terça-feira, 7 de setembro de 2010

Vejam este projeto - muito legal

http://www.flickr.com/photos/12588351@N02/sets/72157623192662899/show/

Hoje de manhã vi este grafite incrível no beco do Batman, na Vila Madalena, em São Paulo.
Me fez pensar. Você já notou que não se vê mais crianças na rua em São Paulo? Pelo menos não no centro expandido.
Comento isso por aí, parece que muita gente acha normal. Com essa violência, com esse trânsito, criança não pode mesmo ficar na rua. E elas têm videogames ótimos e super educativos. Elas nem querem mesmo sair.
Pois tem uma coisa que eu preciso dizer: não é normal.
Crianças pequenas têm praticamente todas os neurônios que terão na vida adulta. A diferença entre elas e nós é que elas têm pouquíssimas conexões entre os neurônios. Desconectados, eles não são capazes de fazer nada muito complexo. Em compensação, as desconexões tornam o cérebro imensamente flexível, capaz de aprender qualquer coisa. Com o tempo, essas conexões – as sinapses – vão se formando e a mente vai se tornando capaz de coisas impressionantes.
Para que as sinapses se formem, é preciso estímulos. Se o cérebro tem que lidar com uma situação na tenra infância, torna-se cada vez melhor em tarefas do mesmo tipo. Se ele não treina, não aprende. E, depois que chega a idade adulta, é tarde demais – a maleabilidade do cérebro vai embora.
Pois então, crianças que não saem à rua estão simplesmente abrindo mão de uma imensa quantidade de estímulos. Tem uma pesquisa dos anos 1990, do urbanista americano Bruce Appleyard, que mostra que meninos e meninas que vão de carro para a escola são menos capazes de desenhar mapas e de entender abstrações espaciais. Ao negar-lhes a rua, estamos simplesmente impondo limitações cognitivas aos nossos filhos. Em nome da segurança deles (um valor obviamente positivo), estamos tornando-os menos capazes de pensar o espaço e de se situar no mundo.
Pior ainda: ao fazer isso, restringimos o círculo social das nossas crianças. Elas interagem com menos gente e todas são muito parecidas entre si (é na rua que as diferentes classes sociais se encontram). Isso também é uma falta de estímulo, e também determina indivíduos que, quando crescem, serão menos capazes de conviver com a diversidade. Num mundo globalizado, essa habilidade é fundamental para ter sucesso.
Outro efeito é que, por passar menos tempo nas ruas, nossas crianças tornam-se menos felizes. Uma pesquisa de 2008 (Stutzer & Frey) mostra que, estatisticamente, pessoas que passam muito tempo dentro de carros são mais infelizes e têm menor capacidade de encontrar sentido na vida.
Resolver esse problema, na minha opinião, deveria ser a maior preocupação do prefeito de São Paulo. Para mim, se uma cidade reduz a capacidade cognitiva e a felicidade de suas crianças, não se pode dizer que seja uma cidade boa. Nada pode ser mais importante que isso.
Daqui a 4 anos, haverá Copa do Mundo no Brasil. A abertura, aparentemente, será em São Paulo.
Gente do mundo inteiro virá para cá. Eles vão andar pelas ruas de São Paulo e vão notar uma coisa: não há crianças brincando na rua.
Outro dia conheci alguns jovens arquitetos que têm um projeto interessante que lida com essa questão. A ideia básica é criar a “linha verde”, uma rede de parques lineares, construídos no meio de ruas secundárias, cercados de árvores, com uma grande ciclovia e vários espaços de lazer (cinemas, mesas de jogos, bibliotecas, quiosques, futebol, vôlei, taco, bocha). Essa linha verde ligaria todas as atrações do centro expandido da cidade – museus, estádios, praças e parques, monumentos, ruas comerciais. Ligaria também estações do metrô e poderia ser um bom caminho para chegar de qualquer lugar a qualquer lugar no centro expandido. Seria um espaço público, no qual a cidade se encontraria.
O projeto não sairia muito caro e seria viável ter o sistema basicamente pronto a tempo para a Copa. Os arquitetos nem fazem questão de ser remunerados: ficariam satisfeitos em ver a ideia implantada. A cidade não perderia nenhuma pista de circulação para os carros – só teríamos que abrir mão de vagas de estacionamento no meio-fio.
Não sei você, mas eu acho que a felicidade das nossas crianças vale mais do que o espaço para estacionar o carro de alguém. Voto em implantarmos esse projeto.
Prefeito, você tem uma ideia melhor para lidar com esse problema?

