto no mundo dos vivos."
Só a união em grande escala de físicos e engenheiros com economistas, diz, poderá criar instrumentos úteis à tomada de decisões por políticos, industriais, acadêmicos e pessoas do mercado. Isso fortaleceria o sistema social e tornaria possível antever crises como a de 2008.
A ideia é colocar o "superacelerador de conhecimento" em ação em 2013 -se o financiamento vier (o megainvestidor George Soros já chancelou o projeto).
Indagado sobre se o projeto não vai gerar um número sem-fim de modelos (e impedir os tomadores de decisão de discernir qual se aplica à situação corrente), Helbing cita a divisão entre economistas e físicos.
Os primeiros preferem usar o maior número de variáveis possível. Os segundos preferem menos variáveis.Prevaleceriam os físicos, cujos modelos não lineares são melhores para detectar fenômenos como a crise.
O que não foi decidido ainda é onde basear os cientistas. Mas isso terá de esperar: Helbing está gastando seu poder de análise para decifrar o "complexo e em múltiplas etapas" sistema de financiamento da UE.

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