sexta-feira, 23 de abril de 2010

Entrevista com Lucio - capital da Seleção Brasileira na copa de 2010

Qual é o segredo da defesa da Inter?
O nosso entrosamento, que vem com os treinos, e mais a amizade que temos fora do campo. Nós nos conhecemos bem, e isso ajuda bastante.

E esse entrosamento é levado para a seleção?
Ah sim, claro. Lá principalmente esse é um ponto decisivo para nós. Nos conhecemos melhor. Dessa forma, conseguimos um bom padrão de jogo e as vitórias acontecem. Nos últimos anos, a defesa brasileira tem melhorado bastante nas competições.

Houve alguma estratégia para marcar o Messi?
Até que não fizemos nenhuma grande armação, porque o grupo do Barcelona é muito forte. Se nos preocuparmos somente com o Messi, ainda sobram o Ibrahimovic, o Pedro, o Xavi, o Daniel Alves. Não temos o privilégio de marcar só o Messi. Na partida de terça-feira, foi fundamental a dedicação geral do grupo, porque todos marcavam. Quando um de nós não tinha a quem marcar diretamente, partia para a cobertura de um companheiro. A fórmula foi dedicação e superação de todos dentro de campo.

Qual atacante mais trabalho deu a você?
Vários já me deram muitos problemas. Mas ultimamente os piores foram Drogba (do Chelsea) e Ibrahimovic e Messi (ambos do Barcelona). Todos desequilibram, são os mais fortes que já enfrentei.

Às vezes parece que você fica muito irritado dentro de campo…
É que em muitas situações o lance exige esforço máximo, então não tem como deixar de fazer careta. Mas não fico bravo não. Dentro do campo conversamos muito, não ocorre qualquer problema entre a gente nem com o adversário. Eu jogo limpo, na bola, e me esforço muito.
Num lance do jogo de terça, você caiu e reclamou de dor no ombro. Algum problema?
Não. Tive uma pequena lesão no tendão, nada sério. Já está melhor com o tratamento. Foi só uma pancada, nada que preocupe.

Quais são as diferenças entre as seleções de 2002 e 2006?
Em 2002, a seleção tinha de especial o entrosamento. Todos tinham o mesmo pensamento de vencer, o mesmo empenho e dedicação. Essa força foi fundamental para ganhar, e com o toque especial da mão do treinador, que tinha o grupo bem formado e fechado. Em 2006, infelizmente, não conseguimos tudo isso. Houve muita badalação, a expectativa era muito grande e havia o favoritismo total. Acredito que ali, naquele momento, não soubemos controlar e canalizar tudo isso para o lado positivo. Infelizmente, fomos desclassificados. Como não ganhamos, só se procuram os pontos negativos, mesmo com os jogadores de qualidade que tínhamos.

E agora, em 2010?
Esse grupo também tem os pés no chão e o desejo muito grande de ganhar. Também tem humildade. Todos se sacrificam e se doam pelo objetivo. Essa seleção mostrou isso na Copa América, na Copa das Confederações, nas Eliminatórias, a cada jogo. Acredito que esse é o caminho a ser seguido, e assim temos mais chance de chegar ao título.

Você já se imaginou levantando a taça?
É uma situação complicada ficar toda hora pensando assim, mas sonho muito com isso. É meu objetivo e do grupo também. Não penso apenas em mim. Sei que seria o destaque naquele momento, como capitão, levantando a Copa, mas seria a vitória do grupo e não apenas a individual. Seria o reconhecimento do sacrifício de todos, o sonho dos jogadores, das famílias e da torcida brasileira. Mas a caminhada é longa.

Você também já pensou que pode não dar certo?
Claro. Temos de ver sob esta perspectiva também, porque na Copa tudo pode acontecer. Há outras seleções com o mesmo espírito. Sabemos das possibilidades e o principal é entrar em campo e deixar 110% de você lá dentro, a cada jogo. A cada partida é preciso fazer o melhor; fazer o que for possível, isso é fundamental. Em caso de derrota, tendo este comportamento dentro do campo, a aceitação dos jogadores e também da torcida é maior, porque todos sabem que entramos em campo para vencer e fizemos de tudo. Não pode faltar empenho.

Você já disse que jogou machucado em 2002. Jogador tem dor sempre?
Se um atleta for esperar para jogar ou treinar quando estiver somente 100% e sem dor, vai jogar poucas partidas por ano. Sempre tem um problema aqui e outro ali, não tem jeito. Tem de fazer tratamento durante os jogos, depois dos jogos… É assim mesmo: tem de se sacrificar e se doar muito. E não é só no futebol, é em todo esporte de alta performance.

E não dá medo de, faltando tão pouco para a Copa, acontecer uma lesão?
Temos de entrar em campo da mesma forma como fazemos em todos os jogos. Se mudar um pouco a atitude, se quiser se proteger um pouco mais, pode se prejudicar. Se disputar uma bola mais devagar, entrar numa jogada com excesso de cuidado, pode ter uma lesão, sim. Peço proteção a Deus e trabalho diariamente no fortalecimento da musculatura, para o corpo aguentar bem a dureza dos jogos. Mas sempre jogo firme e da mesma maneira.
(Por Silvio Nascimento

Nenhum comentário:

Postar um comentário