sexta-feira, 16 de julho de 2010

Sobre Cuba - No cotidiano, um eterno salve-se-quem-puder

Revista Veja

Saúde e educação são para todos, mas o 'jeitinho' é uma necessidade

Produtos básicos de limpeza, de higiene pessoal e comida são artigos de luxo em Cuba. Viajando de leste a oeste da ilha, o que se vê é uma nação em colapso. Mercado negro, sonegação, corrupção, prostituição, malandragem e jeitinho passam são moeda corrente no país. Cuba é um salve-se-quem-puder. A economia é tão complexa que até a mais brilhante inteligência teórica teria dificuldade de entender seu funcionamento. Longe do turismo requintado e das estatísticas oficiais do governo, as dificuldades da população se aprofundaram com o fim da Guerra Fria. Com a suspensão da ajuda da União Soviética, no início dos anos 90, foi imposto o período especial, marcado principalmente por um severo racionamento de energia. A nação começou a se deteriorar. O salário que os cubanos recebem é o mesmo de sempre, mas antes pagava todas as contas do mês. Agora não paga. O Partido Comunista de Cuba teve de encarar o problema e, sem saída, abriu timidamente a economia para o capital estrangeiro.

A abertura da economia gerou empregos e atraiu capital estrangeiro para a maior e mais charmosa ilha do Caribe. Mas não melhorou a vida da maioria do povo. A cesta básica de alimentos distribuída pelo governo dura apenas uma semana. Para garantir o sustento para o resto do mês, os cubanos precisam fazer bicos. Os pesos só podem ser gastos em poucas lojas e em mercados públicos que vendem o mínimo do básico: arroz, feijão, açúcar, sal, café, cigarro, palito de fósforo, alguns legumes e pouca coisa a mais. Mesmo assim, a quantidade é limitada por pessoa. Outros artigos de primeira necessidade são destaque nas lojas - rolos de papel higiênico, panelas, recipientes plásticos, lamparinas, panos de chão são exibidos na vitrine. Produtos que no Brasil ficam escondidos no fundo da loja.

As roupas vendidas em pesos são usadas - o preço varia conforme o número de vezes que elas foram recicladas. Mais variedade de produtos só nas "tiendas" que vendem artigos importados, em dólar, ou então no mercado negro, que oferece artigos de porta em porta. O comércio paralelo é movimentado por pequenos furtos feitos por operários das fábricas, funcionários de armazéns estatais ou empregados de lojas. A opção pela ilegalidade é involuntária. Não tem saída. O povo depende do dólar para comprar sabonete, xampu, detergente, bolacha e leite. A economia cubana está dolarizada desde 1993, quando o governo permitiu que o dinheiro americano circulasse no país. Esse precedente causou mudanças profundas na sociedade. Quem tem acesso ao dólar, como os que possuem parentes no exterior que lhes enviam remessas do dinheiro regularmente, vive melhor que os demais. Essas pessoas abriram negócios para atender os turistas e aos poucos adquiriram um padrão de vida que as distancia da grande massa de trabalhadores. Está surgindo uma nova classe social em Cuba: a pequena burguesia.

Sob as barbas de Fidel - A juventude começa a se questionar se faz sentido passar tantos anos na universidade para depois receber um salário que não dá para viver. Sabem que se pode ganhar 40 dólares por mês como cozinheiro de um "paladar", restaurante particular. Uma grande massa de jovens está concluindo que estudar muito não enche o bolso de ninguém. Eles trabalham para empresas estatais, já que a ociosidade é crime em Cuba, e passam as horas livres perambulando pelas ruas em busca de dólares. A ilegalidade está escancarada sob as barbas de Fidel e todos fingem que não vêem. Na verdade, não só estão a par de tudo como participam do processo. A operação de um pequeno negócio mostra bem como a atividade informal está organizada no país. Percebendo a presença de turistas no local, inspetores do governo fazem uma visita ao proprietário. Para manter uma casa particular é preciso pagar um imposto para o governo. O valor é de 100 dólares mensais por quarto. Geralmente há mais de um quarto em cada casa, mas paga-se por apenas um. Sonegação clássica. A multa pelo descumprimento da regra é de 500 dólares. Para passar pela inspeção vale tudo. Desde oferecer suco de frutas, café e biscoitinhos até subornar o inspetor.

