terça-feira, 7 de setembro de 2010

The Doors, por eles mesmos, em livro

Pedro Antunes – Jornal da Tarde
Em 1966, o lugar mais descolado de Los Angeles para uma banda tocar era o Whisky a Go Go, na Sunset Strip, o grande centro hippie da cidade. Para a banda recém-criada The Doors, tocar lá era um sonho. Mas, antes, eles precisavam de uma escola. E este foi o London Fog, um bar de segunda categoria, nas proximidades da famosa casa de shows.
Depois de uma estreia promissora – só com os amigos da banda, diga-se – o quarteto formado por Jim Morrison, Ray Manzarek, John Densmore e Robby Krieger conseguiu uma temporada no Fog. Nos melhores dias, 15 pessoas apareciam por lá.
Tímido, Morrison cantava de costas para a plateia, normalmente prostitutas e marinheiros. Naquele muquifo, no qual a cabeça do vocalista quase tocava o teto, aos poucos, a banda começou a se soltar. Ali, o poeta retraído Morrison começou a se tornar um ícone do rock’n’roll. Detalhe: sem saber tocar instrumento algum e inseguro quanto à qualidade da própria voz.
“Ao final daquela temporada, estávamos afiados”, conta o tecladista Ray Manzarek, no novo livro “The Doors por The Doors, do jornalista Ben Fong-Torres”. “No London Fog, ele realmente se transformou, criando coragem para enfrentar a plateia e aprimorando a sua performance”, completa John Densmore, baterista do Doors.
Quando chegaram ao Whisky a Go Go, ainda em 66, eles encontraram um problema: um repertório nada extenso. As 12 músicas próprias e outras poucas covers de blues até eram suficientes para os shows vazios no Fog, mas não lá.
A recém-criada “Light My Fire” ganhou solos e chegou aos 7 minutos de duração, o mesmo aconteceu com outras canções. Já os tenebrosos versos de “The End” surgiram em 21 de agosto daquele ano. Era uma das primeiras amostras da total falta de controle de Morrison. Ele estava atrasado para o show.
O resto da banda tocou a primeira parte da noite sem ele. Um dos proprietários deu um ultimado para a chegada do vocalista. Jim foi encontrado chapado e, então, levado ao palco. Enquanto cantava “The End” acrescentou versos que congelaram a todos: “Father… I want do kill you / Mother… I want to fuck you” (em tradução literal: “Pai, eu quero te matar / Mãe, eu quero te f…”). Assim chocaram. E assim ficaram.
A nova biografia da banda californiana, de Fong-Torres, é toda contada pelos integrantes do grupo, inclusive com entrevistas de Morrison, familiares, amigos e conhecidos. Daí seu título. O autor/narrador aparece em momentos pontuais para dar contextualizações ou colocar sua experiência pessoal como jornalista musical.
O autor também teve méritos ao inserir os comentários dos pais do vocalista, que, segundo o próprio Morrison, estavam mortos. “Ele me ligou e disse que cairia na estrada com uma banda de rock”, diz, no livro, o pai do cantor, Almirante Morrison. “Eu falei: ‘Você está no caminho errado. Vá arrumar um emprego’”. Pai e filho nunca mais se viram.
Fong-Torres foi o último jornalista a entrevistar Jim Morrison, antes da sua morte misteriosa, aos 27 anos, em 1971, em Paris. “Estamos numa encruzilhada em nossa carreira. Nos próximos cinco ou seis meses, saberemos como será nosso futuro”, disse Morrison ao jornalista, no início de 1971. Cinco meses depois, Morrison estava morto. E eternizado pelo rock e pelas polêmicas.

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