sexta-feira, 21 de maio de 2010

Evento debate o uso medicinal da maconha

Revista Época
Liberdade de expressão, segurança pública e uso medicinal da planta serão debatidos por diversas entidades

Segundo estimativa das Organizações das Nações Unidas, cerca de 162 milhões de pessoas ao redor do planeta consomem maconha ao menos uma vez por ano. Proibida no Brasil desde 1932, por decreto do presidente Getúlio Vargas, o cultivo, comércio e consumo das plantas do gênero Cannabis foram transformados em crime, havendo também severas restrições ao seu uso como medicamento. Visando debater sobre liberdade de expressão, cultivo como alternativa ao tráfico, uso medicinal, livre arbítrio e direito de uso, a Matilha Cultural, em parceria com o grupo Growroom promove, nesta quarta-feira (19/05) das 15h às 19h, o ciclo Abrindo o Debate da Cannabis no Brasil.

As bancas serão formadas por profissionais de diversas áreas o que, segundo Sérgio Vidal, organizador ligado à Matilha Cultural, atesta a intenção de reunir pessoas com vários discursos e diferentes pontos de vista para uma conversa séria. “A ideia é justamente não ter só ativistas, mas também pessoas ligadas à academia, ou conselhos sobre drogas. Por exemplo, teremos uma psicóloga da USP e autora de um livro sobre o tráfico. Além de Renato Filez, formado em biomedicina com doutorando em farmacologia”, enumera Vidal. O evento também contará com a participação de advogados, estudiosos e dirigentes ligados a órgãos como o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (Ibccrim), do Conselho Nacional de Políticas contra Drogas (Conad), da ONG Viva Rio e do coletivo Marcha da Maconha.

Um dos assuntos a ser destacado é a criação da Agência Brasileira da Cannabis Medicinal, que atuaria como um órgão regulador, possibilitando a implantação de tratamentos medicinais feitos a base da maconha. “É uma recomendação da ONU, segundo a qual todo país que queira usar a Cannabis como remédio precisa ter uma agência para fazer a regulamentação sobre distribuição e produção da droga. Outra função dela seria garantir que o paciente use uma droga de qualidade, para ele poder se tratar”, explica William Lantelme, do grupo Growroom. Em países como Inglaterra, Holanda e Canadá a droga é utilizada para amenizar efeitos da quimioterapia no tratamento de diversos tipos de câncer e diminuir a dor de pacientes com doenças crônicas, seja na forma de spray, cápsula ou da planta in natura. No Brasil, isso ainda não é possível por limitações da legislação vigente. Mesmo reprimida, as espécies de Cannabis são plantadas no mundo há mais de 15 mil anos e o narcotráfico tornou-se um dos maiores desafios a ser enfrentado por muitos governos. A diretora da Matilha Cultural, Rebeca Lerer, afirma que o ciclo servirá para “abrir o debate, pois a política brasileira está defasada e a sociedade sofre os efeitos da violência provocada pela criminalização da Cannabis. Essa discussão, na realidade, é para debater o antiproibicionismo, que seria o uso regulamentado da droga. É também um debate sobre a segurança pública e está relacionado aos direitos civis e da sociedade. A intenção é criar um espaço neutro tanto para o público que vai assistir pela internet, quanto o que estará presente”. Os sites http://www.matilhacultural.com.br/ e http://growroom.net/ transmitirão o evento em tempo real. A partir das 19h30 haverá ainda a exibição dos filmes O Sindicato – o negócio por trás do barato (2007) e Esperando para tragar – A vida de pacientes não-regulamentados de Cannabis (2005). O ciclo de palestras precede a Marcha da Maconha, que será realizada neste sábado (23), a partir das 14h. A caminhada acontece no Parque do Ibirapuera e pede mudanças na legislação, especialmente em relação ao consumo de drogas ilícitas. O evento ocorre desde 2008 e reuniu uma média de 200 pessoas por edição. Marco Magri, um dos organizadores, atribui o baixo número de participantes ao alto contigente de policiais destacado para acompanhar o protesto. A manifestação, que seria realizada inicialmente em fevereiro deste ano, foi reprimida pelo Ministério Público, sob alegação de que os manifestantes fariam o uso da droga durante o ato, como haviam combinado por meio de sites de relacionamento.

Confira a programação completa no site da Matilha Cultural
Abrindo o Debate da Cannabis no Brasil. Quarta-feira (19/05), das 15h às 21h30. Matilha Cultural: Rua Rêgo de Freitas, 542, tel. 3256-2636. Metrô República e Anhangabaú. Grátis

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