Além do imposto mensal, os donos de negócio próprio têm de entregar anualmente 10% do lucro ao governo. Em Santiago de Cuba, ponto de partida dos revolucionários que tomaram o poder em 1959, a prostituição é visível nas ruas e nos hotéis de luxo. No quatro-estrelas Casa Granda, que fica no Parque Céspedes, onde Fidel Castro fez o primeiro discurso vitorioso da revolução socialista, prostitutas e gigolôs se misturam com hóspedes e músicos cubanos. A polícia assiste a tudo sem interferir. Todos levam um bom dinheiro nessa história. As prostitutas "classe A", como dizem os cubanos, podem ganhar até 100 dólares por cliente. A maior parte do dinheiro fica com o gigolô, que compra roupas e maquiagem para suas moças e paga um pedágio à polícia para poder tocar o negócio. Fidel condenou a prostituição em vários de seus longos discursos, mas anda calado. A atividade é um dos pontos altos do turismo, que atrai mais de 1 bilhão de dólares para o país a cada ano. A todo momento somos abordados nas ruas por algum cubano oferecendo tabaco muito em conta, uma "jinetera", como são chamadas as prostitutas, drogas e até balas e bombons.

Saúde burocratizada - O furto já é uma atividade institucionalizada em Cuba. O comércio ilegal de tabaco, um dos principais itens de exportação do país, é dos mais visíveis. Muitos cubanos obtêm o sustento da mesma forma. Como em qualquer lugar do mundo, a ilegalidade rende muito dinheiro. O charuto Cohiba, marca famosa criada pelos revolucionários, é vendido a 385 dólares a caixa de 25 unidades na loja da fábrica, em Havana. Dez vezes mais caro do que é cobrado nas ruas, cuja procedência é duvidosa. Em Cuba, o turista é bem tratado porque representa o caminho mais curto para chegar ao dólar. Também não há arma de fogo. Esse é um aspecto positivo de Cuba. Não há assaltos, só pequenos furtos. Arma é proibida, nem no mercado negro se pode encontrar um revólver. O Código Penal é muito rígido. Os cubanos preferem ficar longe da criminalidade mais pesada. É agradável, ainda, ver crianças calçadas e vestidas decentemente. Todas estão na escola, sem exceção. Mão-de-obra infantil também não se vê. As crianças têm tempo para se divertir jogando bolinha de gude e beisebol nas ruas. O estudo é obrigatório, e os pais que desobedecem à lei são multados. Ao contrário do que se imagina, porém, a escola não é totalmente gratuita. Custa 40 pesos mensais para o ensino primário, cerca de 20% do salário médio cubano. Também surpreende o fato de que não há vagas suficientes nas universidades. Há um teste de seleção, como o vestibular no Brasil.

A saúde é para todos, mas o acesso é burocratizado. Tem gente que não consegue ser operada por falta de médico, equipamento cirúrgico, leito ou qualquer outro problema. Os cubanos reclamam, principalmente, da falta de medicamentos. Muitos pensam em deixar o país e já não é mais preciso recorrer a um bote improvisado para atravessar os 120 quilômetros que separam a ilha da Flórida, nos Estados Unidos, onde vivem mais de 1 milhão de cubanos, cerca de 10% da população. O governo não proíbe a saída para maiores de 18 anos, mas é difícil um cubano conseguir um visto permanente fora de casa. O governo permite o matrimônio cubanos com estrangeiros residentes em Cuba, mas cobra alto pela concessão, 800 dólares. A conta ainda inclui a tarjeta branca, autorização para um cubano sair do país (150 dólares), passaporte (50 dólares) e passagem aérea (400 dólares). Isso sem considerar o preço que um estrangeiro pede para casar-se, cerca de 500 dólares. A soma total chega a quase 2.000 dólares.