Por Denis Russo Burgierman

Editorial do Estadão - A política do deboche

Quanto mais se acumulam as evidências de que o PT é o mentor do crime continuado da devassa na Receita Federal, de dados sigilosos de aliados e familiares do candidato presidencial do PSDB, José Serra, tanto mais o presidente Lula apela para o escárnio. É assim, desenvolto diante da exposição das novas baixezas de sua gente, que ele procura desqualificar as denúncias de que as violações tinham a única serventia de reunir material que pudesse ser utilizado contra os adversários da candidata governista, Dilma Rousseff.
Do mensalão para cá, essa atitude só se acentuou. No escândalo da compra de votos no Congresso Nacional, em 2005, ele ficou batendo na tecla de que não sabia de nada e que, de mais a mais, o que a companheirada tinha aprontado - diluído na versão de que tudo se resumia a um caso de montagem de caixa 2 - era o que se fazia comumente na política brasileira. Depois, propagou e mandou propagar a confortável teoria de que as acusações eram parte de uma “conspiração das elites” para apeá-lo do poder. Mas não chegou a zombar acintosamente das revelações que iriam ficar gravadas na história de seu partido.
Já no ano seguinte, quando a polícia detonou a tentativa de um grupo de petistas, entre eles o churrasqueiro preferido de Lula, de comprar um falso dossiê contra o mesmo José Serra, então candidato a governador de São Paulo, o presidente incorporou ao léxico político nacional o termo “aloprados” com que, para mascarar a gravidade do episódio, se referiu aos participantes da torpeza. Agora, enquanto escondia a sua escolhida - acusada pelo tucano como responsável, em última instância, pela fabricação de novo dossiê com os documentos subtraídos do Fisco -, o presidente se abandonou ao cinismo.
No fim da semana, em um comício em Guarulhos, na Grande São Paulo, a que Dilma não compareceu, ele acusou Serra de transformar a família em vítima. Ou seja, o que vitimou a filha do candidato não foi a comprovada captura de suas declarações de renda por um personagem do submundo - cuja filiação ao PT só não se consumou por um erro de grafia de seu nome -, mas o “baixo nível” da campanha do pai, que tratou do escândalo no horário de propaganda eleitoral. E ele o teria feito porque “o bicho está em uma raiva só” diante dos resultados desfavoráveis das pesquisas eleitorais. “É próprio de quem não sabe nadar e se debate até morrer afogado”, desdenhou.
O auge da avacalhação - para usar uma palavra decerto ao gosto do palanqueiro Lula - foi ele perguntar retoricamente: “Cadê esse tal de sigilo que não apareceu até agora? Cadê os vazamentos?” Se é da filha de Serra que ele falava, o sigilo vazou para os diversos blogs lulistas que publicaram informações a seu respeito que só poderiam ter sido obtidas a partir do acesso ilícito aos seus dados fiscais. E o presidente sabe disso desde janeiro, quando o ainda governador Serra o alertou para a “armação” contra seus familiares na internet. Confrontado com o fato, Lula disse, sem ruborizar-se, ter coisas mais sérias para cuidar do que das “dores de cotovelo do Serra”.
Se, no comício, a sua pergunta farsesca tratava das outras pessoas ligadas ao candidato, como, em especial, o vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, o sigilo vazou para membros do chamado “grupo de inteligência” da candidatura Dilma. No caso de Eduardo Jorge, aliás, a invasão não se limitou à delegacia da Receita em Mauá, no ABC paulista, a primeira cena identificada do crime. Na última quinta-feira, o Estado revelou que um analista tributário lotado na cidade mineira de Formiga, Gilberto Souza Amarante, acessou dez vezes em um mesmo dia os dados cadastrais do tucano. O funcionário é petista de carteirinha desde 2001.
Ninguém mais do que Lula, com o seu imitigado deboche, há de ter contribuído tanto para a “maria-mole moral” em que o País atolou, na apropriada expressão do jurista Carlos Ari Sundfeld, em entrevista no Estado de domingo. Nem a bonança econômica nem os avanços sociais podem obscurecer o perverso legado do lulismo. Por minar os fundamentos das instituições democráticas, essa é hoje a mais desafiadora questão política nacional.

Do Blog: não se trata aqui de defender candidatura A ou B, e sim de defender o futuro da democracia do Brasil, dos direitos de expressão e liberdades de ir e vir de cada cidadão. O que o governo PTista está fazendo é um afronta ao povo e um atentado à inteligência de milhares de brasileiros que gastam seu dinheiro e seu tempo lendo jornais e revistas, assistindo TV e ouvindo rádio, navegando na internet e discutindo com amigos, os acontecimentos políticos, econômicos e sociais do nosso país, para que assim instruídos, não sejam manipulados pelos corruptos de sempre. Infelizmente uma parcela grande da população não se preocupa em ler e se atualizar para não ser enganado e assim acreditam neste governo e principalmente neste presidente que usa de seus carisma para matar aos poucos a democracia brasileira com suas mentiras e jogos para se perpetuar no poder. É uma pena, este país não merece os governos que tem.

Celular vai ouvir e traduzir conversas em várias línguas, diz CEO do Google

Portal Terra
Eric Schmidt apresentou programa em feira de tecnologia na Alemanha.
CEO diz que software vai ajudar na busca da 'humanidade aumentada'.
O presidente do Google, Eric Schmidt, apresentou nesta terça-feira uma tecnologia capaz de traduzir, em tempo real, conversas feitas entre duas pessoas que falam línguas diferentes. O programa, compatível com o sistema operacional para celulares Android, baseado em Linux, foi demonstrado durante palestra de Schmidt na IFA, feira de eletrônicos em Berlim, na Alemanha.
Schmidt já havia indicado que o Google trabalhava no desenvolvimento de um "tradutor universal" de voz em fevereiro, quando participou do Mobile Word Congress 2010, evento que reuniu empresas ligadas ao setor de telefonia celular em Barcelona, na Espanha.
Segundo o executivo, a criação de um telefone que funcione como "peixe de Babel" (referência ao tradutor automático do universo fictício do "Guia do Mochileiro das Galáxias", do escritor britânico Douglas Adams) é o próximo passo na busca do que ele chamou de "humanidade aumentada".
"Em breve, os computadores vão trabalhar por nós e vão tornar possível que façamos coisas que realmente queremos fazer", disse o executivo. "Essas mudanças estão acontecendo rapidamente, e as sociedades ainda não estão realmente prontas para o que vai acontecer quando todo mundo estiver on-line, publicando informações sobre o que está acontecendo ao redor de cada um", afirmou Schmidt. "Em geral, essa evolução é muito importante, ela dá poder aos cidadãos."
Em um primeiro momento, o programa será capaz de ouvir e traduzir - lentamente, por enquanto - frases ditas por duas pessoas, em línguas diferentes, no mesmo aparelho. Ao conversar, por exemplo, com uma pessoa que só fala e entende alemão, um usuário brasileiro diria sua frase em português e ouviria o aparelho traduzir o trecho para alemão. Depois, o interlocutor diria uma frase em alemão, que seria traduzida para o português pelo telefone.
Depois, diz Schmidt, o plano é fazer com que essa tradução seja possível em ligações telefônicas

