sábado, 24 de julho de 2010

Havia mamutes no Brasil?

Revista Época - por Peter Moon
A descoberta em Rondônia do enorme dente molar de um elefante extinto levanta a possibilidade dos mamutes terem habitado a América do Sul

Um pouco de história

A possível descoberta de elefantes (ou mamutes) na América do Sul é um evento comparável ao achado dos primeiros fósseis de mamutes e mastodontes. A primeira menção de um elefante congelado ou mamute, como era chamado pelas tribos da Sibéria, foi feita pelo explorador holandês Eberhard Ysbrants Ides (1657-1708). Ides teria avistado uma carcaça de mamute enterrada no permafrost, o solo permanentemente congelado da Sibéria, em 1692, durante sua viagem de três anos até Pequim, acompanhando o embaixador russo indicado pelo czar Pedro, o Grande.
No século XVIII, diversos fósseis de mamutes foram achados na Sibéria, e alguns foram parar nos primeiros museus de história natural, como o de Paris. Foi lá que o grande anatomista barão Georges Cuvier (1769-1832), considerado o pai da paleontologia, revelou a identidade dos fósseis siberianos. Cuvier percebeu que pertenciam a uma espécie de elefante diferente das vivas, a africana e a asiática. No dia 15 do Germinal do ano IV do calendário da Revolução Francesa (ou 4 de abril de 1796), Cuvier leu em público o seu estudo intitulado Les espèces d’éléphants fossiles comparées aux espèces vivantes (as espécies de elefantes fósseis comparadas às espécies viventes), onde afirmou que os mamutes diferiam do elefante tanto quanto o cachorro difere do chacal e da hiena. Assim como o cachorro tolera o frio do norte, enquanto chacal e a hiena vivem nos trópicos, poderia ter acontecido o mesmo com aqueles elefantes peludos, os mamutes extintos.
Foi Cuvier também quem identificou os mastodontes americanos. Em 1739, nas barrancas do rio Ohio (que fazia parte da colônia do Canadá e hoje pertence ao estado americano do Kentucky), tropas do comandante francês Barão Charles de Lougueuil encontraram ossos enormes, incluindo uma presa, um fêmur e três molares. Os restos daquele que ficaria conhecido como o “animal de Ohio” foram enviados ao Gabinete do Rei (o futuro Museu de História Natural), em Paris. A primeira tentativa de identificação foi feita em 1762, por Louis Jean Marie Daubenton (1716-1800). Pautado em uma minuciosa análise de anatomia comparada, Cuvier anunciou, em 1806, que aquele animal era uma outra espécie extinta de elefante, a qual deu o nome de mastodonte.
Mais de 200 anos após Cuvier apresentar os mamutes e os mastodontes ao mundo, eis que surge a possibilidade da existência de uma nova espécie desconhecida de elefantes. E logo na América do Sul, onde se acreditava que aqueles paquidermes nunca haviam pisado – apenas seus primos distantes, os mastodontes.

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