Ícones americanos - A sociedade cubana está fragilizada. Sabe que vive um período de transição e teme o futuro. Fala-se muito no país sobre a debilidade da saúde de Fidel Castro. De fato, os discursos dele estão mais curtos. A voz apagada e rouca atrapalha. O sucessor ainda não está definido, mas para os cubanos ninguém está à altura de Fidel, há mais de quatro décadas no poder. Os cubanos são fidelistas, não socialistas. Entretanto, o enriquecimento de algumas pessoas já está colocando essa harmonia em jogo e causa insatisfação por parte dos menos abastados. Há um clima tenso no ar. Os cubanos estão inquietos. Há pouco tempo não se via ninguém reclamar dos primitivos e lotados ônibus que circulam pelas ruas. Hoje, o povo questiona, sem receio, até quando terá de agüentar tamanho incômodo. É proibido criticar o governo, mas ouvem-se freqüentemente queixas contra preços altos e autoritarismo da polícia. Alguns acreditam que a situação difícil do país vem do embargo econômico. Os mais críticos lembram a falta de iniciativa do governo em promover o desenvolvimento, quando contava com a ajuda farta dos soviéticos. Para o governo cubano há ainda uma situação delicada a resolver: as relações com os Estados Unidos. São mais de quarenta anos de animosidade, com raros períodos de calmaria. Cedo ou tarde essa questão terá de ser resolvida. Alheios a qualquer situação diplomática, crianças andam pelas ruas com o Mickey estampado nas camisetas e adultos exibem camisas de times de beisebol dos Estados Unidos. Os ícones americanos convivem pacificamente com as imagens dos heróis da revolução Fidel Castro e Che Guevara, reproduzidas à exaustão nas fachadas dos prédios públicos, nos outdoors ou em qualquer estabelecimento comercial. Para os cubanos, o que está em jogo não é ser revolucionário ou contra-revolucionário. O que importa é a luta pela sobrevivência.

Sobre Cuba - Da revolução à decadência

Revista Veja
A virada socialista de 1959 e o isolamento pós-soviético, nos anos 90

Cuba foi um dos últimos países a se libertar do domínio espanhol. Sua independência foi em muito patrocinada pelos Estados Unidos, que tinham interesse econômico na ilha. Cuba era próxima à Flórida, possuía grandes belezas naturais e era a principal produtora mundial de açúcar. O grande herói da independência cubana foi o poeta e jornalista José Martí, porém ela não teria se concretizado sem a "ajuda" dos norte-americanos. À beira da revolução, o clima em Cuba era tenso. Explodiam revoltas que buscavam a sua independência. O patriotismo aflorava em busca da liberdade. Com o apoio dos EUA, a vitória cubana foi fácil. Mas Cuba saiu da dominação espanhola e passou a ser dominada pelos EUA. Em 1901 foi incorporada à Constituição cubana uma emenda que previa a "doação" da Baía de Guantánamo para os norte-americanos instalarem uma base militar. Ao longo de cinco décadas, ditaduras mantidas pelos EUA foram instaladas em Cuba. Em 1953, o ditador era Fulgêncio Batista, que governava segundo os interesses de empresas transnacionais. Os cubanos não tinham poder de decisão sobre seu país e a liberdade era uma utopia. O povo não estava ao lado de Batista e passou a contestar seu despotismo. No mesmo ano, um grupo de jovens, comandado por um ex-líder estudantil e jovem advogado chamado Fidel Castro, atacou a Fortaleza de Moncada, em Santiago. Objetivavam tomar armas para financiar uma revolução. Mas fracassaram e somente 30 dos 150 revoltosos sobreviveram. Estes foram condenados à prisão e, depois de cumprirem parte da pena (Fidel cumpriu 22 meses), foram anistiados e banidos de Cuba. Foram derrotados, mas Castro passou a ser uma referência na luta contra Fulgêncio Batista.

Exilaram-se no México, reorganizaram-se e começaram a treinar para uma nova tentativa de revolução. Nesse momento Ernesto Guevara, o Che, aderiu ao grupo. Também faziam parte dele Camilo Cienfuegos e Raúl Castro, irmão de Fidel. Constituíram o Movimento Revolucionário 26 de Julho. Em novembro de 1956 partiram de um porto mexicano no iate Granma com destino a Cuba. Eram 82 pessoas armadas com dois canhões antitanque, 35 rifles com mira telescópica, 53 fuzis mexicanos, 3 metralhadoras Thompson e 40 metralhadoras leves. Os motores defeituosos e a sobrecarga do Granma, bem como o mau tempo e erros na navegação atrasaram a chegada dos revoltosos. Com isso, o governo de Batista, sabendo da tentativa revolucionária, organizou um contra-ataque. Logo após o desembarque as tropas do governo dizimaram os revolucionários. Os únicos doze sobreviventes dispersaram-se e se embrenharam na mata. Quase sem comida, desprovidos de água, com poucas armas e em condições físicas horríveis, caminharam durante dias até chegarem a Sierra Maestra, onde se reuniram novamente. Sobreviveram graças ao apoio que receberam dos camponeses. Os remanescentes do grupo, liderados por Fidel, Che, Raúl e Cienfuegos, juntamente com os novos recrutados, foram obtendo importantes e estratégicas vitórias contra as tropas governistas. Numa verdadeira epopéia, a guerrilha revolucionária caminhava rumo à capital cubana. Com a vitória final finalmente consumada, Fulgêncio fugiu do país e no dia 1º de janeiro de 1959 as colunas guerrilheiras tomaram toda a ilha.