Por um planeta em equilíbrio

Para formar cidadãos conscientes, a escola deve atualizar conceitos e modificar práticas em relação às questões ambientais
Diariamente, os noticiários divulgam reportagens sobre a situação ambiental em diferentes regiões do planeta, revelando o impacto das ações humanas sobre o equilíbrio da Terra. A temática dessas notícias já está presente nas escolas e nas salas de aula brasileiras. Sabe-se, porém, que não basta falar sobre elas. É preciso que a equipe escolar tenha informações atualizadas, alie o discurso à prática e dê oportunidades cotidianas para que os alunos, os funcionários e a comunidade incorporem novas atitudes voltadas à preservação da natureza. Para ajudar professores e gestores a cumprir essas tarefas, a revista NOVA ESCOLA lançou a edição especial Meio ambiente com reportagens, artigos e infográficos que mostram o que há de mais recente sobre água, energia, clima, consumo e sustentabilidade.
Os especialistas consultados são unânimes em afirmar que a abordagem de tais conteúdos deve ser feita sempre de maneira contextualizada. "O professor não tem de trabalhar em sala algo discutido em termos mundiais, mas aquilo que possa fazer diferença na vida dos estudantes e da comunidade", afirma Sueli Furlan, docente da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e selecionadora da área de Geografia do Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10.
Isso não quer dizer que nunca serão feitas abordagens mais abrangentes sobre a questão ambiental. O desafio é pensar globalmente e agir localmente. Por exemplo, participar de um projeto de reflorestamento do entorno da escola pode tornar a discussão sobre o desmatamento da Amazônia mais significativa para crianças e adolescentes que moram no sul do país. O problema da diminuição das áreas verdes no planeta fica, assim, mais próximo ao cotidiano dos alunos, que aprendem a importância de combatê-lo e descobrem, na prática, como ajudar.
Além de apostar na contextualização dos temas ambientais, é preciso estudar e manter-se atualizado - o que, vale lembrar, não é responsabilidade apenas dos professores de Ciências e Geografia. Pesquisas sobre a água mostram que é preciso diminuir o consumo no curto prazo para barrar a ameaça de escassez e que mesmo o Brasil, dono de grandes reservas, precisa redobrar seus cuidados. "Há muito desperdício. A distribuição não combina com as necessidades da população e a poluição é um problema", diz José Galizia Tundisi, presidente do Instituto Internacional de Ecologia de São Carlos, no interior de São Paulo.
Já em relação ao aquecimento global, os pesquisadores alertam que o impacto das ações humanas sobre o clima ultrapassou os limites aceitáveis e, por isso, é mais do que hora de mudar nosso estilo de vida. "Atualmente, somos 6,6 bilhões de habitantes consumindo o que existe sobre a superfície terrestre a um ritmo superior ao da capacidade de reposição do planeta. Estima-se que consumimos 25% além do que o meio ambiente consegue repor", alerta Emerson Galvani, geógrafo e professor da faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
A abordagem desses e outros assuntos em projetos implantados na escola requer alguns cuidados:
- Tratar os recursos naturais principalmente pela ótica do consumo consciente.
- Explicar que os fenômenos da natureza só provocam tragédias em áreas ocupadas pelo homem, em vez de mostrá-los como vilões.
- Abordar as questões ambientais de maneira interligada e não falar sobre elas isoladamente.
- Promover a redução do consumo e a reutilização de produtos, e não somente o processo de reciclagem (nem sempre é vantajoso).
- Fazer discussões com base no conhecimento científico e integrar os alunos nas decisões da escola, sem impor ações sem contexto nem significado para eles.
Ficar atento a tais pontos e implantar um projeto político pedagógico que privilegie o cuidado com o meio ambiente pode parecer uma atitude pequena diante das consequências que a humanidade já causou à vida na Terra. Porém provoca um grande impacto na aprendizagem dos alunos e muda a maneira como eles se relacionam com a natureza - uma esperança para recuperar o equilíbrio do planeta.

7 livros que ferraram a humanidade (ou quase)

Abril revistas
Teóricos equivocados podem causar grandes prejuízos. Já tivemos livros que incentivavam a matança de mulheres consideradas bruxas, defendiam a inferioridade de certas nacionalidades, diziam que as mulheres eram menos inteligentes que os homens. Com a ajuda de historiadores, listamos 7 livros que, por causa de teorias equivocadas, inspiraram pessoas a cometer atos e sustentar ideias desastrosas.
Os livros não estão em nenhuma ordem particular e, é claro, foi impossível listar todos eles. Comente e diga quais você acha que faltaram.

