terça-feira, 20 de abril de 2010

Livro de Lewis Carroll foi um dos grandes precursores do modernismo


O filme de Tim Burton é o melhor convite dos últimos tempos para que novos leitores fiquem “mais e mais curiosos” (parafraseando o que diz Alice depois de comer o bolo que a faz crescer) e descubram um dos grandes clássicos da literatura – que na verdade são dois. O reverendo inglês Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898), o homem por trás do pseudônimo Lewis Carroll, publicou-os com sucesso imediato em 1865 e 1871, respectivamente: “Alice’s adventures in Wonderland”, mais conhecido como “Alice in Wonderland” ou “Alice no país das maravilhas”, e sua continuação “Through the looking glass”, ou “Através do espelho”.

O favor que Burton faz a Carroll não se deve à fidelidade ao texto, que o diretor admite não ter buscado. Para começar, sua Alice, de 19 anos, é bem mais velha que a criança original – o que é confortável em nossos tempos de vigilância contra a pedofilia, suspeita da qual Dodgson, que gostava de desenhar e fotografar meninas em poses sensuais, nunca se livrou, embora as evidências apontem para paixões platônicas. A organização em episódios dos livros também foi trocada por uma trama mais amarrada.
Mesmo assim, com sua atração pelo bizarro, Burton pode ter restituído a Alice o humor perturbador e às vezes sombrio que muitas décadas de leituras bem-comportadas e infantilizantes – sobretudo a do longa-metragem de animação da Disney, de 1951 – procuraram atenuar.
No primeiro livro, as aventuras da protagonista num mundo onírico, cheio de humor nonsense e personagens dúbios ou francamente hostis, começam quando ela entra numa toca de coelho. No segundo, Alice atravessa um espelho. Há no filme de Burton, embaralhados, elementos das duas histórias. A missão que devolverá Alice a seu mundo – matar o monstruoso Jabberwocky – é inspirada no poema de mesmo nome que ela encontra no segundo volume, dentro de um livro que, escrito ao contrário, precisa ser lido diante do espelho.
Inspiradas nas histórias orais que Dodgson improvisava para uma amiguinha real, Alice Liddell, de 10 anos, as aventuras de Alice são uma das obras capitais da literatura infantil, com tradução para 125 línguas. Mas são mais do que isso: a fúria com que seu autor, matemático de prestígio, empacotou ali paradoxos, charadas, jogos de palavras e neologismos garantiu-lhes um prestígio talvez até maior com os leitores adultos. James Joyce e Jorge Luis Borges estão entre os grandes escritores influenciados por Carroll, que, sob muitos aspectos, foi o maior precursor do modernismo a escrever no século 19.
Veja infográfico na cinegrafia de Alice
http://images.ig.com.br/infografico/alicemaravilhas/index.html

20/04 - 09:01 - Sérgio Rodrigues, colunista do iG

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