Guinada socialista - Um novo capítulo da história cubana começava. Fidel Castro projetou um governo fortemente nacionalista e disposto a combater a corrupção. Houve, então, a ampla reforma urbana e agrária, o aumento da construção de escolas e hospitais, a distribuição mais igualitária da renda, as maciças campanhas de alfabetização, a nacionalização das empresas, a elevação dos níveis salariais. Em abril de 1961, Fidel Castro, em célebre discurso, finalmente anunciou que Cuba se tornaria um país socialista. Assim, aproximou-se da URSS em busca de ajuda militar, técnica, financeira, econômica e diplomática. A URSS passou a comprar açúcar a preço acima do mercado e a vender petróleo mais barato para Cuba. A URSS financiou Cuba para ter um modelo socialista no continente americano. Em represália, os EUA impuseram um bloqueio comercial contra a ilha, e obrigaram outros países a fazê-lo também - na América, somente o México não aderiu. Também romperam relações diplomáticas e tentaram, sem sucesso, invadir Cuba, a partir da Baía do Porcos. Para evitar mais invasões, os soviéticos, então comandados por Nikita Krutchev, instalaram mísseis nucleares em Cuba. Kennedy, o então presidente norte-americano, ordenou um bloqueio naval à ilha. URSS e EUA quase promoveram uma hecatombe nuclear, mas acabaram acertando um acordo que determinava a retirada dos mísseis russos e o compromisso dos EUA de não mais invadirem Cuba. Esse episódio ficou conhecido como a Crise dos Mísseis.

Com o colapso da URSS no final de 1991 as dificuldades de Cuba foram agravadas. Já não podia mais vender seu açúcar para a URSS acima do preço de mercado e comprar petróleo barato. Além disso, os EUA agravaram o embargo comercial contra a ilha em 1992 e 1996. Cuba tornou-se, assim, um país relativamente isolado do resto do mundo. Com pouco petróleo, os cubanos tiveram de encontrar meios de locomoção alternativos, como a bicicleta. Os índices sociais decaíram. Sem poder comercializar com boa parte dos países do planeta, Cuba teve seus recursos financeiros prejudicados. A ilha hoje abriga um ditador em decadência senil, presos políticos, um paredão onde três dissidentes foram executados em 2003, prisioneiros de guerra, militares americanos e uma onda de cidadãos que tentam, dia após dia, deixar o país a bordo de um bote inflável. Em Cuba, cercada de mar por todos os lados, convivem o inigualável poderio americano e o desafio insistente a ele levantado pela revolução de Fidel Castro, a idéia da liberdade e sua negação, as filas para comprar comida e as comodidades do fast food e outros paradoxos. Nos estertores de um regime que parece não acabar nunca, o fuzilamento de três cidadãos que seqüestraram um barco para fugir da ilha e a condenação de mais 75 pessoas a penas que chegam a 28 anos de prisão por delito de opinião abalou a fé até mesmo de grandes admiradores de Fidel Castro. O escritor português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura de 1998, velho amigo do regime castrista, finalmente rompeu com ele.

Dissidente cubano quer desculpas do presidente Lula

Revista Veja
Um dos dissidentes cubanos libertados esta semana e exilado na Espanha quer que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se desculpe pelas declarações que fez comparando os presos políticos de Cuba a detentos comuns do Rio de Janeiro e de São Paulo. Professor e jornalista, Pablo Pacheco, de 40 anos, passou mais de sete anos preso sob acusação de fazer "propaganda inimiga" ao criticar o regime dos irmãos Castro.

"Luiz Inácio Lula da Silva era, é um homem que admiro muito. Ele cometeu um erro ao nos comparar com os prisioneiros comuns que vivem em São Paulo ou Rio de Janeiro. O crime que cometemos foi amar Cuba acima de tudo. Se dissesse que sua declaração não me decepcionou, seria um grande mentiroso", disse, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. "Talvez ele possa se desculpar conosco um dia, porque não temos nada a ver com os presos comuns de São Paulo ou Rio - mesmo que eles sejam pessoas normais, que cometeram erros em suas vidas. Respeito muito Lula. Mas espero que se desculpe conosco, porque não foi consequente, não foi cortês."