1- “L’uomo delinqüente” (O homem delinquente), Cesare Lombroso, 1876
O médico e cientista italiano Cesare Lombroso defende, nesse livro, a teoria de que certas pessoas nasceram para ser criminosas e que isso é determinado por características físicas, como nariz adunco e testa fina, traços típicos dos judeus. A obra fez muito sucesso e influenciou o direito penal no mundo todo. Mas o problema maior foi que a obra também reforçou várias teorias racistas – principalmente o anti-semitismo nazista. O detalhe é que o próprio autor era judeu e sua intenção era simplesmente ajudar a ciência penal e jurídica. Atualmente, a teoria caiu no descrédito. Mas, mesmo assim, ainda há quem a defenda (sempre tem, né?).

2- “Mein Kampf” (Minha Luta), Adolf Hitler, 1925
O livro de Hitler tem, na verdade, 2 volumes. O primeiro foi escrito quando ele tinha 35 anos e estava preso por causa de uma tentativa de golpe de estado mal-sucedida. O segundo, inédito no Brasil, foi escrito já fora da prisão. O livro se destacou pelo racismo e anti-semitismo do autor, que via o judaísmo e o comunismo como grandes males e ameaças do mundo – o autor pretendia erradicar ambos da face da terra. A obra revela o desejo de transformar a Alemanha num novo tipo de Estado que abrigasse a raça pura ariana e que o tivesse como um líder de grandes poderes. Era um aviso para o mundo, mas na época ninguém de fora da Alemanha deu muita bola. Mein Kampf ainda hoje influencia os neonazistas.

3- “A inferioridade intelectual da mulher”, Carl Moebius, século 19. Sem tradução para o português.
Psicólogo influente em meados do século 19, Moebius escreveu esse livro seguindo idéias já bastante disseminadas desde a época de Platão e Aristóteles e defendia a inferioridade feminina e a restrição dos seus direitos. Usando pesquisas e tabelas pseudo-científicas, ele comparou o desempenho feminino em determinadas áreas intelectuais quando em disputa com homens (em um teste parecido com o vestibular de hoje). Pensadores antifeministas citavam essa obra para apoiar teses de que as mulheres não deveriam ter uma série de direitos por serem “inferiores intelectualmente”.

4- “O martelo das bruxas” ou “Malleus Maleficarum”, Jacob Sprenger, 1485
Manual de caça às bruxas que levou muita gente à fogueira, o livro foi muito influente entre as igrejas católica e protestante. Jacob Sprenger indicou uma série de procedimentos para a identificação das bruxas: se a mulher tivesse uma convivência maior com gatos, por exemplo, já era suspeita. A obra foi responsável por quase 150 anos de matança indiscriminada de mulheres. A onda só passou depois que o método científico começou a prevalecer sobre a crença religiosa cega, a partir da publicação dos estudos de Isaac Newton. Com o pessoal discutindo assuntos científicos, pegava mal ficar caçando bruxa.

5- “Essai sur l’inégalité des races humaines” (Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas), Joseph Gobineau, 1855
O livro do cientista social Gobineau virou referência obrigatória para aqueles que defendem a superioridade de algumas raças sobre as outras. O autor desempenhou por um bom tempo cargo diplomático na corte de D. Pedro II e achava o Brasil “uó” por ter tanta miscigenação. Segundo ele, a miscigenação degenera as sociedades porque piora as supostas limitações das raças inferiores (as não-brancas, para ele). A obra passou a ser usada para sustentar a legitimidade do tráfico negreiro. Sua tese foi tão aceita que até hoje existem alguns cientistas que mantém a crença na superioridade de algumas raças.

6- ” The Man Versus the State ” (O Indivíduo Contra o Estado), Herbert Spencer, 1884
Embora alguns digam que essa é uma leitura injusta do livro, ele foi utilizado para a defesa do capitalismo selvagem no século 19, principalmente nos EUA. Spencer defende que, assim como ocorre na natureza, nas sociedades humanas também prevalecem os mais aptos. Isso quer dizer que os ricos e poderosos são assim porque estão mais preparados que os pobres. O livro passou a ser usado, então, para justificar a falta de ética nas relações comerciais, com a destruição implacável da concorrência, a busca incessante por riquezas e o pouco caso com os pobres.

7- The Seduction of the Innocent (“A sedução dos inocentes”), Frederic Wertham, 1954
Ok que o livro não gerou nenhuma atrocidade, mas ajudou a disseminar ideias equivocadas a respeito de uma coisa que a gente gosta: quadrinhos. No livro, o psiquiatra alemão-americano Werthan forjou argumentos para atribuir às HQs o papel de culpadas por casos de delinquência, abandono dos estudos e homossexualidade entre crianças e adolescentes. O livro foi lançado numa época em que as HQs eram um dos gêneros de leitura mais consumidos nos EUA e até o governo pensou em proibi-los (naquele tempo, rolava uma preocupação imensa nos EUA de que os jovens estivessem sendo corrompidos por idéias comunistas). Para evitar isso, as editoras lançaram o Comics Code Authority – um código de autocensura que ainda existe e que seria um indicativo de que o material publicado não iria degenerar os jovens.

