sexta-feira, 14 de maio de 2010

O designer das pistas

Revista Veja
O alemão Hermann Tilke projetou oito dos dezenove circuitos da Fórmula 1. Sua tarefa é tornar as provas mais emocionantes e seguras

Durante a breve aposentadoria do heptacampeão mundial Mi-chael Schumacher, que neste fim de semana volta às pistas após três anos, a Fórmula 1 promoveu a consagração de outro alemão que, a exemplo de Schumacher, se tornou referência no esporte. Ao contrário do compatriota, Hermann Tilke não ficou famoso por acelerar nas curvas, mas sim por desenhá-las. Nestes três anos, o arquiteto Tilke projetou quatro novos circuitos. No total, ele é o responsável por oito dos dezenove circuitos de grandes prêmios da temporada deste ano da Fórmula 1 – Barein, Malásia, China, Turquia, Europa (Valência), Cingapura, Coreia do Sul e Abu Dhabi. Ele também reformou outras três pistas, nas quais ocorrerão as corridas da Alemanha, Espanha e Itália. Desde 1997, quando seu primeiro autódromo sediou uma prova oficial, todos os novos circuitos que integraram o calendário da Fórmula 1 têm a assinatura de Tilke. Essa preferência deve-se ao fato de os projetos do arquiteto oferecerem corridas seguras e emocionantes – e, sobretudo, a suas boas relações de amizade com o inglês Bernie Ecclestone, o mandachuva da Fórmula 1.
Os oito "tilkódromos", como são chamados, têm várias características em comum. Circuitos tradicionais, como Spa-Francorchamps, na Bélgica, e Suzuka, no Japão, são conhecidos pelas curvas sinuosas e de alta velocidade. Já as pistas de Tilke apresentam quase sempre duas longas retas, precedidas de curvas fechadas, de baixa velocidade. Essas peculiaridades atendem à atual orientação dos organizadores de incentivar ao máximo as ultrapassagens, como forma de tornar a corrida vibrante do começo ao fim. "Os circuitos da Fórmula 1 não podem apenas satisfazer a vontade dos pilotos. Eles têm de atender aos anseios do público", disse Tilke a VEJA. Para os pilotos, em contrapartida, extensos retões e freadas fortes tornam as corridas um tanto monótonas. "Pilotos gostam de curvas de alta velocidade. As curvas nas quais é preciso praticamente parar o carro podem se tornar chatas", diz Luciano Burti, piloto de Stock Car e comentarista de Fórmula 1.
Apesar das ressalvas, existe um consenso entre os pilotos sobre o autódromo de Istambul, na Turquia (veja o quadro ao lado), criado por Hermann e que estreou na Fórmula 1 em 2005. O alemão desenvolveu ali um dos melhores circuitos do campeonato e uma das curvas mais desafiadoras: a de número 8, uma junção de quatro curvas em apenas uma. "Istambul é top. A curva 8 é uma das mais espetaculares do ano", diz Felipe Massa, piloto da Ferrari e três vezes ganhador do GP turco. Um fator determinante no design dos circuitos atuais é a segurança. Após o acidente fatal de Ayrton Senna, em 1994, no circuito de Imola, na Itália, a Federação Internacional de Automobilismo reconsiderou o formato dos circuitos da época. As curvas de altíssima velocidade e com pouca área de escape foram reformadas e se transformaram em chicanes, série de curvas que formam um S (algumas delas reformadas pelo próprio Tilke).
Ex-candidato a piloto, Hermann inau-gurou seu escritório de arquitetura em Aachen no início da década de 80, enquanto ainda tentava a sorte com o volante nas mãos. Seu primeiro grande projeto foi concluído em 1996, quando reconstruiu totalmente o circuito Österreichring, que recebeu o GP da Áustria de 1997 a 2003. Tilke projetou e construiu mais de cinquenta autódromos por todo o mundo e para todas as categorias. Os críticos de seu trabalho torcem o nariz a esse monopólio da produção de circuitos. Tilke se defende. "Acho que cometemos menos erros que os concorrentes, por nossa experiência no ramo", diz. Os pilotos brasileiros gostam de seu trabalho. "Se aparecer alguém melhor do que ele, acho bom variar. Mas, por enquanto, essa pessoa não existe", diz Rubens Barrichello, piloto da Williams.

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