Pacheco também criticou o comportamento dos Estados Unidos frente a sua libertação. "Sei que o governo dos Estados Unidos fez tudo o que pode para nos libertar, mas em um momento podia ter feito algo para impedir que eu fosse preso, e não fez, não protegeu minha família. A Espanha fez tudo para nos libertar." Seus planos, agora, incluem escrever um livro a partir de um diário que escreveu durante o período em que esteve na prisão e continuar lutando pela liberdade de expressão em seu país. "Nós, jornalistas, temos uma função especial", salientou.

Afirmando que se sente, agora, "o homem mais feliz na Terra", por voltar a conviver com a mulher e o filho de 11 anos, o exilado cubano disse que não se sente à vontade para comemorar enquanto seus "irmãos" continuarem na prisão. "Todo o meu corpo, o meu ser, o meu pensamento está em Cuba."

Lula e os presos políticos de Cuba - a contradição quando lhe convêm

Revista Veja
Presidente ignorou tudo o que já falou sobre o assunto e disse ter ficado feliz
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta quarta-feira uma comparação entre a recente libertação dos presos políticos de Cuba à sua saída da cadeia durante a Ditadura Militar. "Fiquei feliz (com a libertação dos nove cubanos, que chegaram a Madri entre terça e quarta-feira) como fiquei feliz quando fui solto da cadeia", acrescentando que no dia de sua liberação aproveitou para soltar um pássaro preto que possuía e que estava em uma gaiola. O comentário foi feito durante assinatura de acordos bilaterais entre Brasil e União Europeia, em Brasília.

Questionado se o Brasil não poderia ter auxiliado na libertação dos cubanos, dada a proximidade com os irmãos Castro, respondeu apenas: "Parabéns à Igreja Católica, parabéns ao governo cubano”, referindo-se ao intermédio do arcebispado de Havana em favor dos presos. “Deus queira que todos os países soltem seus presos políticos", disse Lula, que certa vez comparou os dissidentes aos bandidos das cadeias brasileiras. "Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade", afirmou na ocasião.

Em fevereiro, pouco antes de ir a Cuba, o presidente havia recebido uma carta de 50 dos 75 presos políticos detidos na onda de repressão que ficou conhecida como "Primavera Negra"- os mesmos que estão sendo libertados agora. Os dissidentes pediam que Lula advogasse em favor de sua libertação e, principalmente, falasse sobre a situação de Orlando Zapata, que estava em greve de fome havia mais de 80 dias.

Lula chegou a Cuba horas depois da morte de Zapata, não tocou no assunto com o governo cubano e negou que tivesse recebido o pedido dos presos. Ao ser confrontado com declarações dos dissidentes sobre sua postura, respondeu com ironia: “Se eles já são dissidentes de Cuba e agora querem ser dissidentes do Lula, não tem problema nenhum.”

Libertação - No fim da semana passada, o governo cubano anunciou um acordo com o Arcebispado de Havana para soltar os 52 presos políticos, detidos na Primavera Negra, em 2003. Nove deles já chegaram a Madri, na Espanha, e novas libertações são esperadas para os próximos dias. Segundo o governo, todos estarão livres em no máximo quatro meses.

Em resposta ao acordo, o opositor Guillermo Fariñas encerrou a greve de fome que mantinha havia 135 dias. No entanto, segundo seus médicos, Fariñas ainda se encontra em estado grave e corre risco de morte.

Frases de Lula - "Imagine se todos os bandidos que estão presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade", sobre pedido dos dissidentes cubanos para que intercedesse a favor da libertação

“Se eles já são dissidentes de Cuba e agora querem ser dissidentes do Lula não tem problema nenhum”, em resposta às críticas que recebeu dos dissidentes por não ter ajudado

“Eu não recebi nenhuma carta. As pessoas precisam parar com o hábito de fazer carta, guardar para si e depois dizer que mandaram para os outros”, sobre carta enviada pelos dissidentes cubanos e confirmada como recebida pelo Planalto

"Lamento profundamente que uma pessoa se deixe morrer por fazer uma greve de fome. Vocês sabem que sou contra, porque fiz greve de fome", sobre a morte de Orlando Zapata, dissidente que ficou em greve de fome por mais de 80 dias, a quem tratou como suicida

Do Blog: quando pôde ajudar virou as costas aos presos para não contrariar Fidel Castro e agora que o mundo aplaude a libertação e o exílio na Espanha, Lula diz que ficou feliz. Cara de pau oportunista, sempre.

Bolsistas do Capes e CNPq poderão ter outra fonte de renda

Atividade deve estar relacionada à área de atuação do estudante
Uma portaria publicada nesta sexta-feira permite que os bolsistas matriculados em programas de pós-graduação que recebem o fomento da CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico Tecnológico) e do Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) recebam também remuneração de outras fontes.