* Não incluímos livros mal interpretados, “tsá”?
Não incluímos nessa lista os livros que foram simplesmente mal interpretados. A Bíblia é um exemplo disso. O professor de filosofia da UNESP Jézio Gutierre acha que o caso com “O Capital”, de Karl Marx, também tem a ver com interpretações equivocadas. “Esse livro é um grito ético humanista e tem todas as características para ser um livro anti-atrocidade”, explica. Para ele, portanto, não se pode atribuir a essa obra os massacres que governantes socialistas promoveram.
** Fontes: Lincoln Ferreira Secco (USP), Jézio Hernani Bomfim Gutierre (UNESP), Márcio dos Santos Rodrigues ( UFMG), Adriana Romeiro (UFMG)

The Doors, por eles mesmos, em livro

Pedro Antunes – Jornal da Tarde
Em 1966, o lugar mais descolado de Los Angeles para uma banda tocar era o Whisky a Go Go, na Sunset Strip, o grande centro hippie da cidade. Para a banda recém-criada The Doors, tocar lá era um sonho. Mas, antes, eles precisavam de uma escola. E este foi o London Fog, um bar de segunda categoria, nas proximidades da famosa casa de shows.
Depois de uma estreia promissora – só com os amigos da banda, diga-se – o quarteto formado por Jim Morrison, Ray Manzarek, John Densmore e Robby Krieger conseguiu uma temporada no Fog. Nos melhores dias, 15 pessoas apareciam por lá.
Tímido, Morrison cantava de costas para a plateia, normalmente prostitutas e marinheiros. Naquele muquifo, no qual a cabeça do vocalista quase tocava o teto, aos poucos, a banda começou a se soltar. Ali, o poeta retraído Morrison começou a se tornar um ícone do rock’n’roll. Detalhe: sem saber tocar instrumento algum e inseguro quanto à qualidade da própria voz.
“Ao final daquela temporada, estávamos afiados”, conta o tecladista Ray Manzarek, no novo livro “The Doors por The Doors, do jornalista Ben Fong-Torres”. “No London Fog, ele realmente se transformou, criando coragem para enfrentar a plateia e aprimorando a sua performance”, completa John Densmore, baterista do Doors.
Quando chegaram ao Whisky a Go Go, ainda em 66, eles encontraram um problema: um repertório nada extenso. As 12 músicas próprias e outras poucas covers de blues até eram suficientes para os shows vazios no Fog, mas não lá.
A recém-criada “Light My Fire” ganhou solos e chegou aos 7 minutos de duração, o mesmo aconteceu com outras canções. Já os tenebrosos versos de “The End” surgiram em 21 de agosto daquele ano. Era uma das primeiras amostras da total falta de controle de Morrison. Ele estava atrasado para o show.
O resto da banda tocou a primeira parte da noite sem ele. Um dos proprietários deu um ultimado para a chegada do vocalista. Jim foi encontrado chapado e, então, levado ao palco. Enquanto cantava “The End” acrescentou versos que congelaram a todos: “Father… I want do kill you / Mother… I want to fuck you” (em tradução literal: “Pai, eu quero te matar / Mãe, eu quero te f…”). Assim chocaram. E assim ficaram.
A nova biografia da banda californiana, de Fong-Torres, é toda contada pelos integrantes do grupo, inclusive com entrevistas de Morrison, familiares, amigos e conhecidos. Daí seu título. O autor/narrador aparece em momentos pontuais para dar contextualizações ou colocar sua experiência pessoal como jornalista musical.
O autor também teve méritos ao inserir os comentários dos pais do vocalista, que, segundo o próprio Morrison, estavam mortos. “Ele me ligou e disse que cairia na estrada com uma banda de rock”, diz, no livro, o pai do cantor, Almirante Morrison. “Eu falei: ‘Você está no caminho errado. Vá arrumar um emprego’”. Pai e filho nunca mais se viram.
Fong-Torres foi o último jornalista a entrevistar Jim Morrison, antes da sua morte misteriosa, aos 27 anos, em 1971, em Paris. “Estamos numa encruzilhada em nossa carreira. Nos próximos cinco ou seis meses, saberemos como será nosso futuro”, disse Morrison ao jornalista, no início de 1971. Cinco meses depois, Morrison estava morto. E eternizado pelo rock e pelas polêmicas.

A Independência do Brasil decretada por uma mulher

No dia 7 de setembro é comemorado o dia da Independência do Brasil, porém, poucos sabem que este fato teve a mãozinha de uma mulher: Leopoldina Beatriz de Habsburgo, a primeira imperatriz do Brasil que viveu menos de trinta anos e nove deles em nosso país.
D. Pedro fez o ato da proclamação da Independência; contudo, não podemos excluir o direito de D. Leopoldina receber o mérito de elaborar junto à Bonifácio as manobras políticas necessárias para a libertação do nosso país, quando assumiu o comando da regência interina do Brasil no dia 13 de agosto de 1822; no dia 2 de setembro decretou a libertação do país cinco dias antes da sua proclamação.
Só nos foi possível tomar conhecimento dessa história em 1960, quando um leiloeiro de Munique, na Alemanha, anunciou a venda de oito mil cartas de Maria Luísa, irmã de D. Leopoldina (duzentas e quarenta cartas da nossa Imperatriz). Desta forma, conhecemos com mais intimidade a arquiduquesa Leopoldina que falava onze idiomas, dentre eles, o esloveno, croata, tcheco, alemão, húngaro, turco, boêmio, espanhol, italiano, português e o latim. Além disso, era conhecedora da arte heráldica e determinou que as cores do Brasil depois da independência, fossem o verde-amarelo. Sempre atuante, também ajudou a redigir os textos para D. Pedro, sendo possível neles verificar sua inicial, abaixo da assinatura do Imperador.
Se perguntarmos a qualquer brasileiro o nome de uma mulher que tenha se destacado ao lado de D. Pedro I, certamente obteremos a resposta: "Marquesa de Santos" que entrou para a história como sinônimo de suas proezas amorosas. Porém, diante deste romance, o índice de rejeição da população tomou proporções desmedidas contra o Imperador, já que D. Leopoldina era muito querida pelos súditos, pois havia conquistado a solidariedade das camadas populares. Temendo manifestações mais radicais do povo contra ele, Pedro ordenou que a Imperatriz permanecesse em cárcere privado. Ela adoeceu em decorrência de um ponta-pé desferido em seu ventre por D. Pedro, morrendo aos 29 anos.
Creio que o resgate histórico é fundamental para que o mundo moderno caminhe para a verdadeira igualdade de gênero; relembrar este fato é prestar a devida homenagem à Leopoldina, que foi exemplo de perseverança, coragem, amor e devoção ao Brasil.

Felicidade custa R$ 11 mil por mês, aponta estudo

Portal UOL
Para saber até que ponto dinheiro compra felicidade, estatísticos analisaram um banco de dados gigantesco nos EUA. Descobriram um valor a partir do qual mais riqueza não significa mais bem-estar: R$ 11 mil por mês.

"Uma renda pequena exacerba as dores emocionais associadas a problemas como divórcio, doença ou solidão", diz Daniel Kahneman, da Universidade Princeton, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2002 e coautor da nova pesquisa publicada na revista científica "PNAS".
Para ser feliz, então, o importante não é ser rico, mas sim não ser pobre, revelam entrevistas feitas com mais de 450 mil americanos.
A pesquisa funciona assim: entrevistadores pedem que as pessoas relatem a frequência com que se sentiram felizes ou sorridentes recentemente. Perguntam o mesmo com relação ao estresse. Pedem também que, em uma escala de zero a dez, digam o quanto estão satisfeitas com as suas vidas --a "nota" média dada pelas pessoas foi de 6,76. Cruzam, então, as respostas obtidas com dados sobre a vida dos entrevistados.



Assim, eles descobriram, por exemplo, que gente solitária se sente muito infeliz até em comparação com quem sofre de um problema crônico de saúde.
Ter filhos, por outro lado, traz felicidade. Mas, curiosamente, em média o efeito é menor do que o de ter um plano de saúde --ao menos em países em que o sistema público de hospitais é ruim, como os EUA e talvez o Brasil.
Surpreende também a correlação entre envelhecer e se sentir mais feliz. Aparentemente, os anos fazem com que as pessoas aprendam a lidar com as dificuldades.
O fator campeão de bem-estar, porém, é ser uma pessoa religiosa. Angus Deaton, também de Princeton, esboçou uma explicação para a Folha sobre isso.
"Quem vai à igreja faz amigos por lá, e isso tem um impacto muito bom. A religião também ajuda os fiéis a entender algumas questões mais difíceis da vida, e isso pode servir de apoio em tempos difíceis. Além disso, muitas igrejas oferecem cuidado médico ou apoio social."
A fé é o único fator que consegue até ganhar do dinheiro na busca pela felicidade.
O valor de R$ 11 mil reais, claro, serve como indicador, mas é bom ter em mente que, como ele se refere aos Estados Unidos, uma margem de erro precisa ser levada em consideração ao adaptá-lo ao Brasil --onde, ao menos em algumas cidades, o custo de vida pode ser bem diferente.
"Nós sabemos, por exemplo, que os latino-americanos costumam se sair bem em medições de felicidade", recorda Angus Deaton.

Google TV divide a tela para usuário fazer buscas enquanto assiste à televisão

Portal Uol
“Hoje em dia você não compra um computador sem navegador. Com a televisão ocorrerá o mesmo.” Com essas palavras, Brittany Bohnet, gerente de produtos do Google, introduziu a apresentação da Google TV nesta terça-feira (7), na IFA 2010. Uma das funções mais interessantes é a que divide a tela para que o telespectador continue assistindo à TV enquanto faz buscas na web.
A Google TV foi apresentada em maio deste ano, mas antes da IFA 2010 ainda não havia sido exibida em público. Antes do evento do Google, os visitantes só puderam ver -- sem qualquer tipo de teste ou interação -- um modelo de TV da Sony desenvolvido para rodar a plataforma do Google.
Convidada ao palco por Eric Schmdit, diretor-executivo do Google, Brittany mostrou o funcionamento da novidade usando um televisor ligado a um set-top box (espécie de conversor digital). Além das TVs que já sairão de fábrica com a plataforma, essas caixinhas representam outra alternativa para acesso via TV ao conteúdo disponibilizado na web.
Com um teclado sem fio, a funcionária controlou o aparelho para exibir o trailer do filme “Salt”, com Angelina Jolie. Na sequência, acessou o serviço LeanBack do YouTube, uma versão do site de vídeos que só exibe conteúdo em tela cheia. Para alegria dos adeptos aos jogos sociais, ela afirmou que será possível jogar Farmville pela TV. Serviços como Flickr (de fotos) e LastFm (de música) também serão compatíveis com a plataforma da empresa.
Por fim, foi apresentada a funcionalidade que permite acessar dois serviços de uma só vez. No Exemplo, Brittany começou a assistir ao filme “Top Gun” e fez uma busca por “Buy a Ferrari” (comprar uma Ferrari). Enquanto ela usava o Google, o filime era exibido em uma tela menor, no canto inferior direito. Há também a possibilidade de assistir a algo na TV e acessar redes sociais simultaneamente.
Os primeiros aparelhos com a Google TV serão lançados ainda este ano no mercado americano e europeu.