O documento foi assinado na quinta-feira pelos presidentes Jorge Guimarães (Capes) e Carlos Alberto Aragão (CNPq). A iniciativa atende a uma antiga reivindicação dos bolsistas, que agora poderão exercer atividade remunerada.

As atividades, no entanto, terão de ser aprovadas pelos orientadores e informadas aos programas de pós-graduação. Além disso, devem estar relacionadas à área de atuação do estudante e ser de interesse para sua formação, segundo a portaria. Caso seja comprovado algum tipo de desrespeito às regras condições estabelecidas na portaria, o bolsista será obrigado a devolver a Capes ou CNPq os valores recebidos a título de bolsa.

Banda larga no Brasil é cara e lenta, conclui Idec

Revista Veja
O brasileiro paga caro pela internet e não recebe as informações corretas sobre o serviço que é oferecido. Essa é a conclusão de uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), que comparou o preço e a qualidade da banda larga em seis capitais brasileiras. "A internet no Brasil é cara, lenta e restrita", ressaltou Estela Guerrini, advogada do Idec, responsável pela pesquisa. Na visão do instituto, a concorrência "quase inexistente" é a principal vilã para os preços da banda larga no mercado brasileiro.

Para ter internet rápida em casa, o cidadão desembolsa em média 28 dólares por mês, valor que chega a 4,58% da renda per capita no país, segundo o Idec. Nos EUA, o valor é de apenas 0,5% da renda per capita dos americanos e, na França, é de 1,02%. Além disso, apesar de pagar caro, o consumidor brasileiro não recebe um bom serviço. Segundo levantamento recente realizado pela empresa americana Akamai, a velocidade de tráfego da internet brasileira é uma das mais lentas do mundo.

A pesquisa mostra que a velocidade média é de pouco mais de um megabit por segundo (Mbps), 93% menor que a velocidade média da Coreia do Sul, líder do ranking. Além disso, 20% das conexões no país têm velocidade inferior a 256 quilobits por segundo (Kbps), o que passa ao largo da velocidade mínima estabelecida pela União Internacional de Telecomunicações (UIT), entre 1,5 e 2 Mbps.

O Idec aponta ainda diversas deficiências de qualidade na prestação do serviço aos clientes. A principal queixa do órgão de defesa do consumidor é em relação à variação da velocidade, pois a maioria das empresas só se compromete a entregar um porcentual mínimo de conexão. Segundo o Idec, o site e o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) da Ajato, por exemplo, nada falam sobre o problema. E o contrato prevê que a operadora não se responsabiliza pelas diferenças de velocidade em decorrência de fatores externos.

Na Net, o site e o SAC nada falam sobre variação de velocidade. Mas o contrato prevê que a velocidade máxima ofertada em cada uma das faixas é de até 10% da indicada. No caso da Telefônica, o site não fala sobre variação de velocidade e o SAC informa que a velocidade pode variar. O contrato, por outro lado, prevê que as velocidades estão sujeitas a variações.

O site da GVT não informa sobre variação de velocidade. O SAC aponta que há pouca variação de velocidade e o contrato prevê que algumas velocidades máximas são garantidas apenas para o acesso à rede da companhia. A Oi, segundo o Idec, também não dá informações sobre variação de velocidade no site da empresa. Seu SAC informa que a velocidade é sempre a mesma, em qualquer horário, e o contrato, por outro lado, prevê que as faixas de velocidade não são garantidas.

Procurada, a GVT informou que sua proposta de valor é oferecer "o melhor custo-benefício do mercado". A Telefônica informou que "tem compromisso com a garantia da qualidade na oferta e prestação do serviço de banda larga, seja com a marca Speedy, seja com a marca Ajato". A Oi informou que "os custos incorridos na prestação do Oi Velox (...) são diferenciados por localidade". Já a Net disse que "garante em contrato o mínimo de 10% da velocidade contratada, e não apenas 10%".

Brasileiros sequenciam DNA humano completo

Revista Veja
R$ 4 milhões foram investidos para realizar o sequenciamento, pela primeira vez, no Brasil
Pesquisadores brasileiros sequenciaram, pela primeira vez no País, o genoma humano completo. O feito coincide com os dez anos do projeto que desvendou o DNA da bactéria Xylella fastidiosa e iniciou a pesquisa genômica no Brasil.