Abstêmio, D. Pedro 1º era "grande namorador" e andava com "amigos de reputação duvidosa"

Portal UOL
Figura central da Independência do Brasil, Dom Pedro 1º desperta paixões e dúvidas entre os historiadores. Mesmo a historiografia oficial o retrata de maneira controversa – um príncipe caprichoso, exímio músico, amante da equitação e um mulherengo inveterado. No entanto, era abstêmio.
“Dom Pedro foi um meteoro que cruzou os céus da história numa noite turbulenta. Deixou para trás um rastro de luz que ainda hoje os estudiosos se esforçam por decifrar. Viveu pouco, apenas 35 anos, mas seu enigma permanece nos livros e nas obras populares que inspirou”, descreve o jornalista Laurentino Gomes, que lançou 1822 em que faz “uma grande reportagem” sobre o processo de independência do país.
“Nasceu e morreu no mesmo quarto no Palácio de Queluz. Um quarto simbolicamente chamado ‘D. Quixote’. E não haveria local mais adequado para um personagem tão quixotesco quanto D. Pedro”, teoriza.

Dom Pedro 1º namorou até uma freira
“Além das duas mulheres oficiais – as imperatrizes Leopoldina e Amélia – teve mais de vinte amantes conhecidas, que incluíam escravas do palácio, senhoras da corte, mulheres casadas, dançarinas e atrizes, uma vendedora de louças e até uma freira do Convento da Esperança da Ilha Terceira, no Arquipélago dos Açores”, conta Laurentino, que pesquisou entre mais de 80 livros, além das 150 fontes que utilizou para escrever 1808, seu primeiro título.
Em entrevista por e-mail ao UOL Educação, Laurentino também contou que o grande amor da vida do primeiro imperador brasileiro foi a Marquesa de Santos, a paulista Domitila de Castro de Canto e Melo. “Grande namorador”, como o jornalista se refere ao primeiro imperador, ele também levou um caso com a irmã de Domitila, Maria Benedita, que depois ganharia o título de Baronesa de Sorocaba.
Com suas mulheres oficiais e as amantes, sabe-se que Dom Pedro teve pelo menos uma dúzia e meia de filhos. “Mas, curiosamente, assumiu e reconheceu todos eles, incluindo os bastardos”, diz o autor de 1822. “Dom Pedro era um pai amoroso e atento às necessidades dos filhos, como mostram as cartas e bilhetes que trocava com eles. Alguns eu reproduzo no meu livro.”

Liberal, Dom Pedro 1º admirava Napoleão
Para Laurentino, o imperador foi “um personagem à frente do seu tempo”. Admirador de Napoleão – o mesmo que fizera com que a Família Real fugisse para o Brasil em 1808 –, “tinha um discurso liberal, mas uma índole autoritária”.
“Fechou a constituinte em 1823 porque os deputados não se curvaram à sua vontade e, no ano seguinte, outorgou ao Brasil uma das constituições mais liberais e avançadas da época”, exemplifica o autor que retrata Dom Pedro como “um homem de idéias próprias e bem diferentes daquelas defendidas pelo seu pai, D. João VI, e a mãe, Carlota Joaquina”.
Questionado sobre a importância de José Bonifácio, conhecido como o Patriarca da Independência, Laurentino diz: “Com a ajuda dele, o jovem príncipe de apenas 23 anos conseguiu manter o país unido naquele momento em que os riscos de uma guerra civil e de separação das diferentes províncias eram enormes”.

"O Brasil de hoje deve sua existência à capacidade de vencer obstáculos que pareciam insuperáveis em 1822", diz Laurentino Gomes

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O jornalista Laurentino Gomes costuma dizer que escrever sobre a Independência do Brasil era "quase uma obrigação". Jornalista experiente e talentoso, ele é autor do famoso 1808, livro que narra as aventuras da família real no Brasil. Por que ler 1822? "Este é um livro reportagem, escrito em linguagem simples e acessível a qualquer pessoa interessada em entender um pouco melhor o Brasil de hoje", conta Laurentino.

Segundo ele, a colônia que viria a ser o Brasil, "tinha tudo para dar errado".

UOL Educação - 1822 é um livro apenas para quem gosta de histõria?
Laurentino Gomes - No livro eu mostro que em 1822 o Brasil tinha tudo para dar errado. De cada três brasileiros, dois eram escravos, negros forros, mulatos, índios ou mestiços. O analfabetismo era geral. Os ricos eram poucos e, com raras exceções, ignorantes. O isolamento e as rivalidades entre as províncias prenunciavam uma guerra civil, que poderia resultar na divisão do território, a exemplo do que já ocorria nas vizinhas colônias espanholas. Sem dinheiro, o novo país nascia falido. Curiosamente, esse Brasil improvável conseguiu se manter unido e se firmar como nação independente por uma notável combinação de sorte, acaso, improvisação, e também de alguma sabedoria. O Brasil de hoje deve sua existência à capacidade de vencer obstáculos que pareciam insuperáveis em 1822. E isso, por si só, é uma enorme vitória, mas de modo algum significa que os problemas foram resolvidos. Ao contrário. A Independência foi apenas o primeiro passo de um caminho que se revelaria difícil, longo e turbulento nos dois séculos seguintes. As dúvidas a respeito da viabilidade do Brasil como nação coesa e soberana, capaz de somar os esforços e o talento de todos os seus habitantes, aproveitar suas riquezas naturais e pavimentar seu futuro persistiram ainda muito tempo depois da Independência.