Na realidade, os cientistas sequenciaram dois genomas completos: o de uma célula tumoral e o de um linfócito sadio - célula de defesa do sangue. Ambos vieram da mesma pessoa, uma mulher indiana de 61 anos com câncer de mama. O objetivo foi identificar diferenças no DNA que ajudem a entender a doença.

O Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, em São Paulo, coordenou o estudo. As amostras vieram de um banco de células em Nova York. O Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis (RJ), sequenciou os dois tipos de células e gerou dados que permitiram a identificação de mutações pontuais.

Uma filial do Ludwig em San Diego, na Califórnia, também realizou o sequenciamento completo, mas produziu informações para o estudo de rearranjos nos cromossomos.

As sequências geradas nos dois centros foram enviadas para a unidade paulistana do Ludwig, que realizou uma análise minuciosa. Os resultados serão publicados em uma revista científica internacional.

"Um dos motivos pelos quais escolhemos o câncer de mama é sua prevalência entre as mulheres brasileiras", explica Anamaria Camargo, coordenadora do estudo, que recebeu cerca de R$ 2 milhões em financiamento dos Ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O Ludwig aportou quantia semelhante. Até agora, só foram publicados nove artigos sobre o genoma do câncer. Todos a partir de dezembro. O estudo brasileiro será o décimo e o primeiro a comparar o DNA completo de um tumor com o de uma célula sadia.

Mundo não acaba em 2012

Revista Veja
Textos maias não mencionam apocalipse daqui a dois anos, diz cientista
O mundo deverá passar ileso pelo ano de 2012, a julgar pelas declarações de Carlos Pallán, diretor do Acervo Hieróglifo e Iconográfico Maya do Instituto Nacional de Antropologia e História do México. Há alguns anos lendas dão conta de que os povos maias teriam deixado provas de que a vida no planeta se findaria em 2012 - a história deu à luz até um filme, de título homônimo.

Para Pallán, Em nenhum dos 15 mil textos existentes dos antigos maias está escrito que em 2012 haverá grandes cataclismos. O cientista disse que estas versões apocalípticas foram geradas em publicações esotéricas nos anos 1970, que assinalavam o fim da civilização humana para 2012, data que coincide com o décimo terceiro ciclo no calendário maia, no dia 21 de dezembro.

“Os maias jamais mencionam que o mundo vai acabar, jamais pensaram que o tempo terminaria em nossa época, o que nos reflete à consciência que alcançaram sobre o tempo, a partir do desenvolvimento matemático e da escritura”, destacou.
Pallán ainda explica que a data correta para o final do ciclo é 23 de dezembro de 2012 - e não 21, como vem sendo veiculado.

Na pior das hipóteses, caso as observações do cientista estejam erradas, teremos dois dias a mais de vida no planeta.

Cientistas descobrem nova explicação para a velha pergunta: quem veio antes, o ovo ou a galinha?

Revista Veja
Cientistas britânicos descobrem proteína que, unida ao carbonato de cálcio, é responsável pela formação da casca do ovo
De acordo com uma equipe de pesquisadores da Universidade de Warwick e Sheffield, ambas da Inglaterra, a resposta para a antiga pergunta “O que veio primeiro, o ovo ou a galinha”?, foi encontrada: é a galinha. Ou melhor, uma proteína da galinha.

Há muito tempo os cientistas acreditavam que uma proteína encontrada na casca do ovo da galinha, a ovocledidina-17 (OC-17) exercia um papel fundamental na formação do ovo. Resultados de estudos em laboratório mostraram que a proteína influenciava a transformação do carbonato de cálcio em cristais de cálcio. De que forma isso acontecia, no entanto, ninguém sabia.

Agora, os pesquisadores britânicos utilizaram um supercomputador para criar simulações que mostram exatamente qual é o papel da proteína. A OC-17 se une a superfícies amorfas de carbonato de cálcio dentro da galinha e estimula a formação de cristais de cálcio. Esses cristais vão se juntando até formarem toda a casca do ovo.

"Essa descoberta é interessante no sentido de explicar que a galinha propriamente dita passou a existir antes da formação do ovo calcificado, de casca dura", diz o chefe do Departamento de Biologia Animal da Unicamp, João Vasconcellos Neto. Ele explica que o ovo, enquanto forma embrionária envolta ou não por uma estrutura de proteção, existe há muito tempo. “Na escala evolutiva, as aves derivam dos répteis e eles já colocavam ovos muito antes da existência de qualquer galinha”. Ele lembra que existem muitos insetos e anfíbios que também colocam ovos.