UOL - Dom Pedro 1º é de fato, o protagonista da histõria da Independência do Brasil?
Laurentino - D. Pedro foi um meteoro que cruzou os céus da história numa noite turbulenta. Deixou para trás um rastro de luz que ainda hoje os estudiosos se esforçam por decifrar. Viveu pouco, apenas 35 anos, mas seu enigma permanece nos livros e nas obras populares que inspirou. Raros personagens passaram para a posteridade de forma tão controversa. Era uma força viva da natureza.

UOL - E o Dom Pedro chefe de Estado, como era? Tinha ideias próprias ou sempre estava sob as asas de José Bonifácio?
Laurentino - Nas idéias políticas, D. Pedro foi um personagem à frente do seu tempo. Era admirador de Napoleão Bonaparte, o homem que havia obrigado seu pai, D Pedro, a fugir de Portugal. Tinha um discurso liberal, mas uma índole autoritária. Fechou a constituinte em 1823 porque os deputados não se curvaram à sua vontade e, no ano seguinte, outorgou ao Brasil uma das constituições mais liberais e avançadas da época. Depois de abdicar ao trono brasileiro, em 1831, voltou a Portugal para defender as idéias liberais numa guerra épica contra o irmão, D. Miguel, que havia usurpado o trono português em um golpe absolutista. A vitória de D. Pedro nessa guerra foi celebrada pelos liberais no mundo todo. Era, portanto, um homem que idéias próprias e bem diferentes daquelas defendidas pelo seu pai, D. João VI, e a mãe, Carlota Joaquina, que os últimos soberanos absolutos de Portugal.

UOL- Qual é a importância de José Bonifácio em todo o processo?
Laurentino - O Brasil que emergiu das Margens do Ipiranga em 1822 tem a inconfundível assinatura de José Bonifácio. Foi o grande conselheiro e braço direito de D. Pedro na Proclamação da Independência. Com a ajuda dele, o jovem príncipe de apenas 23 anos conseguiu manter o país unido naquele momento em que os riscos de uma guerra civil e de separação das diferentes províncias eram enormes. Bonifácio esteve à frente do ministério de D. Pedro por escassos dezoito meses, de janeiro de 1822 a julho de 1823, mas nenhum outro homem público brasileiro realizou tanto em tão pouco tempo. Sem ele, o Brasil de hoje provavelmente não existiria. Na Independência, Bonifácio era “um homem com um projeto de Brasil”, na definição do historiador e jornalista Jorge Caldeira. Na sua visão, a única maneira de impedir a fragmentação território brasileiro após a separação de Portugal seria equipá-lo com um “centro de força e unidade” sob o regime de monarquia constitucional e a liderança do imperador Pedro I. Foi essa a fórmula de Brasil que trinfou em 1822.

UOL - Pouco depois da Independência, iniciado o Primeiro Reinado, não demorou a ocorrer um desentendimento entre o poder Executivo, exercido por dom Pedro, e os parlamentares, de modo que nossa primeira Assembleia Constituinte foi fechada e nossa primeira Constituição outorgada (em vez de promulgada). Pode-se dizer que o estigma dos governos autoritários no país nasceu simultaneamente ao próprio país?
Laurentino - Os riscos do processo de ruptura com Portugal eram tantos em 1822 que a elite brasileira, constituída por traficantes de escravos, fazendeiros, senhores de engenho, pecuaristas, charqueadores, comerciantes, padres e advogados, se congregou em torno do imperador Pedro I como forma de evitar o caos de uma guerra civil ou étnica que, em alguns momentos, parecia inevitável. Conseguiu, dessa forma, preservar os seus interesses e viabilizar um projeto único de país no continente americano. Cercado de repúblicas por todos os lados, o Brasil se manteve como monarquia por mais de meio século. Como resultado, o país foi edificado de cima para baixo. Coube à pequena elite imperial, bem preparada em Coimbra e outros centros europeus de formação, conduzir o processo de construção nacional, de modo a evitar que a ampliação da participação para o restante da sociedade resultasse em caos e rupturas traumáticas. Alternativas democráticas, republicanas e federalistas, defendidas em 1822 por homens como Joaquim Gonçalves Ledo, Cipriano Barata e Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, este líder e mártir da Confederação do Equador, foram reprimidas e adiadas de forma sistemática.

UOL - Portugal só reconheceu a Independência do Brasil em 1825, mediante uma indenização de dois milhões de libras. Teria sido esse o primeiro “arranjo entre as elites” da história do Brasil?
Laurentino - A assinatura do tratado com Portugal, em 1825, abriu o caminho para que todas as demais monarquias europeias reconhecessem o Brasil independente. A primeira foi a Inglaterra, em janeiro de 1826. Depois, Áustria, França, Suécia, Holanda e Prússia. Os termos da negociação com Portugal, no entanto, causaram revolta entre os brasileiros e contribuíram para desgastar a imagem de D. Pedro, em especial quando se tomou conhecimento de uma cláusula secreta pela qual o Brasil se comprometia a pagar aos portugueses a quantia de dois milhões de libras esterlinas a título de indenização. Parte desse dinheiro seria destinado a cobrir empréstimos que Portugal havia contraído na Inglaterra com o objetivo de mobilizar tropas, navios, armas e munições para combater a emancipação do Brasil entre 1822 e 1823. Propriedades e outros bens portugueses confiscados durante os conflitos também seriam devolvidos aos seus donos originais. Em resumo, depois de ganhar a guerra caberia aos brasileiros ressarcir os prejuízos dos adversários derrotados. Os adversários acusaram D. Pedro de “comprar a independência”