Cientistas criam mosquitos imunes à malária

Revista Veja
A descoberta pode tornar possível a erradicação da doença, que mata um milhão de pessoas por ano
Todos os anos, um milhão de pessoas, a maioria crianças, morrem por causa da malária — uma infecção parasítica transmitida por um mosquito. Mas, no futuro, esses números podem reduzir drasticamente, até a erradicação total da doença. Pesquisadores americanos da Universidade do Arizona, EUA, criaram um mosquito imune a malária. Ou seja, eles não são infectados e por isso não conseguem infectar seres humanos.

Para que a malária se espalhe, o mosquito fêmea da espécie Anopheles precisa ingerir o parasita Plasmodium sugando o sangue de uma pessoa ou animal já infectados. Uma vez dentro do mosquito, o parasita passa por duas semanas de maturação, saindo da região central do corpo do inseto para a glândula salivar. Aí sim, o parasita está pronto para ser espalhado para outros hospedeiros humanos em novas picadas.

Felizmente para os humanos, os mosquitos da malária raramente sobrevivem mais do que duas semanas. Portanto, se os pesquisadores conseguissem reduzir o tempo de vida do inseto, o impacto na transmissão do parasita seria enorme.

A equipe americana desenvolveu um código genético que atua como “interruptor” molecular do controle de funções metabólicas nas células do inseto. Os cientistas inseriram o gene num mosquito para que o interruptor estivesse sempre aceso e provocasse a atividade permanente de uma enzima, chamada Akt, que funciona como mensageira em várias funções metabólicas, incluindo o desenvolvimento da larva, a resposta imunológica e a duração do ciclo de vida.

Em seguida, a equipe produziu um mosquito que expressa um alto nível da enzima Akt, e descobriram que a variante transgênica no inseto, além de viver menos do que duas semanas — aproximadamente 11 dias — é imune ao parasita Plasmodium.

Durante anos, várias equipes tentaram criar mosquitos modificados geneticamente que não infectariam seres humanos. Mas os esforços haviam fracassado porque os insetos não eram 100% imunes e ainda podiam – em números menores – transmitir o parasita. A nova pesquisa parece oferecer potencialmente um novo método para eliminar a doença.

A intenção é que o sistema imunológico do inseto esteja sempre combatendo o parasita e que a enzima ajude a reduzir seu ciclo de vida. Isto é possível porque os mosquitos só são capazes de transmitir a doença quando estão próximos de morrer. Na vida silvestre, os mosquitos vivem em média duas semanas e só as fêmeas mais velhas são capazes de propagar o parasita por meio de picadas.

Michel Riehle, um dos autores da pesquisa, disse que se o ciclo de vida foi reduzido, o mesmo poderia acontecer com o numero de infecções. Para comprovar a tese, os cientistas alimentaram com sangue infectado de malária a nova geração de mosquitos modificados e notaram que o parasita Plasmodium não contagiou nenhum inseto envolvido no estudo. “Ficamos surpresos”, disse Riehle. “Esperávamos ver algum efeito na taxa de crescimento dos mosquitos, na duração do ciclo de vida ou sua suscetibilidade ao parasita, mas foi extraordinário observar que nosso modelo bloqueou completamente o processo de infecção.”

A descoberta é importante porque basta um único parasita para tornar o mosquito transmissor da malária — mesmo que apenas um Plasmodium sobreviva, ele pode se reproduzir aos milhares dentro dos mosquitos. A equipe ainda não sabe como a malária está morrendo dentro do inseto, mas está investigando, uma vez que a informação pode ser usada para produzir mosquitos ainda mais resistentes ao parasita.

Fora do laboratório, para que os mosquitos transgênicos possam ser realmente eficientes contra a malária, os insetos terão que vencer a seleção natural até substituir aqueles que a transmitem. E isso não é tarefa nada fácil. Para isso, os cientistas terão que desenvolver alguma característica ao mosquito modificado, que ofereça uma vantagem de sobrevivência em relação aos mosquitos transmissores.

Uma das ideias é liberar os insetos modificados em regiões onde a malária é endêmica e avaliar, durante várias gerações, se a resistência à infecção poderá se estender a toda a população de mosquitos. Serão vários anos de investigação para comprovar se os insetos podem ser liberados sem consequências para o meio ambiente. Ainda assim, os especialistas crêem que com o lento avanço das pesquisas para desenvolver uma vacina, a possibilidade de erradicar a malária no inseto que a transmite ainda é uma possibilidade mais real do que a de erradicar o parasita Plasmodium.

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